Prestes a completar um ano, o Pix foi lançado oficialmente em novembro de 2020. Criado como uma nova forma de realizar pagamentos e operações bancárias, três meses após sua liberação já acumulava 200 milhões de transações mensais, segundo o Banco Central. Atualmente, já tem mais de 300 milhões de chaves cadastradas, afirma Marcelo Botelho da Costa Moraes, professor de Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP.
Segundo ele, esse primeiro ano de atuação do Pix foi positivo e de grande adesão. “O perfil do usuário é de pessoas físicas, mais jovens, com menos de 50 anos, e o sistema supera por mês um volume de 600 milhões de transações. Houve uma aceitação muito forte, que superou as outras formas de transferência eletrônica. Um dos principais fatores para o uso do método de pagamento é a sua facilidade de uso. Atualmente está ocorrendo também um crescimento no uso da modalidade de pagamento por parte dos pequenos empresários e trabalhadores autônomos.” Apesar das facilidades que o Pix oferece, ainda há quem relute em utilizar os serviços virtuais.
Mas, se por um lado isto é benéfico para a economia, desburocratizando o processo de transações financeiras, há quem busque ilicitamente burlar as operações com fraudes e golpes e até sequestros relâmpagos, utilizando o Pix. O professor Moraes explica que “não dá para colocar a culpa desses golpes no novo sistema de pagamento, isso é um problema de segurança pública e é necessária uma melhoria nos sistemas de controle por parte do Banco Central e das instituições financeiras, para coibir esse tipo de uso.”
Para o professor do Departamento de Economia também da FEA-RP, Fernando Antônio de Barros Júnior, o Pix tem três características que o levam a se tornar o segundo meio de pagamento mais utilizado no País: “Uma é a facilidade, outra é a agilidade pela qual essas transferências podem ser concretizadas e por último o custo da transação, que para o usuário é zero”.
Barros Júnior alerta que criar restrições para a utilização do Pix “seria um retrocesso muito grande frente a todo o benefício que esse meio de pagamento trouxe, uma vez que ele deu acesso a milhares de brasileiros para utilizar um meio de pagamento eletrônico, coisa que outros já existentes, como o cartão de crédito, por exemplo, nunca permitiram”.
Recentemente ganhou as páginas dos jornais o vazamento de dados dos usuários do Pix. Sobre isso a professora Kalinka Castelo Branco, da área de Segurança Computacional, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP em São Carlos (ICMC), explica que em todo sistema que usa a internet, ou seja, todo sistema digital, não existe 100% de segurança. “Mas várias ações têm sido feitas no sentido de minimizar, isto é, de diminuir os riscos nas transações. Uma delas é a possibilidade de o usuário indicar para quais contas costuma ou tem confiabilidade de fazer transferências, outra é o Banco Central ter instituído o valor máximo de R$ 1.000 para transações entre meia-noite e 6 horas da manhã.”
A professora ressalta que o Pix tem um mecanismo de segurança dividido em várias camadas. Uma é o motor antifraude, como marcadores que implementam a criptografia, além da base de dados chamada de diretório de identificadores de contas transacionais, que permite que as transações sejam feitas de forma rápida usando a chave Pix. “Nesse processo é feita uma varredura das informações pessoais para saber se os dados estão corretos e só assim processar o pagamento/transferência.”
Para usar o Pix de forma segura, a professora diz que, assim como qualquer outra moeda, como qualquer outro elemento, como o cartão de crédito, por exemplo, os cuidados com chaves de acesso, senhas, devem ser redobrados. Kalinka lembra que pelo e-mail SMS é possível recuperar senhas e chaves para acessar sistemas bancários e fazer transações. “Então usar o Pix é como usar o cartão de crédito, é como usar uma carteira digital, você tem que guardar, assim como a gente guardava a nossa carteira na bolsa, tem que preservar.”
Outra dica da professora, para evitar fraudes, é “não fazer pagamento para qualquer link, sempre averiguar se a informação está correta quando for finalizar o pagamento”. No Pix, Kalinka lembra que existe o elemento de registro, onde é possível verificar todas as transações que ocorreram no nome daquele usuário. “É possível até perceber se alguém abriu uma conta com seu CPF e está fazendo Pix para aquela conta, ou seja, se você está sendo usado como laranja.”
A professora lembra, ainda, que a recuperação de um valor enviado indevidamente, via Pix, dificilmente tem como ser realizada. “Existem casos de algumas instituições financeiras deixarem de 30 a 60 minutos para cada vez que uma transação efetivamente ocorra. Se aquela transação não é algo corriqueiro daquela pessoa, nesse intervalo é possível desfazer a transação.”
Outro alerta da professora Kalinka é que o uso do Pix tende a aumentar e com isso os riscos também, por isso o importante é se prevenir, com boas ações e políticas de uso, para que possamos usar esses meios de uma forma mais tranquila. “Como aprendemos a usar o dinheiro em espécie, o cartão de crédito, e sabemos que corremos o risco de sermos roubados, com nosso celular e dados do Pix também, por isso devemos tomar os cuidados necessários, mas continuar a utilizá-lo para que o mundo evolua.”
Informações Jornal da USP/Simone Lemos e Rubens Avelar. Foto: Agência Brasil