Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Refugiados ucranianos recebem abrigo em cidades do Paraná: “Nunca imaginamos que eles teriam tradições e comida ucraniana aqui”

2022-05-13 às 14:31

Longe das explosões de bombas e sirenes constantes em sua cidade natal em ruínas de Kharkiv, no leste da Ucrânia, Arina Hashlova, de 8 anos, pratica exercícios de ginástica diariamente em sua nova escola no Brasil.

Em um apartamento próximo, uma família ucraniana agradece, antes de uma refeição de salada de repolho, arroz e peixe, pela comida e refúgio seguro que o Brasil lhes proporcionou a cerca de 11.000 quilômetros de Kherson, cidade portuária no Mar Negro tomada pelas tropas russas.

“Sabemos que nossa casa está ocupada agora por russos, e eles colocaram minas ao redor dela, um vizinho me disse”, afirmou Olga Martynchuk, agora na pacata cidade paranaense de Guarapuava.

Ela e outros refugiados descobriram confortos inesperados em uma comunidade ucraniana, estabelecida por compatriotas fugindo de outras guerras e opressão há mais de um século.

“Nunca imaginamos que eles teriam tradições e comida ucraniana aqui, se vestiriam com roupas ucranianas e falariam nossa língua. É muito tocante para todos nós”, disse a mãe de quatro filhos.

O trauma da guerra ainda está fresco na memória. A mãe de Arina, Maryna Hashlova, relembra os horrores do bombardeio russo em Kharkiv.

“Pensamos que terminaria em breve. As sirenes soavam constantemente. Nossos filhos tinham que se vestir e se esconder no porão várias vezes por noite”, contou ela.

Moscou chama o conflito de “operação especial” para desmilitarizar e “desnazificar” sua vizinha do sul.

Duas semanas depois da guerra, Hashlova resolveu levar seus dois filhos para um país mais seguro, embora isso significasse deixar para trás o marido Sergiy, de 38 anos, que ficou para ajudar a defender a cidade.

Por meio de sua igreja, ela conheceu uma rede cristã evangélica fundada por um pastor brasileiro que ajuda famílias ucranianas no Brasil.

“Achávamos que era muito longe. Eu nunca planejei viajar para o Brasil, nem em meus sonhos. Mas decidimos aceitar essa oferta, porque é um projeto cristão”, disse Maryna, que tinha acabado de falar com o marido pelo telefone em Kharkiv.

A Rede de Parceria do Reino Global oferece alimentação e apartamentos alugados por um ano para 11 famílias em Guarapuava, e mais oito famílias em Prudentópolis, cidade vizinha.

Prudentópolis, apelidada de “Pequena Ucrânia”, tem uma grande igreja ortodoxa cristã que é o centro de uma comunidade de descendentes de imigrantes ucranianos. Uma bandeira da Ucrânia cobre sua fachada.

No jardim da igreja, os adolescentes cantam uma tradicional canção folclórica ucraniana enquanto dançam em roda de mãos dadas, um ritual que celebra o renascimento da natureza na primavera e a Páscoa cristã marcando a ressurreição de Cristo.

Olga reza pela paz na Ucrânia para que ela e sua família possam voltar para casa um dia, mas ela não tem ideia de quando isso pode acontecer.

“Francamente, não sabemos ao certo. Se Deus nos abençoar, talvez possamos voltar, mas não sabemos quanto tempo vai durar.”

Guarapuava, Paraná (Reuters) – Por Pilar Olivares