“Para declarar sua candidatura à presidência, Lula escolheu Paris Match“, diz a revista, voltada para a cobertura de celebridades, em entrevista exclusiva publicada nesta quinta-feira.
“Dezenove meses de prisão e uma longa batalha judiciaria não terão sido páreo para seu engajamento e sua combatividade”, diz a repórter Manon Querouil-Brunneel.
“Enquanto a pandemia no Brasil matou mais de 400.000 pessoas e o valor do real caiu 40% em 2020, Lula quer tirar seu país do impasse”.
“O senhor é oficialmente candidato às eleições de 2022?”, pergunta a publicação parisiense.
“Se eu for o melhor colocado para vencer as eleições presidenciais e estiver em boa saúde, sim, não hesitarei. Eu penso que fui um bom presidente”, responde Lula.
“Eu criei laços sólidos com a Europa, a América do Sul, a África, os Estados Unidos, a China, a Rússia. Sob o meu mandato, o Brasil se tornou um ator importante na cena internacional, criando principalmente pontos entre a América do Sul, a África e os países árabes, com o objetivo de reforçar uma relação Sul-Sul e de demonstrar que a predominância geopolítica do Norte é inexorável”, defendeu.
A revista questiona sobre um eventual conluio entre o ex-juiz Sergio Moro e o presidente Jair Bolsonaro para condenar Lula. “O senhor considera que o juiz Sergio Moro, que lhe condenou e acaba de ser considerado culpado por parcialidade, trabalhou para Bolsonaro, de quem ele em seguida foi ministro da Justiça?”
“No meu primeiro depoimento, eu disse ao juiz Moro: ‘Você está condenado a me condenar porque a mentira foi longe demais e você não tem mais nenhum meio de de ‘voltar atrás’. Essa mentira de fato implicou um juiz, procuradores e os principais veículos midiáticos do pais, que sempre me condenaram antes mesmo de eu ser julgado. O que eles não sabiam é que eu estou pronto para lutar até meu último suspiro para provar que eles conspiraram para me impedir de me candidatar”.
Num contexto de tensão entre Brasília e Paris, a revista quis saber, depois que Emmanuel Macron chamou Jair Bolsonaro de mentiroso em relação às promessas de diminuir o desmatamento na Amazônia e o presidente brasileiro respondeu chamando a esposa do mandatário francês de “feia” e destratando o ministro das Relações Exteriores Jean-Yves Le Drian: “Como o senhor definiria as relações diplomáticas entre o Brasil e a França?”
“Olha (ri), penso que a relação entre os dois países sempre foi extraordinária, excepcional! Eu penso que é preciso que continue assim, apesar das divergências ocasionais. O Brasil não deve buscar entrar em conflito com nenhum país. Nossa ultima guerra foi contra o Paraguai, há 150 anos! Eu posso ter divergências com o presidente dos Estados Unidos, mas não devo perder de vista que eu devo manter com ele relações diplomáticas para garantir a democracia, a política de desenvolvimento, as relações comerciais, científicas e tecnológicas”, afirmou.
Perguntado pela revista se vai bem depois de contrair a Covid-19 no mês de janeiro, em Cuba, Lula contrasta mais uma vez com Bolsonaro. “Vou bem. Mesmo vacinado, eu continuo me cuidando. Eu evito multidões, eu continuo usando mascara e usando álcool em gel sempre que necessário”.
A escolha de Lula ao anunciar internacionalmente sua candidatura na imprensa francesa é coerente já que foi em Paris que Lula reconquistou simbolicamente a liberdade. Em outubro de 2019, quando o ex-presidente ainda estava preso, a prefeita socialista Anne Hidalgo lhe concedeu o título de cidadão honorário em outubro de 2019. A cerimônia de entrega da honraria apenas ocorreria cinco meses depois.