Fortalecer a participação dos pequenos negócios, que representam 95% das empresas em atividade no Brasil, no processo de crescimento da economia brasileira por meio da globalização, atrelada à sustentabilidade e à inclusão social. É o que defende o presidente do Sebrae, Décio Lima, que participou do 7º Fórum Brasileiro de Investimentos (BIF), que reuniu autoridades e líderes empresariais nesta segunda-feira (28), em São Paulo.
“Um país como o nosso, onde 95% das empresas brasileiras estão nesse patamar de microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas, não pode absolutamente deixar de tratar essa economia pujante e resiliente pulverizada no território brasileiro dentro desses conceitos que nós estamos debatendo”, apontou.
Durante o evento, ele concedeu entrevista à Agência Sebrae de Notícias sobre a importância do Sebrae estar inserido neste tipo de discussão, como tem se dado o apoio aos pequenos negócios no processo de digitalização por meio do Programa Brasil Mais Produtivo e na concessão de crédito, com aval do Sebrae. Confira:
ASN (Agência Sebrae de Notícias): Quais são as principais oportunidades de investimento que o Sebrae identifica para as pequenas empresas brasileiras no contexto das discussões realizadas no Fórum desse ano?
Décio Lima: Nós estamos vivendo um conceito que não tem mais volta, que é o da economia globalizada. Uma economia que interage hoje de forma extraordinária em razão dos acontecimentos da própria mudança do sistema capitalista, que sofre impactos com a inteligência artificial.
Hoje qualquer pessoa numa periferia do Brasil adquire um produto lá do outro lado do mundo. Então, o contexto da globalização somado a outros conceitos que se consolidaram como valores universais, como da sustentabilidade e da inovação, nos traz desafios gigantes, sobretudo no universo que representamos, que são os pequenos negócios, para que eles possam ser incluídos nesse aspecto. A esses valores se junta também o conceito da inclusão.
Um país como o nosso, onde 95% das empresas brasileiras estão nesse patamar de microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas, não pode absolutamente deixar de tratar essa economia pujante e resiliente pulverizada no território brasileiro dentro desses conceitos que nós estamos debatendo.
ASN – Nesse contexto, a gente lembra também do papel central da digitalização, que foi algo bastante comentado no evento. Como o Sebrae está apoiando os pequenos negócios nessa jornada, de modo que eles possam se digitalizar e se tornarem mais competitivos?
Décio Lima – O Sebrae desde o começo participa do projeto da neoindustrialização, que foi lançado pelo governo federal. O nosso alcance já nos permite ter um acolhimento de aproximadamente 40 mil empresas que foram e estão sendo atendidas por nós, para o processo de inovação e digitalização, para fazer com que elas estejam integradas nessa revolução da tecnologia.
A nossa responsabilidade nesse programa, entretanto, é bem maior. Nós temos como meta atender 200 mil empresas e estamos a cada dia aumentando essa capilaridade expressiva para que possamos, sobretudo, dar essa contribuição que é fundamental para a economia brasileira e principalmente, na neoindustrialização, da recuperação da indústria que o Brasil perdeu nos últimos anos.
ASN – Como tem sido a atuação do Sebrae no contexto de atrair investimentos para os pequenos negócios brasileiros?
Décio Lima – Nós estamos vivendo um momento histórico nesse tema. A Apex é uma instituição que surgiu de dentro do Sebrae. Com a criação da Agência, essa agenda da internacionalização passou a ter uma institucionalidade própria, mas acabou se distanciando dos pequenos negócios, porque havia uma ideia de que o mundo globalizado, das exportações, pertencia apenas às grandes empresas.
Foi então que o presidente da Apex, Jorge Viana, juntamente conosco, entendemos que nós tínhamos que nos aproximar urgentemente, para que a gente pudesse andar de mãos dadas. E isso começou a funcionar a partir do lançamento da nova política de industrialização do governo do presidente Lula e do vice Geraldo Alckmin.
Recentemente, assinamos um acordo de cooperação mútua dentro do qual nós já estamos fazendo um aporte de aproximadamente R$ 180 milhões para que possamos levar a inclusão da pequena economia brasileira no mercado internacional. Para se ter uma ideia, para cada R$ 1 investido neste acordo de cooperação, nós conseguimos um retorno 18 vezes maior.
ASN – A questão ecológica é um dos principais temas do Fórum. Como o Sebrae está aproveitando essas oportunidades para as pequenas empresas?
Décio Lima – O desafio para os pequenos sempre é maior do que para os grandes. Uma transição ecológica para uma cadeia poderosa é mais rápida e não tem as dificuldades de investimento naturais de uma economia pequena, porque o próprio mercado não foi feito para os pequenos, foi feito para acumular riqueza e, portanto, para os grandes.
Esse é um grande desafio do Sebrae, que está sendo tratado com uma prioridade fundamental. Nós não podemos admitir que um pequeno negócio não esteja dentro de um processo de economia sustentável, de energia limpa. Já estamos dando toda a assistência na amplitude do território brasileiro, com a nossa capilaridade, principalmente com aquilo de mais rico que o Sebrae tem: que é o seu potencial acadêmico para poder, rapidamente, dar as soluções para as pequenas economias.
Nós estamos em campo, fazendo isso, e o resultado está sendo extraordinário, inclusive mais rápido do que imaginávamos, pelos números que nós já contabilizamos de processos que automaticamente conseguiram se incluir dentro de uma economia sustentável.
ASN – O Brasil está se consolidando como destino atrativo para investimentos estrangeiro. O Morgan Doyle (gerente-geral do Departamento do Cone Sul (CSC) do Banco Interamericano de Desenvolvimento) falou bastante que quer apresentar para os investidores estrangeiros toda a diversidade dos estados brasileiros. Qual é a visão do Sebrae sobre o impacto do investimento estrangeiro para o desenvolvimento regional e para a geração de emprego para os pequenos negócios?
Décio Lima – Eu preciso falar de Daniel Kahneman (Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de 2002). A economia não é uma matéria cartesiana, ela não é apenas uma matéria de uma planilha. Kahneman nos ensinou, ao receber o Nobel de Economia em 2002, ele que não era um economista, que a economia é comportamento, comportamento que nós estamos vivendo.
Os anos de 2023 e 2024 revelam claramente um extraordinário momento para o Brasil se desenvolver e consolidar, principalmente, o processo da pequena economia. Nenhum país do mundo tem seis biomas, como nós temos.
Nenhum país do mundo tem uma pluralidade econômica extraordinária como nós temos. Nenhum país do mundo tem um público de resiliência no processo produtivo dos pequenos, que são homens e mulheres que acordam de manhã em qualquer do território brasileiro e que nunca desistem, que fazem da sua criatividade o seu próprio negócio.
É impressionante o retrato econômico do Brasil do ponto de vista de superação das dificuldades históricas que nós estamos vivendo. Mas é, também, algo imaginável o momento que nós estamos vivendo. Somos um país que saiu da posição de décima segunda economia e já somos a oitava economia, desafiando os indicativos do FMI. Temos um processo de pujança econômica e esse comportamento que o Brasil passou a ter de entusiasmo está sendo traduzido inclusive naquilo que acontece com os investimentos internacionais. Nós estamos na posição de quinto destino de investimentos no mundo. Nós praticamente estamos chegando ao pleno emprego, tirando novamente o povo brasileiro do mapa da fome. Então, não é algo inacreditável se nós imaginarmos essa recuperação em menos de dois anos. Isso tudo empolga principalmente o setor da pequena economia.
Eu acrescentaria ainda a recente política de crédito lançada pelo presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin. As pesquisas do Sebrae mostram que cerca de 88% dos pequenos negócios não têm acesso a crédito. Para enfrentar essa situação, nós criamos essa possibilidade agora de acesso ao crédito abrindo a porta com o fundo garantidor.
O pequeno não acessava o crédito porque não tinha garantia. Quando você tem garantia você tem a possibilidade de obter juros mais baixos. E isso faz com que o empreendedor tenha um crédito razoável, mesmo com essa voracidade que o sistema financeiro produz na economia brasileira. Com isso, os pequenos negócios podem ter a certeza de empreender e de não ser um quebrado amanhã.
O resultado dessas políticas está nos números. O Brasil criou 4 milhões de novas empresas. São pequenos empreendedores que geraram 8 em cada 10 empregos no ano passado.
da assessoria