Terça-feira, 24 de Dezembro de 2024

Coluna Draft: ‘As 10 melhores músicas brasileiras de todos os tempos!’, por Edgar Talevi

2024-07-23 às 10:18
Foto: Reprodução/Freepik

As 10 melhores músicas brasileiras de todos os tempos!

A arte é a fenomenologia do âmago do humano. Se Shakespeare, para Harold Bloom, inventou o humano, certamente muitos compositores e intérpretes brasileiros deram voz à ontologia da vida e ao empirismo da cultura por meio da poética das canções que se eternizaram como patrimônio nacional, quiçá mundial.

Uma lista de que constem 10 melhores canções brasileiras de todos os tempos não está incólume de questionamentos. De igual modo, não pretende estar fechada. Raul Seixas, exímio compositor e intérprete, dissera: “Eu prefiro ser essa Metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. É, nesta aura, que pauto esta coletânea. Não colacionarei mérito a nenhuma composição, tampouco seguirei sistematicamente uma enumeração qualitativa. A ordem das canções representará meramente uma sequência aleatória, sem que haja, portanto, classificação entre as composições.

Não obstante, a seleção das 10 melhores músicas elaborada por este colunista atende ao propósito pedagógico de inserir o contexto social e cultural que cada música ensejou em sua época, refletindo a relevância dos temas abordados e da representatividade nas estratificações linguísticas, diacrônicas e culturais de uma sociedade brasileira que permanece em constante evolução.

Inicio a lista com uma das mais executadas e conhecidas músicas brasileiras de todos os tempos, tanto no Brasil como no exterior: “Garota de Ipanema”, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, de 1962, representando a Bossa-nova e MPB. Ao todo, a canção teve mais de 500 versões, com diferentes intérpretes, além de ser incluída em cerca de 1,5 mil álbuns, vinis e coletâneas ao redor do Planeta. Trata-se de um verdadeiro patrimônio da arte e cultura do Brasil e da humanidade.

Na mesma perspectiva, a música “Chega de Saudade” merece destaque, em segundo lugar nesta lista, por ser considerada a primeira música de Bossa-nova a ser gravada. Assim como a supracitada obra Garota de Ipanema, Chega de Saudade foi composta por Tom Jobim, com letra de Vinícius, em meados da década de 50. A gravação antológica teve sua ascendência na voz do Mestre João Gilberto. A composição marcou época em um momento incipiente da Bossa-nova. Daí sua importância histórica e cultural no Brasil.

Não fugindo ao trato da MPB, temos, em terceiro lugar, “Águas de Março”, de 1972. Sem “clubismo”, embora revele o aspecto saudosista deste articulista, Águas de Março é um compêndio lexical sui generis, pela riqueza vocabular e sinonímica do idioma, tendo em Elis Regina e Tom Jobim sua versão mais vigorosa já gravada.

Em quarto lugar, a composição “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, referida como o hino brasileiro de 1967. Vaiada no festival rede Record de 1967 pelo uso de guitarras elétricas, a interpretação acabou conquistando o público. Ficou em quarto lugar no festival.

Chegamos à metade, com a quinta canção: “Eu bebo sim”, eternizada na voz de Elizeth Cardoso, composta por João do Violão, em 1973. A música eterniza a voz de uma das mais brilhantes intérpretes da Música brasileira. A saudosa Elza Soares, que nos deixou há poucos dias, também registrou sua potente voz na música, em 2002.

Impossível listar as melhores músicas brasileiras sem citar o Rei Roberto Carlos. Em sexto lugar, nada menos que “Emoções”. Segundo levantamento do ECAD, a canção “Emoções” é a música com maior número de gravações por outros intérpretes, entre as 676 canções do Rei cadastradas no órgão. Não só marcou época como continua perene na alma de cada fã do lirismo musical.

Chico Buarque faz jus, segundo inúmeros especialistas, ao prêmio Nobel de Literatura. Isso leva em consideração o fato de que Bob Dylan levou o prêmio em 2016, pelo conjunto da obra. Chico Buarque merece, não somente o Nobel, mas uma láurea ainda maior – se é possível -, pela abrangência e robustez de sua arte. Sendo assim, a canção “Construção” surge, com justiça, nesta sétima posição. Lançada em 1971, para seu álbum homônimo, “Construção” é considerada uma das canções mais emblemáticas da vertente crítica do compositor.

Convicto de que não podemos nos eximir de prestigiar nosso chão, em todas as suas esferas, “premiamos”, nesta lista, em oitavo lugar, “Aquarela do Brasil”, outro hino brasileiro. Composta por Ary Barroso, em 1939, e conhecida no mundo anglófono simplesmente como “Brasil”, é uma das mais famosas canções brasileiras, e que homenageia nossa Terra.

Entrementes, de grande genialidade, a nona posição fica com “Ideologia”, de Cazuza, gravada em 1988, no terceiro álbum solo do compositor, vencedor do prêmio Sharp de melhor álbum, em 1988. “Ideologia” conquistou a geração da década de 80 e 90 e revela a singularidade da inteligência e lugar de fala do artista fenomenal que foi Cazuza.

Reservada, propositadamente, para o décimo lugar, mas digna de disputar o pódio, caso fosse esse o objetivo, temos “Pais e Filhos”, da Legião Urbana, lançada em 1989, no álbum “Quatro Estações”, na composição espetacular de Renato Russo. Uma bandeira de “libertação” da geração Coca-Cola, que vence o tempo e permanece viva ao longo dos anos. Lançando mão de metáforas, Renato conta uma história que une pais e filhos e as relações positivas e negativas. “Pais e Filhos” é icônica e nunca deixará de ser parte da cultura brasileira.

Custa muito selecionar 10 dentre inúmeras canções que marcaram época e permanecem na alma e coração do povo brasileiro. Mas o desafio é mover a curiosidade e instaurar o senso crítico.

Proponho, como posfácio, um pensamento sempre vivo de Vinícius de Moraes: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.