Após quase 40 anos, a Rede Globo resolveu colocar na telinha o remake de uma das novelas mais icônicas da história brasileira: Vale Tudo. Com uma trama urbana focada nas mazelas da sociedade contemporânea, a produção de 1988 deixou uma geração atônita com o desfecho da novela, mostrando o vilão fugindo do país na última cena, com todo dinheiro roubado em esquemas de corrupção (desculpem pelo spoiler, geração Z!).
Pois calhou que, justamente no momento em que a novela volta à baila, o Brasil experimenta uma nova “onda imigratória voluntária pero no mucho”. Não, leitores, não estamos falando daquele pessoal endividado que ficou arrotando que iria embora pra Portugal se Lula ganhasse, coitados. Esses continuam por aqui, meio calados, mas continuam em terras nacionais.
O caso em questão são as dezenas de fugitivos e foragidos da justiça que já saíram ou ameaçam sair do país para não enfrentarem os tribunais e responderem por seus crimes. Começou com 70 foragidos da tentativa de golpe de estado e assassinato do presidente eleito, vice e ministros do STF. Essa gente, muito corajosa (nas redes sociais), quando sentiu o cinto apertar, correu pra Argentina e pros Estados Unidos. Mostrando que, nem sempre o filho teu segue firme na luta, e que é preferível salvar o próprio derrière do que morrer pela pátria amada. Ao menos é assim que essa escumalha pensa.
Alguns já foram repatriados, ironicamente, por ordens de Milei e Trump. Outros ainda transitam por aí, nas listas de procurados da Interpol. Criminosos. Foragidos. É preciso deixar bem claro. Não é gente de bem com bíblia e batom. É uma ralé torpe, suja e perversa, que precisa ser punida com o rigor da lei, em um país que preza por suas leis e não é uma zona.
Agora, após a primeira corrente migratória dessa fauna exuberante, surge um segundo movimento na mesma direção. Puxados pela covardia de Eduardo Bolsonaro, que foi o primeiro a largar o barco e se mandar pros Estados Unidos, na sequência o sobrinho de Bolsonaro, Leo Índio, outro implicado no golpe de 8 de janeiro, escapou para a Argentina. Vamos às manchetes: “Desesperado com a possibilidade de prisão, Eduardo Bolsonaro foge para os EUA”; “Sobrinho de Bolsonaro foge para a Argentina e pede asilo a Milei”; “Fuga por terra ou com jatinho, Argentina ou EUA: investigadores traçam possíveis rotas de fuga de Bolsonaro em caso de prisão”.
Parece que viveremos no Brasil mais um daqueles casos históricos de líderes autoritários que depois de depenarem o país fogem pra viver no bem bom o resto de suas vidas. Foi assim no Haiti, com o sanguinário Papa Doc, foi assim em Uganda com o assassino Idi Amin e no Paraguai com o ditador Strossner, que foi até acusado de pedofilia. Nem nesse aspecto os tiranos brasileiros serão inéditos. Que farsa!
Diferente de Getúlio, Dilma e Lula, que ficaram no país para defender a honra após serem derrubados por golpes, a gentalha que roubava joias e relógios parece que vai arregar e fugir um a um. O desfecho da novela Vale Tudo nunca foi tão atual. Com os bandidos fugindo do país e dando uma gigantesca banana aos patriotas que ficam ouvindo Cazuza cantar: “Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim!”
Rafael Guedes é jornalista e analista político