Sexta-feira, 03 de Maio de 2024

Artigo: ‘Os desafios da Saúde para o presidente eleito’, por Everson Krum

2022-10-31 às 10:33

por Everson Krum

Passado o período eleitoral do segundo turno, onde tivemos ataques e discussões, troca de farpas e fake news e acusações, pouco se viu na campanha, a discussão e apresentação do que será feito na saúde pública e SUS, bem como na saúde complementar, filantrópicos e particulares que atuam em nosso país.

É papel da presidência da república, conduzir as políticas públicas e consequentemente o financiamento das ações em nível federal, estadual e municipal. É urgente que políticas públicas sejam amplamente discutidas, planejadas e informadas a todos os participantes do sistema.

Algumas ações são imediatas e imprescindíveis para o futuro de nossa nação. Após o pior da pandemia, temos represados os exames de diagnóstico e controle, consultas especializadas, os atendimentos de doenças crônicas não trasmissíveis e as cirurgias eletivas, tudo isso pressionando o sistema junto com a urgência e emergência. Uma lista rápida inclui inevitavelmente:
⁃ Reajuste da tabela SUS e novo modelo de financiamento da Saúde Pública
⁃ Piso salarial da enfermagem e outras profissões
⁃ Programa de interiorização de médicos
⁃ Tecnologia em Saúde e Inteligência artificial
⁃ Incorporação de novas tecnologias e produtos

A prioridade número 1, inadiável, é a atualização da tabela do SUS seguida da discussão sobre a mudança no modelo de remuneração de prestadores, inclusive este assunto foi plataforma de campanha de vários candidatos, e agora devemos cobrar.
Não dá para esperar mais, estamos na beira do precipício, quase perto da insolvência e fechamento de estabelecimentos de saúde.

Nenhuma atividade será de qualidade se não houver profissionais satisfeitos e bem remunerados. Durante a campanha política, foi discutido sobre pisos salariais de categorias, com a aprovação,sem ainda efetiva implantação, do piso da enfermagem, uma conquista histórica e merecida, que gerou grande mobilização parlamentar e que está próximo da solução orçamentária e financeira pedida pela Justiça. Outras categorias irão pressionar para aprovação, o que demandará intensa negociação política, procurando encontrar solução para este legítimo direito com capacidade de pagamento. Após os agradecimentos aos profissionais pelo trabalho na pandemia, chegou a hora da valorização financeira.

Outra discussão prioritária é em relação a interiorização de médicos, representados pelos programas Mias Médicos e Médicos pelo Brasil, que devem ser retomados ou reformados imediatamente, para que as dificuldades, reclamações e desassistência vistos atualmente, não somente em algumas cidades mas em todo o Brasil, sejam minimizados e quem sabe, resolvidos. A atenção básica, orientada por políticas nacionais, precisa muito de trabalho técnico e político para buscar a melhor solução, caso contrário, continuaremos tendo sobrecarga em UPAs, central de leitos e unidades de saúde sem falar na falta de profissionais para atender a população.

Como ferramentas modernas auxiliares ao atendimento em saúde, temos a exitosa experiência da Telemedicina, com grandes possibilidades de ampliação e modernização, incluindo a TeleSaúde e Teleatendimento, prontuário eletrônico integrado, sem falar na tecnologia de vanguarda que é a inteligência artificial aplicada a saúde. Já há exemplos promissores de atendimento digital, tanto na iniciativa privada quanto no serviço público, com ótimos resultados em rapidez e eficiência no atendimento. Podemos ter muitos ganhos na ampliação da assistência e pode ser feito em curto prazo. Além disso, a formação, o aprimoramento e capacitação dos profissionais de saúde, nas ações de TeleEducação, podem possibilitar importante avanço na qualidade dos serviços. A Saúde Digital é o caminho para o sucesso. É possível, tem que começar ou ampliar.

Também será necessário discutir um item que impacta tanto no SUS quanto na assistência por planos e operadoras de saude que é a incorporação de novas tecnologias, produtos e insumos, isto é, quais procedimentos, exames e medicamentos serão obrigatórios. Hoje há uma gama que não está no rol tanto do SUS quanto da Agência Nacional de Saúde – ANS – dificultando os atendimentos e tratamentos. Não é fácil encontrar o meio termo em relação a assistência e o custo, é desafiador e no caso de planos e operadoras, com impacto direto nas mensalidades.

Desta forma, esperamos que o presidente eleito seja sensível e esteja realmente interessado em resolver os principais problemas que afligem nossa população e sua saúde. O tempo urge, a hora é agora.


Everson Augusto Krum é doutor em Hematologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, foi vice-reitor da UEPG e é ex-diretor do HU-UEPG