Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024

“Mandato de deputado tem que ter autonomia”, defende Aliel Machado

2022-08-24 às 15:30

Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quarta (24), o candidato a deputado federal Aliel Machado (PV) defendeu a necessidade de autonomia dos parlamentares e falou sobre suas alianças políticas para a campanha em busca do terceiro mandato na Câmara Federal.

Aliel é candidato a deputado federal pela Federação Brasil da Esperança (PT/PC do B/PV), que apoia Roberto Requião para candidato a governador e Lula para presidente.

O parlamentar defende que tanto os deputados quanto os prefeitos precisam de diálogo e de diplomacia nas suas relações com os outros poderes. “Não podem ser nem oposição ao ponto que ele não consiga defender e trazer aquilo que é importante e nem puxa-saco ao ponto que ele não possa cobrar”, argumenta. Na análise de Aliel, um prefeito que exerce oposição radical ao governo trava crescimento e investimentos no município; ao passo que um bajulador perde força para cobrar o que é de direito da cidade.

“O mandato do deputado tem que ter autonomia. O nosso mandato é um mandato com autonomia, que deve satisfação às pessoas”, ressalta.

O candidato sustenta que ser diplomático não quer dizer não ter lado, nem faltar firmeza com seus posicionamentos. “Não ter lado é quando a pessoa se esconde de temas importantes. E isso nunca aconteceu comigo”, declara.

Polarização nas majoritárias

Aliel afirma rejeitar a polarização que “endeusa candidatos” e, por isso, nas eleições de 2018, declarou voto em Ciro Gomes. Desta vez, ao seguir a diretriz do próprio partido e das Federação da qual faz parte, o voto será em Lula – e, consequentemente, em Requião, candidato ao governo do Estado pela mesma Federação.

“A polarização está muito forte e temos dois tipos de projetos para o país: um projeto que defende as instituições e o respeito à liberdade e outro projeto, que ameaça a democracia do país. Eu estou em Brasília e sei do que estou falando, e isso me preocupa”, manifesta.

Hoje apoiando os candidatos do PT, o parlamentar enfatiza que tem suas críticas e reservas aos governos de Lula e Dilma, mas, por outro lado, reconhece que essa administração criou programas importantes. “Ponta Grossa mesmo, o governo do PT foi muito importante: o Minha Casa, Minha Vida, são milhares de casas que vieram para cá e agora acabou. Os médicos cubanos foram 61 médicos que vieram para a cidade de Ponta Grossa, tivemos aqui conquistas importantes”, diz.

O voto de Aliel para presidente foi definido pela polarização e pelo que acredita ser uma ameaça à democracia. “Eu vou votar no Lula, mesmo tendo críticas e sabendo que eu tenho que ter um mandato como deputado federal, com responsabilidade em relação à cidade que eu represento, o Estado que eu represento”, pontua.

Outro elemento que pesou para o candidato nessa decisão foi avaliar a gestão atual diante da pandemia. “Eu estava lá, desesperado, e o governo negou a compra de vacina, demorou três meses a mais do que deveria. A sensibilidade que faltou a quem comanda o país, para mim, é muito grave. Então esse é meu posicionamento”, afirma.

Sobre a sucessão ao governo do Estado, Aliel pondera que tem elogios e críticas ao governo Requião, sobretudo, à maneira pessoal que ele conduzia sua gestão. E, mesmo sendo de oposição, afirma ter um excelente diálogo com o governador Ratinho Júnior. “Junto com ele, inaugurei a nova ala do Hospital Regional, o novo prédio do Hospital Universitário, com 20 novos leitos, que fica ao lado do HU, foi a maior emenda parlamentar que um deputado federal já mandou para a cidade, na área da saúde. Emenda individual, não programa de governo que a gente pega carona”, salienta.

O candidato destaca que a inauguração ocorreu em momento crucial, em fevereiro de 2021, no auge da pandemia de covid, quando não havia mais leitos para internação.

Senado

A candidata do PV ao Senado é Rosane Ferreira “uma candidata que foi deputada estadual, deputada federal. É enfermeira, uma mulher séria, correta”, avalia. Entretanto, Aliel analisa que, por ser apenas uma vaga em concorrência neste ano, há outra tendência de polarização: entre o senador Álvaro Dias (Podemos) e Sérgio Moro (União). “Pode ter essa polarização entre o representante do Estado hoje, que é o senador Álvaro Dias e o outro candidato, que hoje é criticado porque traiu ao Bolsonaro e porque perseguiu outros políticos”, avalia.

Questionado se tem uma boa relação com todos os candidatos, Aliel afirma que tem respeito por todos e contato com uns mais do que com outros, mas sempre uma relação de diplomacia. “Não sou oportunista e eu defendo minha cidade, defendo aquilo que acho melhor para a vida das pessoas. Boa sorte a quem tem condições e coragem de sair candidato ao Senado, eu não podia ser”, diz. A idade mínima para se candidatar ao Senado é de 35 anos; Aliel tem 33.

Elogiado pela oposição

Em entrevista recente, o candidato ao governo de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Infraestrutura e homem de confiança de Bolsonaro, foi questionado se a oposição teria deputados que ele respeite. Freitas admitiu que há, na oposição, parlamentares coerentes e citou Aliel Machado entre eles.

“A política não pode ser um ringue de vale-tudo e as suas vontades pessoais fiquem acima das necessidades das pessoas. Isso é uma premissa. E o Tarcísio, eu briguei muito com ele, por causa do pedágio do Paraná, o modelo apresentado pelo governo do Estado e acordado com o governo federal, muito ruim”, diz Aliel.

Com posição crítica ao modelo de concessão de praças de pedágio, Aliel relembra que debateu a questão com Tarcísio, então ministro. “A bancada federal se reuniu com o Tarcísio e eu era uma das vozes que não concordava com aquilo que eles estavam defendendo. Tive a oportunidade de debater com ele, mais de uma oportunidade, a questão do pedágio, sendo contrário àquilo que ele estava propondo. E convenci ele de pontos importantes e fui convencido de outros pontos. Fizemos a boa política, ele sabendo que eu não era da base de apoio política do governo, mas era minha responsabilidade alertar”, cita.

Segundo o candidato, mesmo com divergências, a tentativa de fazer o correto e prioritário para o bem comum os une. “[O elogio de Tarcísio] me deixa feliz, porque, quando vem de uma pessoa que não integra teu grupo político, uma pessoa que não está junto com você, é a verdadeira impressão que você deixa nos lugares onde você passa. Além de levar o nome de Ponta Grossa, o nome dos Campos Gerais, no nosso estado, a nível nacional”, agradece.

Grupo de trabalho

Aliel compõe hoje um grupo de trabalho que integra 147 municípios paranaenses – mais de um terço dos 399 municípios. Nas eleições de 2018, o deputado recebeu votos nominais em 356. “É um trabalho muito ampliado, de fato. São ações que envolvem Brasília, temas importantes, e também a representação política para atender à demanda local. Para mim, é uma alegria muito grande ter estadualizado o mandato, partindo de Ponta Grossa, da região dos Campos Gerais, com todos os municípios e chegando a todos os cantos. Hoje, temos grupos de trabalho no Norte do Estado, no Norte Pioneiro, no Sudoeste, na região do Cantuquiriguaçu, na região Oeste do Estado, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), no litoral e na própria capital”, frisa.

Parceria inexistente

“Eu e Jocelito nunca fomos parceiros, essa é a verdade. Uma vez eu fiz uma propaganda, quando eu era criança, para o Jocelito, contratado pela Maura da Terra Verde, não foi o Jocelito e isso criou uma impressão de que eu era próximo a ele. Nunca recebi apoio do Jocelito em nenhuma campanha. Nunca”, esclarece.

Aliel relata que, nas eleições de 2018, quando pretendia se candidatar a prefeito, já estava com plano de governo pronto e toda a candidatura encaminhada quando foi sondado pelo ex-prefeito que, inicialmente, propôs a ele a retirada da candidatura e, depois, diante da recusa, sugeriu que a filha, Joce Canto – hoje vereadora na Câmara de Ponta Grossa – fosse sua candidata a vice. O partido de Joce não autorizou sua candidatura a vice e já havia acabado o prazo para trocar de legenda.

Em meio a isso, Jocelito perdeu seu programa na TV e Aliel era o único deputado federal de Ponta Grossa em exercício do mandato, o que levou a um acordo para que a outra filha de Jocelito, Mabel Canto, encabeçasse a chapa. “Entreguei tudo o que eu tinha construído, ao longo de quatro anos, e apoiamos a Mabel. Foi minha equipe de comunicação que cuidou da campanha da Mabel, foi minha equipe jurídica que coordenou a campanha da Mabel, foi a minha equipe do plano de governo e quem chefiou o Pietro [Arnaud], que cuidou da campanha dela”, relembra.

Conforme Aliel, havia um acordo para esse grupo político, de que Mabel seria a candidata a prefeita e que ele seria o deputado federal. “Simplesmente, depois dessa eleição, ele desonra a palavra e se lança candidato a deputado federal. Ele não honrou o acordo pelo qual ele me procurou”, diz.

Orçamento secreto

Apoiador contumaz da transparência na política, Aliel expressa sua posição crítica ao chamado “orçamento secreto”. “Nada que é secreto é positivo. Inclusive, sou o autor do primeiro projeto de lei, nessa legislatura, que proibiu o governo de decretar sigilo em documentos públicos”, afirma.

Aliel comenta que o conceito de orçamento secreto “é uma narrativa criada por parte da imprensa: são recursos destinados pela relatoria do orçamento, a nível federal”, explica. O deputado, aliás, defende que haja mais transparência na distribuição desses recursos. “Lá tem uma opção: ou o deputado pede para o prefeito cadastrar, para não aparecer qual deputado que indicou, ou o próprio deputado, com a sua senha, cadastra e solicita o recurso. Nunca pedi para ninguém cadastrar”, acrescenta.

Prefeitura

O parlamentar admite que planeja, um dia, concorrer novamente ao “Palácio da Ronda”, porém, ressalta que essa discussão não deve ser feita com antecedência, nem por vontade pessoal e que, hoje, ele é candidato a deputado federal. “Tenho o sonho, João, de um dia ser prefeito da minha cidade, do lugar onde nasci, moro e tenho a minha família. Qual o tempo disso? Se for possível, é uma coisa que está nas mãos de Deus. Hoje, estou muito preocupado com o que está acontecendo no país, preocupado com a representação política que tem a nossa cidade e eu espero que as coisas se encaminhem”, diz.

Por enquanto, ele não discute a possibilidade de concorrer para prefeito, futuramente. “Na última eleição, abri mão de ser candidato a prefeito para abrir um grupo diferente para podermos representar a cidade. Historicamente, deputados foram prefeitos da cidade, porque [a eleição] é no meio do mandato. Agora, não sou candidato a prefeito, sou candidato a deputado federal”, assinala.

O parlamentar afirma ser o deputado que mais trouxe recursos de emendas para o município de Ponta Grossa. “Estou dizendo isso com comprovação documental, porque foi solicitado à Prefeitura de Ponta Grossa quais deputados encaminharam recursos para a cidade e quais os valores. E eu digo às pessoas: devolvendo aquilo que é de direito delas, que é minha obrigação, mas que a gente luta para conseguir cada vez mais”, afirma.

Entre as conquistas recentes, ele aponta a indicação de cinco novos médicos para as Unidades Básicas de Saúde. São profissionais que obtiveram liminar para serem reintegrados aos programas Mais Médicos ou Médicos pelo Brasil. Segundo Aliel, o secretário-executivo do Ministério da Saúde se comprometeu a enviar oito médicos. Eles já estão atendendo na UBS do Shangrilá, do Gralha Azul, da Vila Santana e do Jardim Amália. A quinta médica deve ser direcionada para a unidade do Recanto Verde.

Enquanto deputado federal, outra conquista que orgulha Aliel é ter trazido 10 novos leitos de UTI e oito respiradores, durante a pandemia.

“[Bolsonaro] mudou o programa [Mais Médicos/Médicos pelo Brasil] e o novo programa não consegue a mesma competência de atendimento que o programa anterior, porque ele proibiu os médicos cubanos, que, em alguns aspectos, são muito elogiados pelas comunidades da atenção primária”, pontua.

Origem humilde

“É muito difícil, porque é um rompimento muito repentino, você está com a pessoa e ela é retirada de você. Faz dois meses e meio. É muito duro, muita saudade. É muito difícil, porque nossa ligação sempre foi muito próxima”, afirma o candidato, sobre a perda recente do pai, Ali Nayef Bark, falecido em junho deste ano. Aliel afirma que, tanto o pai quanto a mãe, são a essência de sua personalidade.

“Nunca sonhei ser deputado, nunca achei que fosse possível para alguém que mora na periferia da cidade de Ponta Grossa. Eu tive o sonho de ser vereador. Esse sonho começou lá atrás, para poder defender meu bairro, meus estudantes, minha vila [a Vila Hilgemberg] e as coisas aconteceram”, afirma.

Aos sete anos, Aliel catava papelão com o pai na rua, quando o Conselho Tutelar o encaminhou para o programa Pró-Menor, da Secretaria Municipal de Assistência Social de Ponta Grossa, um programa que atendia a crianças no contraturno escolar. “Foi ali que eu conheci um pouco mais da política”, observa.

A primeira campanha eleitoral de Aliel, como candidato a vereador, também foi logo após outra perda na família; o falecimento do irmão, em 2008. Acabou não sendo eleito.

“Depois, me elegi em 2012 e eu vi que eu não era mais pedra, que reclamava com os políticos porque a rua da minha casa não tinha asfalto, porque não tinha vaga na creche, porque não tinha trabalho, porque não tinha médico, todos os problemas. Deixei de ser pedra e passei a ser vidraça”, analisa.

Para Aliel, o ponto de virada para compreender que poderia agir diferente daqueles sobre quem tanto reclamava foi a oportunidade de presidir a Câmara de Vereadores. “Nas circunstâncias do momento, quando eu tinha 23 anos de idade, como vereador mais jovem da cidade de Ponta Grossa a assumir a presidência da Câmara na história da cidade. Tive uma grande responsabilidade, que era chefiar um poder da cidade, o Poder Legislativo, e ali as pessoas puderam conhecer um pouco do meu trabalho, da minha personalidade e do meu posicionamento”, destaca.

Das iniciativas no Legislativo ponta-grossense que mais se orgulha, pontua a implantação do sistema de transparência e do controle de gastos públicos, por exemplo.

Confira a entrevista com o candidato Aliel na íntegra: