Enquanto a casa que serviu de cenário para o filme Ainda Estou Aqui será transformada na Casa do Cinema Brasileiro, outro imóvel marcado pela história do país teve destino diferente. O antigo Presídio do Hipódromo, em São Paulo, usado nas gravações de ‘O Beijo da Mulher Aranha’ e conhecido por ser espaço de repressão durante a ditadura militar, foi vendido pelo governo paulista por R$ 11,1 milhões, segundo informações do Diarinho.
O terreno, de 4,4 mil metros quadrados, foi transferido em outubro de 2024 para o Fundo de Investimento Imobiliário do Estado de São Paulo (FIISP). A escritura aponta que o fundo, representado pela administradora fiduciária Singulare Corretora, tornou-se proprietário em junho de 2025.
A venda, no entanto, gerou polêmica. Uma avaliação feita pela consultoria imobiliária Binswanger estima que o metro quadrado da região valha entre R$ 5,8 mil e R$ 6,4 mil, o que colocaria o valor de mercado do imóvel em até R$ 27,8 milhões, mais que o dobro do arrecadado.
Histórico de repressão, o Hipódromo funcionou por oito décadas como posto policial, presídio político e unidade da Fundação CASA. Durante a ditadura, recebeu presos políticos como José Genoino, Nilmário Miranda, Eleonora Menicucci, Amelinha Teles e a cantora Rita Lee. Ex-presos relatam torturas, condições degradantes e a ligação do presídio ao Esquadrão da Morte.
Para familiares de vítimas e ex-presos, o espaço deveria ser transformado em lugar de memória, e não comercializado. “Esse local deveria ser um lugar de memória. Várias pessoas foram torturadas e mortas lá”, afirmou a psicanalista Maria Auxiliadora de Almeida de Cunha Arantes ao Diarinho.