Ideias progressistas e voltadas à esquerda encontram gargalos na opinião das massas populares. Ao menos é o que comprova a rejeição recorde da Nova Constituição Chilena, de modo acachapante, com mais de 60% dos votos contrários à sua implementação.
Boric, Presidente progressista, dá indícios de que não desistirá de compor nova Constituinte, mas as pautas deverão seguir uma cartilha mais ao “centro” da agenda identitária e comportamental.
Destarte, a sanha da esquerda do Chile deverá esperar por outras oportunidades para tentar, paulatinamente, trabalhar seus ideais, haja vista a sociedade ter dado um recado objetivo e direto nas urnas do plebiscito de que um “novo mundo” deverá passar por reformas mais “suaves” e amenas, menos “agressivas”, do ponto de vista comportamental, na agenda de uma sociedade ainda acostumada a pautas conservadoras.
Excessivamente progressista, por conter medidas como a ampliação dos gastos do Estado na criação de sistemas nacionais de previdência social e de saúde, sem explicitar de onde viriam os recursos para tais fins, bem como o tratamento jurídico diferenciado aos povos nativos e previsão constitucional para o aborto, a nova Constituição Chilena não passou de uma mera intenção “sonhática” da esquerda, liderada, agora, por um Presidente jovem e idealista.
O exemplo do Chile, portanto, mostra como as democracias ainda são conservadoras nas pautas comportamentais e temem grandes viradas abruptas. O estranhamento e o ponto fora da curva ficaram por conta da extrema-direita, agora derrotada, nos Estados Unidos, com Donald Trump, em que o conservadorismo ascendeu ao patamar de identificação com o próprio Estado, em um sistema de coronelismo oligárquico, mas despótico e obscuro quanto aos direitos humanos. Ademais, o brexit, no Reino Unido e Jair Bolsonaro, no Brasil, também lograram êxito nas urnas, mas, no caso brasileiro, apontamentos de institutos de pesquisa levantam a possibilidade de derrota do Presidente em uma disputa polarizada contra o ex-presidente Lula.
À esquerda ou à direita, toda virada deve considerar os prós e os contras, bem como o bom senso de que uma transformação que seja duradoura inicia pela fase da identificação com a sociedade, depois por uma transição gradativa e qualitativa, sem a qual poderá ser derrotada por suas próprias aspirações.
“Nos indivíduos, a loucura é algo raro – mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra.” (Friedrich Nietzsche)