O carioca João Marcelo Viera (50) enfrenta há 16 anos uma árdua batalha judicial contra a TV Globo. O ambientalista participou do quadro ‘Lata Velha’, do Caldeirão do Huck , e acusa a emissora de ter devolvido um outro carro montado sobre outro chassi. O caso na época foi parar na polícia e está agora em fase recursal no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Em contato com este colunista, João Marcelo relatou que tinha o sonho de ver seu antigo carro reformado pelo programa. Após enviar uma carta para a produção, diz que chegou a viver parte do sonho quando teve seu automóvel selecionado para ser uma das atrações do programa da TV Globo. “Senti uma realização enorme na época quando me deram essa esperança, de ver meu Opala reformado”, conta.
Ainda segundo Marcelo, após entregar seu Opala verde, ano 79, para a produção do programa, sofreu um duro golpe que tenta se recuperar até hoje por meio da Justiça: “cometeram uma fraude”, acusa o ambientalista. Segundo narra o processo, o Opala simplesmente teria desaparecido. O novo carro entregue ao participante teria sido reconstruído a partir do chassi de uma Caravan, do ano de 79.
Marcelo denunciou o ‘Lata Velha’ às autoridades e lembra que na época sofreu forte abalo emocional ao escutar de algumas pessoas que ele queria se promover com o caso. Entretanto, como consta no processo, um laudo da perícia que foi solicitada pelo delegado Ronaldo Oliveira – que estava no comando titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) – identificou a fraude. Após a conclusão de quatro peritos o delegado explicou que não havia nada de original no carro: “O carro é todo adulterado. Não há nada ali que seja original do carro dele, nem o chassi”, disse. Outra perícia solicitada a pedido da Corregedoria do Detran e realizada pelo Instituto Carlos Éboli também indicou a fraude, e mais ainda, que assinaturas de João Marcelo teriam sido falsificadas.
O carro que teria servido de modelo para a suposta transformação do veículo de João Marcelo foi apontado pelo laudo como uma Caravan marrom. O automóvel, pelos registros do Detran, estava na posse de um rapaz chamado Rubem de Souza. A transação que efetivou a compra do veículo teria sido feita em Ribeirão das Neves, por meio de um Feirão de automóveis. O valor pago pela Caravan foi de R$ 4.200.
João Marcelo conta que nesse momento tomou um outro susto: a pessoa que comprou o veículo no feirão teria utilizado uma assinatura sua falsificada. Foram mais de oito assinaturas adulteradas em nome do ambientalista, que hoje vive em Cabo Frio, localizado na Região dos Lagos.
Após toda documentação juntada para o processo, Marcelo diz não ter dúvidas: “mediante os laudos realizados no carro e as minhas assinaturas falsificadas, é inegável: meu carro verdadeiro sumiu. Ninguém sabe onde está”, diz com tristeza ao lembrar que seu antigo Opala verde era um bem de família, e que ele havia prometido nunca vender para seus familiares. Até hoje Marcelo sente-se impotente por não saber quem falsificou suas assinaturas, que foram feitas em cima de uma colagem.
João Marcelo não acredita que vai conseguir ter o seu carro de volta. Mas ele afirma que deixaria o processo de lado se o antigo carro fosse devolvido mediante também uma retratação do programa e dos responsáveis contando a verdade sobre o que teriam feito, segundo ele, enganando todo o Brasil com a atração.
“Quando me chamaram na Globo para conversar, deixei bem claro que se me entregassem de volta o carro, com tudo certinho, o assunto estava resolvido, uma vez que se tratava de estelionato e apropriação indébita. Entretanto, quando entrei na sala, um dos diretores bateu com as mãos na mesa e me perguntou: ´o que você quer rapaz?´. Eu respondi que só queria o que era meu de volta e disse que o que estava acontecendo poderia acabar com a imagem da emissora. Foi quando ele respondeu que isso não acabaria com o quadro, mas sim com a imagem do Luciano Huck.”
João Marcelo ainda conta que nessa reunião foi falado sobre possivel participação em Big Brother Brasil, ou oportunidades de mostrar seu trabalho em programas como o da Ana Maria Braga, o que teria sido recusado por ele no mesmo tom de deboche que o diálogo era traçado. “A reunião terminou com eles dizendo que iriam dar um jeito de me entregar meu antigo Opala reformado, e também desfazendo todo esses problemas em torno da Caravan, que estava em meu nome a partir da utilização de uma assinatura falsa”, detalha. Entretanto, o ambientalista conta que o carro devolvido foi a mesmo Caravan. O ambientalista também lembra do que teria sido uma tentativa da emissora para fazê-lo assinar um documento se eximindo de reclamar judicialmente qualquer problema futuro.
“Eles me entregaram este documento e disseram que eu poderia ficar com um Pálio enquanto eles resolviam tudo, para que realmente eu não ficasse sem nada até tudo estar concluído, uma vez que demorei seis meses pra receber o carro errado novamente. Mas eu percebi que no final do documento que eu teria que assinar concordando em ficar com o Pálio até ter tudo esclarecido, eu estaria também assinando uma cláusula me comprometendo a não reclamar mais nada. Apenas risquei o papel na frente deles”, lembra.
Marcelo sofreu recentimente uma terceira surpresa na Justiça. O tribunal acabou acatando argumentos da emissora de que Marcelo não teria ficado no prejuízo, uma vez que teria recebido um carro melhor do que aquele que entregou. Entretanto, o ambientalista está recorrendo agora da sentença. “Não importa se o carro estava funcionando melhor ou se valia mais, o que importa é que o meu carro tinha um valor sentimental para toda nossa família. Vou lutar por Justiça até o fim”, diz.