O blefe especulativo de Donald Trump deu ruim – de novo. Mais uma vez, o bilionário e dublê de presidente teve que recuar em sua tentativa alucinada de promover a substituição de importações em solo norte-americano. Desta vez, a derrota foi para a China, comandada pelo Partido Comunista.

Ou seja, no jogo multilateral, o “liberal do meu pirão primeiro” quis mandar às favas o conserto mundial construído pelo próprio sistema capitalista — e entrou pelo cano. Justo contra os comunistas. Tomou um nó do Xi e teve que ficar de joelhos, implorando ao telefone por uma saída que lhe permitisse recuar com menos arranhões na imagem. Mas o estrago já estava feito.

A irresponsabilidade de Trump – e daqueles que pensam como ele – pune quem mais precisa de políticas públicas. Quem vai pagar o pato pelas incertezas no mercado global, pela instabilidade econômica, pela falta de previsibilidade e de segurança jurídica são os mais pobres. Inclusive nos Estados Unidos. Sim, porque lá eles também existem — quer os deslumbrados admitam ou não.

E aqui entra o cálculo eleitoral de Trump. Após a pressão dos setores de eletrônicos e automóveis, seus apoiadores internos perceberam o tamanho da encrenca que era o tarifaço. A inflação subir nos EUA por conta do repasse ao consumidor era só questão de tempo. Tempo que os candidatos republicanos nas eleições de meio de mandato não têm.

Foram esses candidatos – em especial a deputados e senadores – que mais pressionaram Trump a recuar. Acompanhados de seus financiadores de campanha, muitos deles com negócios profundamente atrelados à mundialização da produção, convenceram o bilionário de que suas medidas fanfarrônicas precisavam ser canceladas. Como egocêntrico que é, precisava de uma saída honrosa. A China concedeu. E foi uma derrota para o americano. Mesmo jogando no campo capitalista, o bilionário tomou um xeque do comunista.

Mas o que mais me impressiona, em mais essa patacoada de Trump, é ver a grande imprensa sem estampar esse episódio como um fracasso retumbante da fanfarronice trumpista. Não há outra forma de definir: Trump — e seu modo de governar — é sinônimo de fracasso. Com ele e com quem segue o seu modelo. O povo canadense entendeu isso e derrotou o candidato direitista em uma virada eleitoral nunca antes vista naquele país.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político