Quarta-feira, 05 de Fevereiro de 2025

D’P Entrevista: Gleisi Hoffmann – O braço direito de Lula no Paraná

2023-01-01 às 11:41
Foto: Ricardo Stuckert

Em entrevista exclusiva, a deputada federal e presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, relembra os dias de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, avalia a gestão do atual presidente Jair Bolsonaro, destaca as prioridades do novo governo do petista e discute os desafios dos próximos quatro anos

por Melissa Eichelbaun

Filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde 1989, a deputada federal Gleisi Hoffmann, de 57 anos, iniciou a sua trajetória política no movimento estudantil. Formada em Direito, com especialização em Gestão de Organizações Públicas e Administração Financeira, a paranaense de Curitiba já foi secretária de Estado no Mato Grosso do Sul e no município de Londrina.

Em 2002, a parlamentar integrou a equipe de transição do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já no ano de 2003, assumiu a Diretoria Financeira da Itaipu Binacional. Nos anos de 2008 e 2009, presidiu o diretório estadual do PT no Paraná e em 2010 foi eleita senadora pelo estado, tornando-se a primeira mulher eleita para ocupar uma vaga no Senado pelo Paraná, com mais de 3 milhões de votos.

Em junho de 2011, a então presidente Dilma Rousseff (PT) convidou a paranaense para assumir a chefia da Casa Civil, função que desempenhou até fevereiro de 2014. Três anos depois, em fevereiro de 2017, liderou a bancada do PT no Senado e foi eleita presidente nacional da sigla, cargo que ocupa até hoje.

Este ano, Gleisi se reelegeu deputada federal pelo Paraná, com mais de 260 mil votos. Braço direito do presidente petista, ela também foi indicada para iniciar os contatos com políticos e civis para a transição do terceiro governo Lula, que se iniciará em janeiro de 2023. Na coordenação da articulação política do novo governo, ela tem acompanhado todas as agendas oficiais de Lula.

Na entrevista a seguir, Gleisi relembra os dias de campanha presidencial, reflete sobre o bolsonarismo, destaca as prioridades do próximo governo Lula, avalia a gestão do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) e discute os desafios dos próximos quatro anos.

Lula saiu vencedor das últimas eleições presidenciais. A senhora participou ativamente da campanha. Como a senhora avalia essa caminhada?

Eu avalio uma caminhada muito positiva. Depois de tudo o que nós passamos e de tudo a que fomos submetidos, conseguimos vencer uma eleição. O nosso principal desafio foi mostrar que o Brasil tinha esperança, que poderíamos fazer algo melhor. Eu acho que agora esse é o nosso principal dever e a nossa principal responsabilidade.

A vitória de Lula sobre Bolsonaro foi apertada. Apesar da derrota, o bolsonarismo deve seguir forte no Brasil. O que explica que cerca de metade da população votante tenha se encantado pelo bolsonarismo?

Primeiro nós precisamos entender que essa metade da população que votou em Bolsonaro não é só porque acredita no bolsonarismo. Uma grande parte dela foi levada por promessas, inclusive por um gasto muito grande do governo federal em campanha. Aliás, um gasto nunca antes visto na nossa história democrática. Foi muito dinheiro público, muito uso da máquina pública e muito poder exercido a favor de Bolsonaro nessas eleições. E, claro, núcleos de extrema direita que tomaram conta do Brasil depois do lava-jatismo, depois da perseguição que fizeram ao PT, das mentiras, das fake news [notícias falsas] disseminadas na internet. Nós temos que vencer esse fenômeno, que não é apenas no Brasil, é um fenômeno mundial, e eu acho que estamos começando a reverter. Ainda terá muita luta pela frente.

Os eleitores mais fervorosos de Bolsonaro têm questionado com insistência o resultado das eleições e a confiabilidade das urnas. Na visão da senhora, há motivos para se desconfiar das urnas, por menores que sejam?

Esses pedidos de intervenção são de uma parcela muito minoritária da sociedade brasileira. Eles se colocam em frente aos quartéis, em frente às instituições militares, mas não representam a maioria. A mesma tentativa de bloquear estradas, de criar situações logo depois das eleições, não teve efeito. As pessoas sabem que a economia precisar girar, que a vida precisa acontecer, e ninguém quer ficar refém de um processo político de ódio e radicalização. Nós vamos vencer isso.

Segundo o que a senhora pode observar de sua proximidade com Lula, quais devem ser as prioridades do novo governo dele?

As prioridades de Lula são claras. É com o povo pobre e o trabalhador do Brasil. Foi por isso que ele foi candidato novamente, mesmo com os seus 76 anos, mesmo tendo já sido o melhor presidente da história desse país, avaliado como ótimo e bom presidente por mais de 87% da população quando deixou a presidência da República em 2010. Ele sabe o que pode fazer, o que pode melhorar na vida do povo, trazendo desenvolvimento econômico e social e dando dignidade às pessoas.

De modo geral, como a senhora avalia a administração Bolsonaro, que está deixando o poder agora?

A administração do Bolsonaro foi muito ruim para o país e aprofundou ainda mais as diferenças sociais que nós temos. Colocou o ódio como instrumento da política, tentou armar a população. Não deixou um saldo positivo. Eu penso que nós temos a responsabilidade – não só o presidente Lula, mas todo o campo que atuou com ele – de consertar isso, de trazer participação para o Brasil, trazer desenvolvimento, trazer inclusão e trazer o que Lula sempre soube fazer, que é o jogo de ganha-ganha, em que todos ganharam, em que todos melhoraram de vida.

A nova configuração do Congresso é muito mais conservadora e de direita. A senhora acredita que isso possa se tornar um problema para a governabilidade de Lula?

O Congresso Nacional é resultado do voto popular e não acho que esteja mais conservador ou de direta do que foi esse que está se encerrando agora. Ele ainda é muito conservador e tem muita direita, mas nós temos que dialogar com o Congresso como representante do povo. Afinal, todos os deputados e senadores que estão ali foram eleitos e eleitas pelo voto popular e cabe ao Poder Executivo, ao presidente da República, ter habilidade política para conversar com o Congresso e enfrentar as questões que são essenciais para a vida do povo. Gerar emprego, gerar renda, tirar as pessoas da miséria, dar perspectivas e oportunidades às pessoas. E é isso que Lula sabe fazer e que ele vai fazer.

Como a senhora acredita que deve ser a relação do governo Lula com o estado do Paraná? Como, enfim, o governo Lula deve enxergar o Paraná?

Lula vai tratar todos os estados de forma republicana. Os governadores eleitos foram eleitos pelo voto popular e isso dá a Lula as condições para ter respeito por esses governadores e para ter respeito pelos estados. Isso não quer dizer que ele vai concordar com todas as ideias que os governadores professam, mas nós vamos levar desenvolvimento, investimento e condição para que todos os estados possam ter dignidade, e isso é um compromisso do presidente Lula. E vai ser o mesmo com o estado do Paraná, como já fizemos nas outras vezes que governamos o Brasil.

A senhora foi eleita deputada federal, mas teve uma importante atuação na campanha de Lula. A senhora deve assumir algum cargo no governo no futuro ou pretende se manter como parlamentar?

O meu destino político ou a minha situação política está muito ligada ao que o presidente Lula determinar e orientar. Eu estou nessa caminhada porque acredito que ele, como liderança desse país, pode tirar o país da crise, pode tirar o Paraná da crise, pode melhorar a vida das pessoas. Então eu estou à disposição desse projeto. Para mim, independe ficar no governo, ficar no Parlamento, continuar na presidência do PT, a minha função e missão, quando eu decidi entrar na política, é servir a população, é servir a esse projeto para melhorar a vida das pessoas. E agradeço a todo o povo paranaense pela confiança e pelo carinho que eu tive pelos mais de 261 mil votos que conquistei no Paraná. Sou muito grata ao povo paranaense e pode ter certeza de que, onde eu estiver, eu estarei lutando pelo povo do meu Paraná e pelo povo do Brasil.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #293 Novembro/Dezembro de 2022.