Charles Ribeiro, de 32 anos, é assistente de farmácia em Imbituva. Recentemente passou por “um dos momentos mais difíceis” ao enterrar o avô João Albino Marques de Jesus, de 69 anos, com suspeita de Covid-19. O idoso faleceu no dia 24 de maio no Hospital Universitário em Ponta Grossa. O velório e sepultamento tiveram que seguir o protocolo de coronavírus. Em uma entrevista exclusiva ao D’Ponta News, o rapaz desabafou e relatou o pesadelo que a família viveu nos últimos 20 dias.
O CASO
Segundo Charles, o avô sofria com problemas no pulmão há mais de 13 anos. No dia 20 de maio João de Jesus passou mal e buscou ajuda em um Pronto atendimento na cidade de Imbituva, onde morava. Os profissionais de saúde realizaram a coleta para fazer o teste da Covid-19 e logo em seguida, através da Central de Leitos, o idoso foi transferido direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na ala destinada aos pacientes com coronavírus. O resultado do teste deu negativo.
Em entrevista ao portal D’Ponta News, Charles acrescenta que o exame foi realizado em um laboratório vinculado ao Laboratório Central do Estado do Paraná (LACEN), órgão oficial para a testagem e divulgação de resultados a nível estadual. “O meu avô não tinha sintoma gripal. Foi feito, por protocolo, em Imbituva, um exame que deu negativo, e ele foi transferido para o Regional e internado em uma ala de pacientes com Covid-19”, relata.
O quadro clínico de João se complicou. Ele não resistiu e faleceu no hospital quatro dias após o internamento. O Hospital Universitário seguiu o protocolo para óbitos suspeitos da Covid-19. Pelas redes sociais, o rapaz demonstrou revolta e indagou o porquê o avô “foi internado na ala da Covid-19 sendo que o resultado do exame havia dado negativo”. “A última vez que vimos ele foi no Pronto Atendimento em Imbituva, depois disso não pudemos visitá-lo e só recebemos a informação da morte. Eles seguiram o protocolo. O corpo veio para Imbituva embrulhado em um saco plástico. A funerária o colocou em um caixão lacrado e não pudemos nos despedir da forma que ele merecia. Logo sepultamos meu avô”, conta Charles.
Assim que foi registrado o óbito, mais um material foi colhido para realizar o teste de coronavírus. Oito dias depois (segunda-feira, 01 de junho), saiu o resultado atestando que João não estava com o vírus.
O DRAMA
Charles resumiu em algumas palavras o que a família passou nos últimos dias. “É um misto de tristeza, revolta e transtorno. Imbituva é uma cidade pequena e muita gente ficava cercando nossa família na rua para perguntar se realmente meu avô tinha falecido de coronavírus. A situação ficou bem critica, além de tudo, causou um grande transtorno no nosso dia a dia”, relata.
O rapaz lamenta que o avô tenha sido internado na ala da Covid-19, mesmo com o teste negativo. “Ele não tinha o vírus. Ele foi injustiçado. Uma pessoa que trabalhou a vida toda e acabou morrendo sozinho no hospital, sem poder ter uma visita e um velório digno”, lamentou.
A assessoria de imprensa do Hospital Universitário (HU-UEPG) emitiu uma nota comentando sobre o caso.
Leia na íntegra.
A Universidade Estadual de Ponta Grossa, por meio de seu Hospital Universitário, esclarece que o paciente J. A. M. J, 69 anos, foi inicialmente atendido em Imbituva, onde seu caso foi notificado e coletado exames para diagnóstico de Covid-19. Deste momento em diante, segundo protocolo do Ministério da Saúde, todo caso passa a ser considerado suspeito para Covid-19. Por esta razão, o paciente foi internado na ala isolada, conforme os critérios médicos e de segurança. Ainda segundo determinações do Ministério da Saúde, um único exame negativo não exclui o diagnóstico para a doença. Em caso de óbito de paciente internado na ala Covid, segundo este protocolo, são seguidas orientações de controle epidemiológico.
Veja o que Charles Ribeiro publicou nas redes sociais.
Ouça a entrevista completa com o relato de Charles.
Texto: Igor Rosa