Todo ponta-grossense foi atingido nos últimos dias pela falta de água. Porém, o que se vê é um amplo espetáculo de diversos atores da esfera pública, o que me faz lembrar de uma relação canibalística. Imagine a situação: um grupo canibal atua e pratica seu hábito. Um indivíduo vira presa e ninguém fala nada. Outro se torna vítima e não se dá importância. Mas no momento em que o grupo decide se alimentar da “moça do cafezinho”, todo mundo acha ruim, já que prejudica diretamente todo o grupo. Transportando essa história para a realidade princesina, ficamos com o questionamento: por que agora todos estão preocupados com a água? Ora, o racionamento está atingindo a todos, sem exceção, desde o bairro de periferia até as regiões mais abastadas – nestas nas quais comumente residem políticos, empresários e figuras influentes dos Campos Gerais, que agora sentem na pele o problema. Claro que todo dia uma notícia avisando sobre cortes no abastecimento causa revolta, mas vamos fazer uma beve retrospectiva. Em janeiro, segundo publicado pelo D’Ponta News, foram registrados seis cortes de água causados pelos mais diversos motivos (rompimento de rede, queda de energia e manutenções) e nas mais diferentes regiões (Guaragi, Jardim Bonsucesso, Vila Conceição, Jadim São Francisco, entre outras). No mês em questão não se ouviu um pronunciamento de autoridades sobre o assunto. Nenhuma figura pública achava a situação ruim. Agora em fevereiro, em que estamos passando por um rodízio de racionamento, todos querem um espaço para se pronunciar. É pedido de CPI por parte de alguns, vídeos nas redes sociais de outros e inúmeras outras ações – todas carregadas de demagogia. A diferença é que aqui todo mundo acha ruim, pois, assim como o ataque à moça do cafezinho, todos são prejudicados. No fim das contas, os cortes de água recentes estão sendo democráticos. Os questionamentos são válidos, é claro, e a Sanepar, que já se viu envolvida em denúncias de corrupção, deve ser cobrada tanto pela população quanto pela classe política. Aliás, importantíssimo que essa fiscalização venha de todos, visto que a empresa tem anunciado que os investimentos prometidos em obras irão resolver a situação. Só nos resta ver se o problema realmente será resolvido ou se teremos que esperar a moça do cafezinho ser atacada novamente.