Além dos acidentes, há ainda outras situações inesperadas, entre elas, o engasgo, que costuma ocorrer com as crianças menores de 5 anos, de acordo com a otorrinolaringologista Saramira Bohadana, responsável pela área Aerodigestivo do Hospital infantil Sabará de São Paulo.
“A criança na fase oral, normalmente, põe tudo na boca. Se o objeto for pequeno, a criança tem risco de aspirar ou de deglutir. Os objetos que representam mais risco para a criança são as baterias. Então os pais devem tomar muito cuidado para que não tenha em casa brinquedos com baterias pequenas, porque as baterias que não são alcalinas, em contato com a mucosa tanto nasal quanto a mucosa digestiva, corroem a mucosa e provocam perfuração e destruição do tecido e isso é extremamente grave, a criança deve ser atendida o mais rápido possível”, alerta a médica.
Ela reforça que não se deve esperar para ver se o objeto sai nas fezes. “A família da criança deve sempre procurar o pronto-socorro mais próximo quando perceber que a criança se engasgou ou se ela teve algum acidente com o corpo estranho e nunca esperar para ver o que vai acontecer ou se vai eliminar nas fezes”.
Pipoca e amendoim
Difícil encontrar uma criança que não goste de pipoca, mas as menores devem ficar longe do alimento, assim como do amendoim, pelo alto risco de engasgo, acrescentou a médica
“A orientação é evitar a exposição de amendoim e de pipoca para criança de 2 a 4 anos, onde o risco de engasgo é maior. Também tirar brinquedos pequenos como legos e brinquedo com bateria nem pensar. Então é tirar todo tipo de objetos que a criança pode pôr na boca e eventualmente aspirar”.
A mãe do Luis, a bancária Janaína Vieira de Oliveira Grave e Souza, passou por um susto quando o menino, aos 2 anos, engasgou com amendoim.
“Ele estava com meus sobrinhos mais velhos e eles estavam comendo amendoim, o Luís pegou uma porçãozinha de amendoim e estava brincando com eles e acabou se engasgando. Na hora, ele perdeu o ar um pouco e a gente fez aquela manobra do engasgo, aquele desespero de pai, né? Vira de ponta cabeça, aperta a barriga, enfia o dedo na garganta, enfim, ele vomitou, voltou o ar e ficou tudo bem”, relembra.
“Mas à noite a gente acabou levando na emergência porque eu fiquei assustada, fui buscar na internet e vi vários relatos de crianças que aspiraram amendoim ou coisas parecidas. Na emergência tiraram um raio X e, aparentemente, estava tudo normal”, contou Janaína.
Durante a madrugada, entretanto, o quadro mudou. “Ele estava respirando um pouco mais ofegante. Falei com a pediatra dele e ela disse que era grave e que deveria ir em um hospital pediátrico. A médica que atendeu olhou o mesmo raio X e falou que o amendoim estava no pulmão. Ele ficou internado na UTI quatro dias e precisou fazer uma broncoscopia”, conta a mãe.
O procedimento foi rápido, mas o menino precisou ser anestesiado. “A doutora que atendeu ele, superexperiente, explicou como seria o procedimento pois poderia trazer sequelas, poderia demorar para localizar o amendoim, mas no caso dele foi tudo bem. Mas, como mãe, você fica fica desesperada na hora e se pergunta como que você deixou isso sendo que você cuida tanto”.
Hoje com 5 anos, Luís continua sem comer amendoim. E só está liberado para a pipoca quando tem adulto por perto. “Toda vez que ele come algo que eu acho que pode engasgar ou pode trazer algum risco, ele fica sob supervisão. Por exemplo, bolinha de chocolate, pipoca que ele ama, ele só come sob supervisão e a gente, às vezes, fica tirando casquinha, olhando ele comer”.
Objetos perigosos
Segundo a médica, os principais acidentes com engasgos ocorrem com pedras de roupa, bijuterias, borracha, plástico, pedaço de brinquedo e comida, especialmente pipoca. As crianças podem engasgar tanto deglutindo quanto aspirando esses objetos para via aérea.
“Os casos de aspiração de objetos para via aérea são mais raros, mas o de deglutição são os mais frequentes. Na nossa estatística 36% dos casos foram de via digestiva. Enquanto que 31% foram objetos colocados na cavidade oral e 5% dos casos foram de orofarine e 27% dos casos são objetos colocados no ouvido”, detalha a especialista.
Prevenção
Para diminuir a chance de acidentes dentro de casa, o ortopedista do Hospital Sabará enumera alguns cuidados importantes:
– Colocar protetores que evitem o fechamento repentino de portas – situação que pode causar acidentes graves, como amputação de pontas de dedos das crianças.
– Televisões e objetos mais pesados devem ser fixos, para evitar a queda.
– Deixar os brinquedos ao alcance da criança. Remédios e produtos de limpeza devem ficar sempre longe do alcance dos pequenos.
– Explicar e mostrar os riscos de um fogão ou forno enquanto estiver cozinhando.
“O mais importante é educar a criança para saber manusear objetos como copo, talheres, carregar de um jeito que ao derrubar não se machuque, usar as duas mãos, não correr enquanto carrega copos ou pratos etc. Enfim, educar é sempre melhor que impedir a criança de fazer as coisas do dia a dia. A criança gosta de colaborar e de participar de atividades, comece com atividades simples e objetos de plástico e gradualmente aumente a complexidade, ela irá aprender e realizar com destreza crescente”, aconselha o ortopedista pediátrico.
Emergência
O número 193, do Corpo de Bombeiros, recebe chamados para acidentes domésticos com crianças todos os dias. No período das férias escolares, entretanto, esse índice aumenta significativamente, explica a Tenente Caeth do 1º Grupamento dos Bombeiros da capital paulista.
“Os principais acidentes domésticos ocorrem envolvendo piscinas, panelas ao fogo e energia elétrica. Ocorrem por negligência do responsável, por isso, a atenção deve ser redobrada quanto a proteção do meio para a criança”, alerta.
Para evitar os acidentes, a tenente Caeth dá as seguintes orientações:
– Piscinas: as crianças devem estar sempre na companhia de um adulto e utilizar equipamentos de segurança, como boias.
– Panelas e fogão: os cabos das panelas devem estar voltados para dentro do fogão, para evitar que a criança puxe o cabo e se queime ou derrame água quente. Permanecer com o fogão desligado sempre que possível.
– Energia elétrica: Evitar o uso de eletrônicos, como celular, enquanto o aparelho carrega, para evitar descargas elétricas e explosões.
Com a finalidade de reduzir a recorrência desses e de outros acidentes a corporação tem o Programa Bombeiro na Escola (PBE) em todo o estado.
“Assuntos como esses são abordados de forma didática e lúdica para crianças em idade escolar, que aprendem não só a parte relacionada a prevenção, mas também quais atitudes tomar em caso de acidentes ou emergências”, diz a tenente.
Ela orienta ainda que, em caso de acidente, família ou cuidadores liguem de imediato, para o Corpo de Bombeiros. “Em casos como queimaduras, é necessário manter o local sob água fria corrente e não passar nenhum produto químico no ferimento. No caso de afogamentos em piscinas, enquanto ligar 193, seguir orientações via telefone, para realizar os procedimentos até a chegada da viatura”, destaca.
da Agência Brasil