há um dia
João Barbiero

A poucos meses de completar 70 anos, o governador de Santa Catarina Jorginho Melo apareceu nas redes sociais ostentando um porrete e inflamando seus seguidores à violência em um dos Estados que já ostenta números preocupantes na segurança. O quase septuagenário está jogando para uma plateia que cultua líderes idosos em busca da virilidade perdida, políticos imbrocháveis, incomíveis e, ao que tudo indica, imunes ao senso de ridículo. Velhotes como ele, que precisam, sobretudo, mostrar que ainda têm potência para governar. Tentam esconder atrás de procedimentos estéticos, apalpadas públicas em nádegas de primeiras-damas e na cara amarrada, a impotência de um governo que pouco tem a apresentar em seu ocaso.
Desta vez, usando de mais uma notícia distorcida, o governador envolve o MST para incitar a violência no campo, um fantasma que vez ou outra ressurge no estado. Nada de anormal em um lugar onde, ano após ano, empresários e fazendeiros são objeto de ações policiais contra o trabalho escravo. Operações que são abertamente combatidas por deputados federais bolsonaristas, como o ruralista de baixo clero Pezenti, e ignoradas por gente como Jorginho, que teve entre seus ancestrais senhores de escravos, como mostrou a Agência Pública, em seu Projeto Escravizadores, disponível na internet.
Enquanto isso, no mundo real, a situação da segurança em Santa Catarina inspira ações concretas para além de vídeos na internet. De acordo com o Observatório de Violência Contra a Mulher, os feminicídios aumentaram na ordem de 36% só entre 2024 e 2025. Mulheres sendo mortas aos montes. Nossas mães, filhas, esposas. Indefesas em um estado que as abandonou. Um estado de machões com porretes, que acham que podem bater e matar a bel prazer.
Mas as mazelas de segurança não acabam aí. De acordo com a OAB, existem já há uma década, mais de 320 células nazistas no estado. Será esse o grande legado dos governos bolsonaristas de Moisés-Jorginho em Santa Catarina? E o que faz o governador para desmantelar essa rede criminosa e terrorista? Gravou algum vídeo com um porrete na mão e uma cara enfezada? Ou está esperando que todos se armem e, mais tarde, se associem ao crime organizado colocando o estado de joelhos?
Impotente diante dos problemas reais do estado, Jorginho tem a oferecer aquilo que já se conhece: bolsas de estudo para milionários, escândalos na Saúde (Integra Saúde e mais algumas desgraças herdadas do seu parça Moisés), e outra série de ideias sem pé nem cabeça, que vão desde túneis submersos sob o Itajaí-Açu, carros voadores sobre o mar e, mais recentemente, bunkers para ciclones nas escolas. Ferramentas de distração para manter o cidadão entretido enquanto o governo coleciona fracassos.
Agora, diante do aquecimento da pauta de segurança após a chacina no Rio de Janeiro, Jorginho viu uma janela de oportunidade para radicalizar e mobilizar mais uma vez seu eleitorado de imbrocháveis truculentos. Saiu à procura de um tema e voltou a um comportamento já visitado por ele: brigar, fazer cara feia e arrumar confusão com o Governo Federal. Deve estar com tempo.
Enquanto os problemas se acumulam, Santa Catarina segue sem governo, sem entregas e obras importantes. Apenas gritaria e fake news. Pra terminar, o cidadão catarinense olha para 2026 e vê Carlos Bolsonaro chegando no colo de Jorginho. É de desanimar.
Tem horas que dá vontade de pegar num porrete mesmo.
Artigo assinando por João Barbiero
Comunicador e analista político.
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