Dar novas oportunidades para livros e pessoas é a nobre missão do Hospital de Livros do Instituto Pegaí, projeto reconhecido nacionalmente e que inaugurou recentemente sua segunda unidade na região. Agora, os acolhidos da Comunidade Terapêutica Rainha da Paz, na localidade de Catanduva de Fora, em Carambeí, começaram a trabalhar voluntariamente na restauração de livros danificados, que depois estarão disponíveis nas estantes do Pegaí Leitura Grátis.
Atualmente, cinco internos estão atuando no Hospital de Livros. “Passo o tempo entretido, com meus pensamentos focados na restauração de cada detalhe do livro. Mantendo a atenção no que estou fazendo eu me esqueço dos problemas”, conta um dos acolhidos, de 23 anos, que não pode ser identificado. Outro abrigado, de 43 anos, se diz realizado com a nova atividade. “Quase não tive infância, morava no sertão da Bahia e ‘malmente’ completei a 4ª série. Essa oportunidade que estou tendo aqui me traz uma grande alegria. Percebi que trabalhar com restauração de livros é como a vida, porque é errando que se aprende”, revela.
Localizada em uma chácara, a comunidade existe há 19 anos e atua na recuperação de dependentes químicos de forma gratuita, com capacidade para até oito acolhidos. Os internos cumprem um programa de recuperação de sete meses com uma rotina diária, como tarefas domésticas, pequenas reformas no espaço, cultivo da horta e o trabalho em uma padaria profissional instalada no local, entre outras atividades, sempre com o suporte espiritual da fé católica.
Osmar Rodrigues Pinheiro é um ex-acolhido e hoje atua como monitor na Comunidade Terapêutica – e agora está na equipe dos ‘cirurgiões de livros’. “Como monitor vejo o quanto é importante para os acolhidos esse trabalho. Além de ser uma nova experiência, vai aguçar muito a curiosidade de cada um e ocupar os pensamentos. Acredito que a leitura abre muito a mente das pessoas”, diz ele.
Parceria
A aproximação com o Pegaí se deu a partir do contato com a assistente social Alexandra Maria Stravatti. Foram três meses de preparo para o início das atividades, que incluiu a assinatura do Termo de Cooperação, a capacitação dos acolhidos (realizada pelos instrutores Américo Nunes e Luciano Barboza, voluntários do Pegaí) e a instalação de máquinas e equipamentos, como guilhotina para corte, prensa para colagens, sistemas de costura e diversos materiais. A unidade tem como mantenedora a Quiver Soluções, que é líder de mercado no ramo de soluções para corretoras de seguros.
Segundo Oclair Rodrigues, um dos fundadores e atual coordenador geral da Comunidade Terapêutica Rainha da Paz, os acolhidos têm demonstrado prazer na atividade de restauração de livros, além de ter despertado o interesse e a prática da leitura. “Hoje eles se preocupam com a aparência dos livros e também com seu conteúdo. É um momento de tranquilidade e envolvimento com a leitura”, destaca.
A capacidade dos trabalhos ainda está limitada por conta dos protocolos de segurança sanitária. Porém, a expectativa de evolução é grande. “Assim que as coisas normalizarem, esperamos restaurar centenas de livros por mês e, desta forma, aumentar ainda mais a oferta de exemplares nas estantes do Pegaí”, explica o voluntário Luciano Barboza, que é o coordenador do Hospital de Livros, integrante da diretoria do Instituto Pegaí e empresário do setor gráfico em Ponta Grossa.
Hospital de oportunidades
A primeira unidade do Hospital de Livros funciona na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa, porém, o espaço de restauração de livros está fechado desde março de 2020, seguindo orientação das autoridades de saúde. Desde junho de 2016, já foram recuperados 7.315 livros, que chegaram danificados e, após o trabalho cirúrgico dos restauradores, puderam ser disponibilizados para leitura nas 67 estantes do Pegaí espalhadas por 15 cidades do Paraná.
O projeto já recebeu menção honrosa no Prêmio Ajufe de Boas Práticas de Gestão, entregue pela Associação dos Juízes Federais do Brasil, e concorreu ao Prêmio Innovare, a maior premiação jurídica do país.
Da assessoria