Sexta-feira, 04 de Outubro de 2024

Coluna Draft: ‘As eleições das Favas Contadas!’, por Edgar Talevi

2022-07-20 às 10:49

Mesmo emancipados democraticamente pela liberdade de voto, teremos as eleições mais ásperas de todos os tempos. Mas, para alguns, serão as eleições das Favas Contadas. Será?! Prefiro acreditar que só se vence ao final.

Destarte, a expressão que dá título a esta crônica é bem sugestiva e vem da Espanha, significando algo inevitável, coisa certa, que fatalmente ocorrerá. A origem do enunciado remonta ao tempo em que era comum usar sementes para contar e fazer pequenas operações matemáticas, assim como para jogar sorte. Muito antes da ‘urna eletrônica’, usavam-se favas brancas e pretas nas votações, em que se depositavam as sementes em uma urna. Ao que parece, muita gente confiaria mais nesse estilo de contagem de votos que na urna eletrônica!

No entanto, contra tudo isso não devemos fazer ‘boca de siri’. Opa! Mais uma estilosa expressão. Esta tem sua origem desconhecida, mas o significado é o de pedir segredo absoluto sobre determinada revelação ou fato. A expressão surgiu baseada no hábito de os siris agarrarem objetos com suas garras, e não com a boca, e não soltarem de forma nenhuma.

Mas, cuidado para não ‘fazer um fiasco’. A Itália nos legou esta expressão, com o sentido de fazer má figura, sair-se mal em alguma situação. ‘Fazer fiasco’ é frase que nasceu nos meios teatrais italianos e originalmente foi grafada “far fiasco”, cuja tradução literal é ‘fazer fiasco’.

Segundo nos conta o professor Alexandre Rangel, a expressão nasceu de uma infeliz performance teatral no século XVII, e é atribuída ao que ocorreu com o arlequim bolonhês Domenico Biancolelli, que se vangloriava de improvisar apresentações cômicas tendo por tema qualquer objeto que tivesse nas mãos.

Certa noite, ele apareceu carregando uma garrafa, mas não conseguiu produzir nada sobre o tema que fizesse o público rir, ao que teria exclamado: “É tua culpa, fiasco!” Surge, aí, nossa expressão tão famosa!

Entendo que muitos fiascos são feitos e vivenciados no dia a dia, mas que ninguém os use de desculpa para fazer alguém de ‘gato-sapato!’ Aparece para nós mais uma expressão usadíssima e pouco conhecida sobre suas origens. Pois bem, vamos a ela: ‘fazer gato-sapato’ é um enunciado tipicamente brasileiro e significa tratar com desprezo, humilhar, fazer de alguém o que se quer.

A expressão provém de um jogo infantil e tal jogo era uma modalidade de cabra cega, em que uma criança, sempre de olhos vendados, é batida pelos companheiros que empunham sapatos, chinelas, varinhas, até que consiga agarrar a um deles, seu substituto. ‘Gato-sapato’ seria essa criança entregue ao arbítrio alheio, humilhada. Que terrível!

De tantas e tantas aventuras literárias se constrói nossa Língua Portuguesa que, em tempo, sempre foi bem tratada por Nélida Piñon, membro e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras. E é dela o epílogo desta crônica:

“Se vive e se escreve sem rede de segurança!”

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.