Millennials, agora chamados “carinhosamente” de Cringes, além de outras gerações a que quisermos chamar à baila, nasceram e cresceram sob as asas de heróis. A falta destes hoje é fator relevante de escassez de referências de valores.
Década de 80, início dos anos 90. Hiperinflação, impeachment do ex-presidente Collor, desemprego, futebol decadente na “terra da bola” e a desesperança de viver presente nos olhos lânguidos dos brasileiros. Mas havia ainda um último suspiro poético nas manhãs de domingo, ou, até mesmo, nas madrugadas, quando a localização era o Japão: Ayrton Senna!
Acostumados a sentir adrenalina da vitória de um piloto que empunhava a bandeira nacional com o orgulho a que muitos já não estavam mais acostumados dado o cenário caótico da nação, multidões idolatravam o jovem que lembrava o quanto é bom ser brasileiro.
Para que tenhamos fatos:
Tratava-se, nada menos, de pular da quinta para a primeira posição em apenas uma volta. Detalhe: a pista estava úmida e escorregadia. Essa é, até o momento, considerada a maior volta da história da F1 pelas circunstâncias adversas da pista e qualidade dos adversários à frente de Senna, no circuito.
Em homenagem a Senna, uma placa com a escrita “a melhor volta do século” está presente no museu do circuito de Donington Park, em uma ala inteira dedicada ao brasileiro.
Como não bastassem tantos resultados automobilísticos, Senna carregava a pecha da esperança brasileira no porvir ao falar de Deus, assumindo-se cristão, em um mundo cético, do contexto automobilístico, principalmente da categoria de maior prestígio, a F1.
Recheado de amigos, mas de adversários lendários, como Alain Prost e Nigel Mansell que protagonizaram acirradas disputas nas pistas contra o brasileiro, mais e mais Senna conquistava fãs no Brasil e no mundo, pela audácia e talento. Isso também mexeu com todo o povo brasileiro, que comprava as “brigas” pela TV e torcia como se dentro do carro estivesse, guiando para um mundo melhor, um Brasil diferente.
Senna foi vanguarda na inspiração da autoajuda, mas não a piegas de hoje em dia. Foi o acalento do mérito, do esforço e do trabalho unido ao talento. Juntou seus treinos físicos constantes com a melhor concentração mental para que elevasse a bandeira nacional ao pódio sempre que pôde. E o fez por 41 vezes.
Todo ano é assim: Primeiro de Maio o sofrimento e a tristeza vêm à tona quando lembramos do que poderia ter acontecido se Senna saísse ileso da curva Tamburello, que levou sua vida, entretanto jamais apagará o legado da esperança trazida por ele a nós, brasileiros, que, sôfregos, pilotamos nossas vidas na certeza de que nossa bandeira, de luta, perseverança e valores estará erguida onde quer que estivermos.
Fiquemos, portanto, com a lembrança maior dos 161 GPS disputados por Senna; 65 Pole Positions; 41 Vitórias; 2982 Voltas na liderança; 19 Voltas mais rápidas; 3 Títulos Mundiais. E a bandeira brasileira na mão, sempre que vencia. E venceu muito. Morreu vencendo o medo. Morreu para entrar na Vida Eterna.
Em sua lápide, está escrita uma frase que sempre o acompanhará: “Nada pode me separar do amor de Deus!”
Morreu um herói, mas nasceu uma lenda: Ayrton Senna do Brasil.