Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Ayrton Senna: morre um herói, nasce a lenda!’, por Edgar Talevi

2022-05-27 às 10:56
Foto: Getty Images

Millennials, agora chamados “carinhosamente” de Cringes, além de outras gerações a que quisermos chamar à baila, nasceram e cresceram sob as asas de heróis. A falta destes hoje é fator relevante de escassez de referências de valores.

Década de 80, início dos anos 90. Hiperinflação, impeachment do ex-presidente Collor, desemprego, futebol decadente na “terra da bola” e a desesperança de viver presente nos olhos lânguidos dos brasileiros. Mas havia ainda um último suspiro poético nas manhãs de domingo, ou, até mesmo, nas madrugadas, quando a localização era o Japão: Ayrton Senna!

Acostumados a sentir adrenalina da vitória de um piloto que empunhava a bandeira nacional com o orgulho a que muitos já não estavam mais acostumados dado o cenário caótico da nação, multidões idolatravam o jovem que lembrava o quanto é bom ser brasileiro.

Para que tenhamos fatos:

  1. Senna venceu uma corrida praticamente sem freios. Isso foi em Snetterton, na Inglaterra, em 1982. Isso impressionou até os mecânicos da época.
  2. Senna foi considerado o melhor piloto de todos os tempos pelos próprios pilotos de F1. Em uma pesquisa realizada, em 2009, pela revista britânica Autosport, com todos os pilotos vivos que já passaram pela F1, Ayrton foi o mais mencionado. Foram, ao todo, 217 votos para Senna.
  3. Pilotos mais recentes, tais como Sebastian Vettel, Jenson Button, Lewis Hamilton e Fernando Alonso estão entre os fãs assumidos do piloto Tricampeão Mundial de F1.
  4. Ayrton Senna impressionou o mundo no GP do Brasil, em Interlagos, em 1991, quando na volta 65, percebeu que havia perdido a terceira marcha. Ele simplesmente completou a corrida usando apenas a sexta marcha. Vitória épica, emocionante e mundialmente conhecida e reconhecida como uma das maiores da carreira do gênio.
  5. Em 11 de abril de 1993, Senna voltou a assombrar o mundo, em Donington Park, com um verdadeiro show de malabarismo, genialidade, emoção, inteligência e quantos substantivos ou adjetivos forem possíveis mencionar aqui.

Tratava-se, nada menos, de pular da quinta para a primeira posição em apenas uma volta. Detalhe: a pista estava úmida e escorregadia. Essa é, até o momento, considerada a maior volta da história da F1 pelas circunstâncias adversas da pista e qualidade dos adversários à frente de Senna, no circuito.

Em homenagem a Senna, uma placa com a escrita “a melhor volta do século” está presente no museu do circuito de Donington Park, em uma ala inteira dedicada ao brasileiro.

Como não bastassem tantos resultados automobilísticos, Senna carregava a pecha da esperança brasileira no porvir ao falar de Deus, assumindo-se cristão, em um mundo cético, do contexto automobilístico, principalmente da categoria de maior prestígio, a F1.

Recheado de amigos, mas de adversários lendários, como Alain Prost e Nigel Mansell que protagonizaram acirradas disputas nas pistas contra o brasileiro, mais e mais Senna conquistava fãs no Brasil e no mundo, pela audácia e talento. Isso também mexeu com todo o povo brasileiro, que comprava as “brigas” pela TV e torcia como se dentro do carro estivesse, guiando para um mundo melhor, um Brasil diferente.

Senna foi vanguarda na inspiração da autoajuda, mas não a piegas de hoje em dia. Foi o acalento do mérito, do esforço e do trabalho unido ao talento. Juntou seus treinos físicos constantes com a melhor concentração mental para que elevasse a bandeira nacional ao pódio sempre que pôde. E o fez por 41 vezes.

Todo ano é assim: Primeiro de Maio o sofrimento e a tristeza vêm à tona quando lembramos do que poderia ter acontecido se Senna saísse ileso da curva Tamburello, que levou sua vida, entretanto jamais apagará o legado da esperança trazida por ele a nós, brasileiros, que, sôfregos, pilotamos nossas vidas na certeza de que nossa bandeira, de luta, perseverança e valores estará erguida onde quer que estivermos.

Fiquemos, portanto, com a lembrança maior dos 161 GPS disputados por Senna; 65 Pole Positions; 41 Vitórias; 2982 Voltas na liderança; 19 Voltas mais rápidas; 3 Títulos Mundiais. E a bandeira brasileira na mão, sempre que vencia. E venceu muito. Morreu vencendo o medo. Morreu para entrar na Vida Eterna.

Em sua lápide, está escrita uma frase que sempre o acompanhará: “Nada pode me separar do amor de Deus!”

Morreu um herói, mas nasceu uma lenda: Ayrton Senna do Brasil.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.