A primeira vez que Ricardo José Magalhães Barros disputou uma eleição foi em 1988. Ele completara 29 anos de idade exatamente no dia em que foi eleito prefeito de sua cidade natal, Maringá. No comando da Prefeitura, Ricardo Barros construiu creches, criou um novo modelo de gestão das escolas e foi reconhecido com um prêmio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, na sigla em inglês) por suas ações em favor das crianças e dos adolescentes. Engenheiro civil por formação, Barros já ocupou os cargos de deputado federal, de ministro da Saúde (gestão Michel Temer) e de secretário estadual da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul. Atual líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, ele se define como um político de resultados e preocupado com o dinheiro público. Nesta entrevista exclusiva, Barros fala sobre a sua trajetória de mais de 30 anos na política.
O senhor é formando em Engenharia Civil. O que lhe motivou a entrar para a política?
A maior inspiração e estímulo vieram de dentro de casa. Quando eu nasci, em 1959, o meu pai já era suplente de vereador em Maringá. Depois também se elegeu deputado estadual, deputado federal e prefeito do município. Ele faleceu dois anos após o término do mandato, em 1979. Veio daí o meu interesse pela vida pública. A primeira eleição que eu disputei foi em 1988, para a prefeitura de Maringá.
Que valores o senhor defende na política?
A política, obviamente, é a arte de servir. A gente precisa usar da nossa dedicação, da nossa competência e do nosso tempo para resolver os problemas daqueles que, sozinhos, não podem resolver os problemas.
Para o senhor, qual é a principal qualidade de um bom político?
A politica também é uma arte de visionários. Sendo assim, a capacidade de liderança é essencial. O bom político é capaz de conduzir pessoas para uma direção que às vezes elas não entendem, mas que depois se revela o caminho correto.
Na avaliação do senhor, qual foi a sua conquista mais importante à frente da prefeitura de Maringá?
Em 1991, eu implantei o que nós chamamos de escolas cooperativas e conseguimos uma melhoria expressiva na qualidade do ensino em Maringá. Todos os funcionários das escolas municipais passaram a ser sócios da cooperativa e recebiam da Prefeitura por aluno. Esse modelo de gestão compartilhada foi uma iniciativa inovadora, muito ousada e de excelentes resultados. Infelizmente, apenas um ano depois, o Ministério Público nos obrigou a fazer concurso público e voltamos ao que todos são. Tenho muito carinho por essa experiência, e acredito que ela seria uma boa solução para melhorar a qualidade do ensino no Brasil.
O seu irmão, Silvio Barros, também foi eleito prefeito de Maringá por dois mandatos consecutivos. Que legado a família espera deixar para a cidade?
O grande legado é a qualidade de vida. Maringá é uma cidade diferente, planejada, e que está muito à frente do seu tempo. O meu irmão recebeu a prefeitura com muitas dificuldades, mas levou a cidade a ser reconhecida como a melhor cidade do Brasil para se viver, segundo a revista Exame. É claro que, nesse período, um conjunto enorme de obras foram realizadas, mas elas têm a finalidade de dar qualidade de vida às pessoas que moram em Maringá.
Em 2016, o senhor foi convidado pelo então presidente Michel Temer para ocupar o cargo de ministro da Saúde. Foi um desafio atuar nessa área?
Eu sou engenheiro civil, então no começo houve alguma resistência por eu não ser médico. Com o tempo, conquistei um bom apoio da categoria, especialmente dos servidores da saúde, e consegui engajar as pessoas na missão. Terminei o meu mandato com um bom conceito como ministro.
Quais foram as suas maiores conquistas na pasta?
Eu sou o que se chama de “político de resultados” e que se preocupa com o dinheiro público. Nós fizemos uma gestão muito eficiente e economizamos quase R$ 5 bilhões em quase dois anos, montante que foi reaplicado em mais serviços de saúde. Com isso, conseguimos dar aos municípios mais recursos e mais autonomia, tudo sem onerar o Tesouro, apenas gastando melhor o dinheiro que já tinha.
Nas últimas eleições, em 2018, o senhor chegou a colocar o seu nome à disposição para disputar a presidência da República. É um sonho ocupar o cargo?
Eu nunca tive a pretensão de disputar a presidência. Eu coloquei o meu nome à disposição do Progressistas [PP] porque nós estávamos num impasse. O partido estava tendendo a apoiar o candidato Ciro Gomes [PDT], e isso causaria um enorme transtorno para nós aqui do sul. Nós fizemos uma articulação e acabamos apoiando o candidato Geraldo Alckmin [PSDB] naquela eleição. Embora ele não tenha feito uma votação expressiva, nos dava conforto e era uma posição que não nos desgastava junto ao eleitorado, como apoiar um candidato de esquerda.
O senhor se considera um político de esquerda ou de direita?
Eu sou liberal de centro-direita. No Brasil, nós vivemos um presidencialismo de coalizão, então os políticos de centro é que dão governabilidade. Se o governo é de esquerda, vira centro-esquerda; se o governo é de direita, vira centro-direita. O centro sempre está à disposição para dar governabilidade ao presidente.
Como o senhor enxerga essa divisão entre esquerda e direita no país?
São apenas visões diferentes de como gerir os recursos públicos, e os partidos têm posicionamentos alternados em relação a isso. A direita defende o Estado mínimo, ou seja, o Estado dever fazer apenas aquilo que é absolutamente essencial. No lado oposto, existe o Estado máximo, onde tudo é o Estado.
O senhor está no seu sexto mandato como deputado federal. De todos os projetos apresentados, tem algum que o senhor considera mais relevante?
Um projeto que eu considero importantíssimo é o PL 001/2015. Ele fala sobre incluir no Estatuto da Criança e do Adolescente [ECA] que é obrigação do aluno cumprir o regimento interno da escola. Atualmente, o aluno tem o direito de frequentar as aulas, mas não tem a obrigação de se comportar no ambiente escolar. O objetivo é combater o bullying e coibir agressões aos professores e colegas.
O PL 3333/2020, de sua autoria, propõe que as informações dos boletins de ocorrência de vítimas de violência doméstica sejam mantidas em sigilo. Qual é a importância dessa iniciativa?
O objetivo é que a pessoa que fez a denúncia não fique exposta. A maioria das vítimas de violência doméstica prefere não denunciar, pois tem medo que o parceiro fique sabendo e se torne ainda mais agressivo. O projeto traz mais segurança, conforto e tranquilidade, além de facilitar que as pessoas denunciem os abusos.
Desde agosto deste ano, o senhor é o líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Que trabalhos o senhor está desenvolvendo nesse sentido?
Eu fui relator da Lei de Abuso de Autoridade e estou empenhado em aprovar uma nova Lei da Improbidade Administrativa que exija que tenha dolo ou dano ao erário para abrir um processo de improbidade administrativa. Hoje se abrem processos simplesmente por discordância da visão política de como resolver um problema. A missão mais importante que nós temos pela frente é conseguir reequilibrar a harmonia entre os poderes.
Por Michelle de Geus | Foto: Divulgação