Sábado, 27 de Julho de 2024

Coluna Draft: ‘Abaixo a Nova Constituição Chilena!’, por Edgar Talevi

2022-09-09 às 13:18
Foto: Reprodução/Telesur

Ideias progressistas e voltadas à esquerda encontram gargalos na opinião das massas populares. Ao menos é o que comprova a rejeição recorde da Nova Constituição Chilena, de modo acachapante, com mais de 60% dos votos contrários à sua implementação.

Boric, Presidente progressista, dá indícios de que não desistirá de compor nova Constituinte, mas as pautas deverão seguir uma cartilha mais ao “centro” da agenda identitária e comportamental.

Destarte, a sanha da esquerda do Chile deverá esperar por outras oportunidades para tentar, paulatinamente, trabalhar seus ideais, haja vista a sociedade ter dado um recado objetivo e direto nas urnas do plebiscito de que um “novo mundo” deverá passar por reformas mais “suaves” e amenas, menos “agressivas”, do ponto de vista comportamental, na agenda de uma sociedade ainda acostumada a pautas conservadoras.

Excessivamente progressista, por conter medidas como a ampliação dos gastos do Estado na criação de sistemas nacionais de previdência social e de saúde, sem explicitar de onde viriam os recursos para tais fins, bem como o tratamento jurídico diferenciado aos povos nativos e previsão constitucional para o aborto, a nova Constituição Chilena não passou de uma mera intenção “sonhática” da esquerda, liderada, agora, por um Presidente jovem e idealista.

O exemplo do Chile, portanto, mostra como as democracias ainda são conservadoras nas pautas comportamentais e temem grandes viradas abruptas. O estranhamento e o ponto fora da curva ficaram por conta da extrema-direita, agora derrotada, nos Estados Unidos, com Donald Trump, em que o conservadorismo ascendeu ao patamar de identificação com o próprio Estado, em um sistema de coronelismo oligárquico, mas despótico e obscuro quanto aos direitos humanos. Ademais, o brexit, no Reino Unido e Jair Bolsonaro, no Brasil, também lograram êxito nas urnas, mas, no caso brasileiro, apontamentos de institutos de pesquisa levantam a possibilidade de derrota do Presidente em uma disputa polarizada contra o ex-presidente Lula.

À esquerda ou à direita, toda virada deve considerar os prós e os contras, bem como o bom senso de que uma transformação que seja duradoura inicia pela fase da identificação com a sociedade, depois por uma transição gradativa e qualitativa, sem a qual poderá ser derrotada por suas próprias aspirações.

“Nos indivíduos, a loucura é algo raro – mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra.” (Friedrich Nietzsche)

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.