A escola é um reflexo da sociedade, ou seja, o que se passa nos colégios é o que está acontecendo no mundo fora deles. Desta forma, a violência nas escolas, a exemplo do ataque que tirou a vida de dois adolescentes nesta semana em Cambé (PR), pode ser resultado de uma sociedade individualista e afetada por discursos de líderes políticos que incitam a resolução de problemas por meio da violência e do uso de armas. A afirmação é da psicóloga ponta-grossense Simone Weckerlin Brustolin, em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quinta-feira (22).
A psicóloga cita um estudo feito pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o qual indica que nos últimos 21 anos ocorreram 23 ataques em escolas no Brasil, sendo que 10 deles, quase metade, aconteceram entre o segundo semestre de 2022 e junho de 2023. Todos os autores eram alunos ou ex-alunos das instituições afetadas. Mas por que essas coisas tendem a acontecer? “Se a gente olha para o mundo aqui fora hoje, o que a gente vê, que estamos, sim, afetados pelo individualismo, pela competitividade, falta de diálogo e o isolamento. São fatores muito importantes e o isolamento contribuiu significativamente para o aumento dessa violência, a gente precisa considerar isso também”, argumenta Simone.
Somado a esses fatores, a incitação ao uso de armas e a resolução de problemas com violência, por parte de líderes políticos, também colaboram com este cenário. “Quando a gente tem líderes que se posicionam dessa maneira, é como se eles tivessem autorizando, dando uma permissão. Se o líder que é o governante dessa nação está dizendo que a população precisa se armar e precisa aprender a resolver as coisas com ‘balas’, isso incita, é como se fosse uma estratégia para quando há conflitos. Esse efeito acaba sendo muito prejudicial para a população”, alerta.
Bullying como motivação dos crimes
Ao analisar os dados do estudo feito pela Unicamp, a psicóloga Simone reflete que o fato de os autores dos ataques terem sido alunos ou ex-alunos das instituições afetadas, significa que “aconteceu alguma coisa nessa escola que foi difícil dessa pessoa lidar”. “Muitas dessas pessoas sofrem bullying na escola, chegam em casa e não têm uma família estruturada, sofre mais agressão em casa, já tem um biológico, uma desregulação emocional, já tem um cérebro que funciona de uma maneira diferente, a gente precisa considerar tudo isso. Uma pessoa não é feita de uma coisa só, é feita de um contexto, a gente precisa olhar para tudo para entender, não dá para jogar tudo nas costas da doença mental”, aponta.
Ela ainda finaliza. “Sabe quando a gente escuta ‘ah, isso é muito mimimi’, ‘essa é a geração Nutella’… é que a nossa geração realmente sofreu demais com brincadeiras abusivas e a gente teve que suportar. Muitos de nós aprendemos, tivemos que lidar, tivemos essa estrutura biológica ou familiar, às vezes sofríamos bullying na escola, mas chegávamos em casa e tínhamos uma família estruturada, aquilo era o nosso apoio”, conclui.
Confira a entrevista completa: