Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024

Assalto em Araçatuba (SP) tem traços do ‘novo cangaço’; veja o que as cidades atacadas têm em comum

2021-08-31 às 11:15

Dezenas de homens fortemente armados com fuzis, coletes à prova de balas, carros blindados e usando pessoas como escudo humano, protagonizam cenas cinematográficas de roubos a bancos em cidades do interior. As cenas de terror, que muitas vezes terminaram em mortes, se tornaram frequentes no Brasil.

A última delas foi na madrugada de segunda-feira (30/08), em Araçatuba, no interior de São Paulo. Na ocorrência, que terminou com ao menos três pessoas mortas — dois moradores e um suspeito de participar do crime — contou até mesmo com a instalação de 40 explosivos com acionamento por meio de detectores de calor e movimento.

A ação, que começou por volta da meia-noite e terminou cerca de duas horas depois, teve o uso de drones, para monitorar a chegada da polícia, e veículos incendiados em rodovias para dificultar o acesso aos locais dos crimes.

Os bandidos invadiram duas agências em Araçatuba. Uma delas, que funciona como tesouraria regional, teve o cofre, no subterrâneo, invadido pelos assaltantes. Na segunda, os criminosos explodiram caixas eletrônicos. O valor levado pela quadrilha não foi informado pela polícia.

Mas como essas cidades são escolhidas pelos criminosos? Especialistas em Segurança Pública ouvidos pela BBC News Brasil explicam que diversos fatores são levados em conta pelas quadrilhas do “Novo Cangaço”.

Muito dinheiro e pouco policiamento

O primeiro deles é o efetivo e a estrutura policial da cidade e região onde será feito o ataque. De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, dificilmente um roubo como esse será feito numa metrópole, como São Paulo ou Rio de Janeiro.

Isso porque as grandes cidades possuem batalhões de elite, preparados para atuar em situações como essa, por exemplo, as Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota, em São Paulo) e o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope, no Rio).

Os assaltantes também procuram locais onde estão armazenadas grandes quantidades de dinheiro, como transportadoras de valores ou agências estratégicas, como a atacada em Araraquara, que servia de tesouraria para toda a região.

Analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Guaracy Mingardi disse que esse crime, conhecido como “Novo Cangaço”, começou no Nordeste, com bandidos roubando regiões com mineradoras.

“Eles atacavam a cidade, prendiam a polícia e iam embora. Isso acontecia em cidades pequenas, distantes de tudo. Depois, vieram para atacar transportadoras de valores no Sudeste e no Paraguai. Depois de certo tempo, o custo-benefício desses assaltos passou a não valer mais a pena porque as empresas aumentaram a segurança”, disse Mingardi.

Outro ponto analisado pelas quadrilhas para definir os alvos dos ataques são as rotas de fuga. Geralmente são cidades de porte médio, com três ou quatro grandes rodovias usadas como rotas de fuga. No roubo em Araçatuba, os criminosos abandonaram os carros blindados usados no crime em uma área rural da cidade e continuaram a fuga em outros veículos.