Sábado, 27 de Julho de 2024

‘Logo que cheguei à Alep, mostrei que não era só a filha de um político’, declara Mabel Canto

2022-09-06 às 14:25

O programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), recebeu nesta terça (6), a candidata a deputada estadual Mabel Corá Canto (PSDB), que concorre à reeleição pela Federação PSDB-Cidadania.

A advogada de 37 anos nasceu em Clevelândia (PR), mas foi em Ponta Grossa, onde vive desde o início da década de 1990, que testemunhou a trajetória política do pai, Jocelito Canto, que foi deputado estadual e prefeito de Ponta Grossa, fruto de sua aprovação popular à frente de programas de rádio e TV. Eleita deputada estadual em 2018, ela se candidatou a prefeita dois anos mais tarde. Ponta Grossa foi o único município brasileiro a levar duas mulheres a disputar uma prefeitura no 2º turno.

Em sua trajetória na política, em pouco tempo, Mabel já conseguiu afirmar sua individualidade e se desvencilhar da mera imagem de “filha do Jocelito”, ex-prefeito de Ponta Grossa e ex-deputado estadual que, neste ano, faz dobradinha com ela como candidato a deputado federal. E o ponto de virada para essa afirmação de individualidade se evidenciou a partir de quando ela deixou o PSC, pelo qual se elegeu, na mesma coligação do governador Ratinho Júnior, para migrar para o PSDB e se tornar oposição a ele.

“Tenho personalidade forte, posicionamento e discordo do meu pai em inúmeras situações. Quando entrei para a política, evidentemente, o Jocelito era o conhecido, pela sua história e pela sua bagagem política e porque estava na TV. Depois, tive a oportunidade de me apresentar como a filha do Jocelito pelo respeito que ele tinha perante a comunidade e estava apresentando uma filha para continuar o trabalho dele”, sustenta.

“Logo que cheguei à Assembleia, mostrei que não era só a filha de um político, que ia sentar lá para dizer amém para o que todo mundo estava falando. Muito pelo contrário, já cheguei cobrando o governo do Estado e não gostaram, que foi a questão daquelas escolas que estavam abandonadas em Ponta Grossa”, relembra.

As escolas eram Francisco Pires (Cará-Cará), Padre Pedro (Jardim Paraíso) e Iolando Taques Fonseca (Los Angeles). Mabel destaca que não importa que o abandono das obras dizia respeito à gestão passada, porque a hora de agir era aquela. Duas dessas escolas já foram entregues. A verba para a escola Iolando “travou”.

“Cheguei lá para mostrar quem era a Mabel e consegui, perfeitamente, fazer isso. Hoje, [Jocelito] é o ‘pai da Mabel'”, frisa.

Ela confirma que seu posicionamento firme contra o governo foi o que desencadeou a demissão do pai, Jocelito Canto, da Rede Massa, onde tinha um programa ao meio-dia. “Estava cobrando, fiscalizando, fazendo o trabalho que tinha que fazer. Começaram a acontecer situações e chegou a um momento que o Jocelito disse: não dá mais, estou funcionário da Rede Massa, que é a empresa da família do governador; você está fazendo o correto, que é manter o posicionamento do seu mandato, em prol das pessoas, então, vou me retirar da Rede Massa”, cita Mabel.

A candidata à reeleição ressalta que o pai priorizou seu mandato e que, por isso, deve ser respeitado. A “gota d’água” teria sido uma divergência entre Mabel e o então líder do governo na Alep, Hussein Bakri, a respeito de um projeto que ela apresentou e o governo vetou, que garantia diretrizes para priorizar cirurgias reparadoras (plástica) a mulheres vítimas de violência.

“Antes, tinha vetado um projeto de outra deputada sobre diretrizes, que era igual ao meu projeto, praticamente. Só que o dela eles derrubaram o veto. Chegou no meu e o governo falou: ‘vamos manter o veto’. Aí eu fiquei braba. Dois projetos, com a mesma fundamentação jurídica, um tinha que derrubar e outro, não, porque eu já estava em má posição, independente. Comecei a discutir com o líder do governo e ele, de forma completamente desrespeitosa, me xingou no plenário”, relata.

Mabel indica que, nos últimos 30 anos, a Assembleia teve cinco deputados estaduais de Ponta Grossa – Plauto Miró, Jocelito Canto, Péricles Mello, Marcelo Rangel e Márcio Pauliki – e que eles aprovaram cinco projetos em prol das mulheres em todo esse período. “Um [projeto] cada um. A melhor lei é a do meu pai, que destinou 20% das casas da Cohapar para mulheres chefes de família. Sabe quantos projetos de lei eu aprovei na Assembleia em três anos e meio? 14, em prol das mulheres. Veja a diferença da representatividade feminina que precisa existir”, compara.

Causa feminina

Mabel comemorou a sanção da Lei Federal14.443/22, que dispensa o aval do cônjuge para a realização de esterilização voluntária, além de permitir a laqueadura durante o parto. No ano passado, ela apresentou na Assembleia Legislativa do Paraná um projeto similar.

“Ontem, tivemos a alegria da sanção, em nível federal, de um projeto que eu tinha na Assembleia, que garantia a laqueadura na cesariana e que tirava aquela questão da autorização que o cônjuge tinha que dar”, diz. Na Alep, o projeto tramitava na Comissão de Saúde. Porém, existia um projeto semelhante no Senado, que foi aprovado e sancionado e a lei federal prevalece à estadual. “Até vou pedir o arquivamento do meu projeto, porque a lei vale em nível federal”, conta.

Mabel observa que, até a sanção dessa lei, o procedimento era bastante burocrático, porque além da permissão do marido e da idade mínima de 25 anos, a mulher precisava juntar a papelada seis meses antes da cirurgia, que não poderia ser realizada em simultâneo a um parto cesáreo. A nova lei estipula que o pedido deve ser feito cerca de 60 dias antes do parto e a idade mínima para realizá-la é de 21 anos – ou ser mãe de dois filhos.

“Era uma violência contra a mulher em nível gigante, porque, além de pedir autorização, tinha que fazer um novo procedimento, fora da cesariana. Você tinha teu parto, aí seis meses depois é que você conseguiria fazer a laqueadura, que é um procedimento que dura 10 minutos, se for realizado durante a cesariana”, critica.

A deputada ressalta que uma lei que facilitasse a realização da laqueadura era um pedido diário que recebia das mulheres paranaenses. A burocracia envolvida, até então, resultava em mulheres que tinham seu direito à laqueadura negado e, em consequência, voltavam a engravidar, o que parlamentar considera uma espécie de privação ao planejamento familiar, uma vez que atinge, essencialmente, as mulheres mais pobres. “A mulher que pode pagar um médico particular fazia a laqueadura na cesariana, isso sempre aconteceu, mesmo não podendo. À mais pobrezinha, que não podia pagar, era renegado esse direito”, compara.

Trabalho por todos

Ainda que priorize a causa feminina em seus projetos, Mabel defende que trabalha por todos e, por isso, merece também o voto dos eleitores homens. “Temos que trabalhar por mais igualdade e paridade, principalmente da mulher na política, porque a mulher, quando está na política, trabalha por políticas públicas para todos. Quando eu luto pela mulher, eu luto pela família”, sustenta.

Mabel afirma que, em paralelo, trabalhou pela fiscalização do governo estadual e pela obtenção de recursos para a região.

Outro foco recente desse trabalho tem sido driblar os problemas da gestão de leitos do Estado e no município. Muitas pessoas vêm recorrendo a ela e ao marido, advogado, para internar algum familiar com saúde já bastante debilitada, por força de liminar. Um desses casos envolve uma mulher de 72 anos que esperou 17 dias para ser atendida depois de uma fratura de fêmur; outro, de um homem de 42 anos, que dependia de tratamento de hemodiálise e morreu depois de esperar por 10 dias pelo procedimento.

“Estamos vivendo um abandono por conta do despreparo, das promessas que foram feitas, do despreparo da gestão anterior, que não cuidou da saúde como deveria e agora virou um caos. Temos uma administração que apenas continuou acabando com o que tínhamos e não está fazendo nada para melhorar e só está destruindo, que fechou Pronto Socorro Municipal e Pronto Atendimento Infantil, no HUMAI, antigo Hospital da Criança”, critica.

Segundo ela, a perda desse Pronto Atendimento Infantil é culpa da prefeita, porque a administração tinha três entes – o Estado, a UEPG e o município, que se retirou, por considerar que a UPA do Santa Paula era suficiente.

“Consegui R$ 33 milhões em recursos. R$ 20 milhões foram para a área da Saúde, porque saúde é prioridade. A nova maternidade do Hospital Regional precisava de equipamentos, porque não tinha – desde cama, até berçário e instrumentação cirúrgica. Foi uma emenda minha que garantiu 147 equipamentos, R$ 2,4 milhões, para equipar todinha”, ressalta.

Outra situação da Saúde envolve o Hospital Bom Jesus, cujo contrato com o Estado se encerraria neste ano. “As irmãs me chamaram em janeiro, me explicaram a situação. Eles estavam com vários entraves, que estavam impedindo a renovação do contrato. Além da condição financeira, a 3ª Regional de Saúde estava colocando empecilhos para que o contrato fosse renovado”, afirma.

Mabel pontua que a perda do contrato com o Bom Jesus seria o fechamento de mais uma porta junto ao SUS, após os fechamentos do Hospital Evangélico, do atendimento público do São Camilo e do Hospital Municipal. “Fomos à SESA, conversei novamente com o secretário, eles entenderam que o hospital tinha dificuldades e se sensibilizaram e conseguimos renovar o contrato: R$ 15 milhões. As portas se mantiveram abertas e as pessoas ainda têm essas vagas aqui em Ponta Grossa devido a esse trabalho”, salienta.

Pedágio

A candidata relembra que a discussão sobre o contrato do pedágio iniciou já em 2019, antes do fim do contrato anterior, com a criação de uma frente parlamentar para discutir a questão. A frente era, inicialmente, formada por deputados e, depois, o DER-PR começou a tratar do assunto diretamente com o governo federal.

“Fizeram um modelo que era absolutamente terrível para a população e era muito pior do que esse que está sendo apresentado nesse momento. Depois, mudaram a questão do aporte. Enfim, não mudou muita coisa. Mas, a Assembleia teve um papel fundamental que foi discutir, foi ouvir a sociedade civil organizada, foi ouvir a população em cada região do estado, com audiências públicas”, enaltece.

Mabel observa que o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR), recentemente, emitiu um parecer que indica que as rodovias, especialmente entre Curitiba e Ponta Grossa e região dos Campos Gerais, que deveriam ter vida útil de oito anos já estão deterioradas. “Não deu nem a metade da vida útil delas. Isso é um prejuízo em torno de R$ 250 milhões. É mais uma conta que vamos pagar pela ineficiência e pela esperteza de alguns, das concessionárias, que não fizeram o trabalho que deveria ser feito”, critica.

Confira como foi a entrevista com Mabel Canto na íntegra: