Donald Trump não poderá concorrer nas próximas eleições americanas. A legislação atual o impede de tentar um terceiro mandato. Salvo, claro, se quiser dar um golpe violento como o tentado em 6 de janeiro de 2021 ou mudar a Constituição e aprovar a vigésima oitava emenda. Mas, para isso, seria necessária a ratificação por três quartos das unidades da Federação, o que me parece extremamente difícil.

Partindo dessa premissa — de que ele não poderá buscar a reeleição —, o que o bilionário pretende com todos os absurdos que têm proposto e com o desarranjo geopolítico e comercial que vem patrocinando no mundo? Há algumas possíveis respostas para essa pergunta. Consigo pensar em duas: uma mais insana e outra mais lógica.

Comecemos pela mais insana, e isso porque a insanidade, dentro da cabeça de Trump, parece ter certa lógica. Seria o fato de o presidente americano imaginar que ainda está vivendo seu personagem no programa de televisão O Aprendiz. Aliás, nessa teatralização, o outro bilionário de seu governo, Elon Musk, estaria cumprindo o papel de dublê ou assistente de palco ao dizer para milhares de funcionários do governo: você está demitido.

Mas prefiro ficar com a resposta mais alinhada à lógica cartesiana — pelo menos do ponto de vista do observador, e não de Trump, é claro.

Como lhe restam quatro anos, ou menos, caso a razoabilidade recaia sobre as instituições americanas, o bilionário presidente parece ter pressa em atender a interesses de corporações ou segmentos econômicos que possam contribuir para aumentar sua já incontável fortuna. Fortuna essa, vale lembrar, herdada dos trambiques de seu pai na construção de moradias populares em Nova Iorque. O lançamento de sua criptomoeda, a ideia estapafúrdia e genocida de um resort em Gaza, o jogo com uma terceira guerra mundial de olho nos minerais da Ucrânia e o desejo pelas riquezas da Groenlândia são alguns sinais disso.

Ainda assim, não consigo identificar com clareza qual seria o objetivo final de Trump. Mas, se hoje sabemos como são feitos os sanduíches do McDonald’s e as salsichas, e também temos noção de como funciona o jogo do poder, podemos imaginar que há algo maior entre o céu e a terra sendo tramado pelo presidente americano, que vai muito além de um simples projeto de nova ordem mundial.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político