há 11 horas
Amanda Martins

A decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de lançar o filho, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), como candidato à Presidência da República em 2026 provoca efeitos diretos na configuração da direita na disputa pelo Palácio do Planalto. Segundo o portal Metrópoles, impacta especialmente os planos de outros pré-candidatos do campo conservador.
Com Flávio como nome preferido do pai, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tende a concentrar esforços na tentativa de reeleição, enquanto governadores como Ratinho Junior (PSD), do Paraná; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, passam a enfrentar um dilema político. Todos encerram seus mandatos em 2026 e precisam disputar novos cargos para manter espaço institucional.
Diferentemente de Tarcísio, que poderá buscar novos projetos políticos em 2030 caso seja reeleito, Caiado, Zema e Ratinho Jr. veem o espaço para uma candidatura presidencial pela direita se estreitar. A avaliação entre aliados é que uma disputa ao Senado poderia se tornar uma alternativa menos arriscada, diante da força do sobrenome Bolsonaro nesse campo político.
Apesar disso, nenhuma desistência deve ser anunciada no curto prazo. Parte das lideranças aguarda para medir a viabilidade eleitoral de Flávio Bolsonaro. Até então, o grupo contava com algum tipo de apoio ou sinalização favorável de Jair Bolsonaro, que atualmente cumpre pena de mais de 27 anos na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, após condenação por liderar uma trama golpista relacionada à derrota eleitoral de 2022.
Após a divulgação da notícia, Ronaldo Caiado afirmou respeitar a decisão do ex-presidente. “Da minha parte, sigo pré-candidato a presidente e estou convicto de que, no próximo ano, vamos tirar o PT do poder e devolver o Brasil aos brasileiros”, declarou.
Um nome pouco afetado pela movimentação é o do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), que não contava com apoio bolsonarista e busca se posicionar mais ao centro do espectro político.
Pesquisas eleitorais
Embora Flávio Bolsonaro ainda não tenha sido testado com frequência nos principais levantamentos eleitorais, o peso do sobrenome foi projetado a partir de cenários semelhantes. Pesquisa Datafolha divulgada em 6 de dezembro mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceria todos os adversários no segundo turno. A menor diferença seria contra Tarcísio de Freitas, com vantagem de cinco pontos. Contra Michelle Bolsonaro, a margem sobe para sete pontos, enquanto frente a Flávio Bolsonaro alcança 15 pontos.
Já levantamento da AtlasIntel, divulgado no início de dezembro, indica disputa mais apertada entre Lula e nomes do bolsonarismo: 49% a 47% contra Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro e Tarcísio. Nos cenários com Zema e Caiado, Lula venceria por 49% a 41%. Contra Ratinho Jr., a vantagem seria de 49% a 40%.
Michelle Bolsonaro fora da disputa presidencial
A definição de Flávio como pré-candidato também afasta a possibilidade de Michelle Bolsonaro disputar a Presidência. Presidente do PL Mulher, ela chegou a ser especulada como cabeça de chapa ou vice e protagonizou recentemente um embate interno no partido sobre alianças no Ceará. Com o novo cenário, Michelle deve concentrar esforços em uma candidatura ao Senado pelo Distrito Federal.
Reação do Centrão e do mercado
Nos bastidores, a escolha de Flávio Bolsonaro não empolgou as lideranças do Centrão, que viam em Tarcísio de Freitas uma candidatura mais competitiva contra Lula, principalmente devido à alta rejeição associada ao sobrenome Bolsonaro. Fora o apoio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a reação inicial foi de cautela.
A orientação entre dirigentes partidários é aguardar a resposta do eleitorado e avaliar se Flávio conseguirá manter viabilidade ao longo de uma campanha prolongada. O mercado financeiro também reagiu negativamente: logo após a divulgação da decisão, a Bolsa registrou queda acentuada e o dólar apresentou forte alta.