Por que o mundo é movido por dúvidas? Talvez porque sejam elas a responder os porquês da vida, sem que saibamos as razões. Mas, por quê?
A gramática de nossa maravilhosa Língua Portuguesa nos saúda com o delicioso uso dos porquês. Isso nos ajuda a compreender melhor os caminhos por que percorrem escritores e nós mesmos, nas aventuras do conhecimento.
Vejamos os porquês de uma forma simplificada: primeiramente, quando fizermos uma pergunta, o vocábulo “por que” será sempre separado e sem acento: “Por que aprender gramática”? Mesmo caso ocorre em situações em que “por que” é usado com mesmo sentido de “pelo qual”, “pela qual”: “Você veio por que caminho”? Fácil, não é mesmo?
Outra forma de usarmos os porquês, na forma separada “por que”, mas com acento “por quê”, é quando o termo aparece no fim da frase, em sentenças, normalmente, interrogativas: “Você não quis fazer a tarefa, por quê?”; ou, ainda: “Nada foi acrescentado ao relatório, por quê?” Nada difícil, apenas uma regrinha básica. Concordam?
Sigamos com os porquês: Quando ousarmos responder a uma pergunta, mesmo que esta seja “filosofal” – ai de nós – nossa palavrinha mágica estará sempre juntinha e sem acento: “Comecei a estudar gramática porque tenho interesse em vestibular”. Ainda temos a opção de usarmos “porquê” – assim mesmo, junto e com acento – nos casos em que for sinônimo de motivo, causa, indagação: “O redator explicou o porquê de cada emenda”; ou, ainda: “Qual é o porquê de sua resposta”?
Não poderiam nos faltar alguns usos obsoletos, mas não menos importantes. Senão, vejamos: quando estiver em função sintática de conjunção de finalidade (para que), poderemos usar a seguinte forma: “Rezo porque tudo ocorra bem”; outra: “Não trabalhou melhor seu argumento porque não desanimasse a plateia”. Mesmo tendo uso restrito a uma linguagem assaz erudita e em desuso, é válido conhecermos.
Não posso deixar de apresentar outro uso fluente do porquê, no caso em que ele aparece junto, sem acento. Esse é o contexto no qual podemos fazer uma pergunta e formularmos uma hipótese: “Você não veio porque choveu?”; “Ele chegou tarde porque perdeu a hora?” Benditas perguntas retóricas! Quem estará livre delas?
A princípio, o uso dos porquês não é nada difícil. Basta-nos treinar e as dúvidas serão dirimidas naturalmente. Mas, opa! Notem que usei o termo “A princípio”. Pensaram, os prezados leitores, que hoje teríamos apenas um “prato” para o almoço/jantar? Qual nada! Preparei um banquete de Língua Portuguesa!
A expressão “A princípio” equivale a no início: “A princípio pensava em jantar”; “Queria, a princípio, comprar uma casa”. Entretanto, existem outras formas correlatas? SIM! Vejamos: “Em princípio” significa em tese: “Esta solução, em princípio, é a melhor saída para o problema”. Podemos encontrar mais uma forma similar: “Por princípio”. Aqui, o significado é de convicção: “Por princípio, não tolero pessoas racistas”.
Confesso, aos eminentes leitores, meu diletantismo em evocar a Língua Portuguesa, fruto de dezesseis anos de magistério. Isso me faz apaixonado pela alma das letras vernáculas. Para tanto, valho-me dos ilustres versos do notório Walcyr Carrasco:
Impossível amar um corpo
Sem se apaixonar pela alma.