O que deveria ser um dia comum de trabalho terminou em um episódio de extrema violência para um homem de 49 anos, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Ele foi torturado por cerca de 12 horas pelo dono do ferro-velho onde trabalhava, no bairro Centro. O suspeito, Ricardo Sodré Fernandes da Silva, de 42 anos, foi preso preventivamente por suspeita de tortura e cárcere privado.

Segundo a Polícia Civil, o crime começou quando o patrão surpreendeu a vítima com um golpe conhecido como mata-leão. Em seguida, o trabalhador foi algemado e acorrentado a um fogão a lenha, onde sofreu uma série de agressões brutais. Entre os atos de tortura, o homem teve os cabelos queimados com um maçarico, sofreu choques elétricos, queimaduras de segundo grau com água fervente e teve os joelhos perfurados com uma furadeira elétrica. Em um momento de extrema crueldade, foi obrigado a cortar parte do próprio dedo.

De acordo com o delegado Marco Antônio Arruda Guns, da 1ª Delegacia de Polícia de Canoas, o crime foi motivado por “puro sadismo”. O suspeito acusava a vítima de roubo de dinheiro e cartão de crédito — algo que a investigação aponta como infundado. “Ele arrebatou e torturou por sadismo”, afirmou o delegado.

Durante as horas de violência, o agressor filmava as ações e usava drogas enquanto ameaçava cortar outros dedos da vítima. Sem acesso a comida ou água, o trabalhador negava as acusações e implorava pela vida. Após seis meses trabalhando no local, ele conseguiu usar seu conhecimento do espaço para escapar. Mesmo ferido, cortou as correntes com uma ferramenta encontrada no ferro-velho e pulou o muro do estabelecimento. Cerca de 15 minutos depois, chegou à casa onde vive com sua companheira e os quatro filhos dela.

No hospital, inicialmente alegou ter sido assaltado, mas revelou a verdade aos médicos que acionaram a polícia. A vítima segue em recuperação física e emocional dos ferimentos e teme pela própria segurança e pela das crianças.

Na quinta-feira (27), Ricardo Sodré Fernandes da Silva foi preso, e objetos usados na tortura — como alicates, pregos e uma furadeira — foram apreendidos pela polícia. Exames preliminares do Instituto-Geral de Perícias (IGP) identificaram vestígios de sangue em um dos itens.

Outras duas pessoas estavam presentes no ferro-velho durante o crime: a companheira do suspeito, investigada por possível omissão, e a mãe dele, tratada como testemunha. A investigação continua em andamento com novas oitivas e laudos pendentes.