Quarta-feira, 08 de Maio de 2024

Coluna Draft: ‘Balacobaco do Português’, por Edgar Talevi

2021-12-03 às 10:56

Quem nunca teve um “faniquito” ao deparar com alguma dúvida sobre Língua Portuguesa? Isso é mais comum do que se pensa. Prova disso são as inúmeras regras de hifenização, acentuação e por aí vai! Mas, o genial, quando tratamos do nosso Português, é o fato de ele ser “serelepe” em relação às palavras inovadoras que surgem a cada dia na linguagem do povo.

Percebamos algumas delas: o termo usado no parágrafo anterior – faniquito – significa “chilique”. Quantos de nós já tivemos um momento desse diante de uma prova de Português!? Não percamos outra palavra supracitada, a saber, serelepe. Essa equivale a esperto, vivo dentre outras conotações.

Impossível considerar nosso idioma “mixuruca”, haja vista suas multifacetadas expressões e variações linguísticas. Aqui surgiu mais uma gíria popular: mixuruca (de pouca qualidade, ruim). De ruim não há nada em nosso querido Português. Concordo com aqueles que acham difícil decorar tantas normas, mas isso enobrece o idioma e o torna valoroso, nunca “xexelento”. Ops! “Xexelento” é algo de pouco valor; estamos longe disso em nossa linguagem.

Um dia, certo aluno, disse-me que não conseguia assimilar determinadas nomenclaturas gramaticais e análises sintáticas. Ouvi-o dizer que parecia uma “urucubaca”. Eu sorri a ele e me propus a dispor de mais atenção e tempo para dirimir as dúvidas. O engraçado foi ouvi-lo falar um termo folclórico, tal como “urucubaca”, que diz respeito à má sorte, feitiço.

Entrementes, estou de acordo com muitos gramáticos que avaliam um texto por sua coesão e coerência, tendo a medida correta entre aplicação gramatical e conteúdo. Assim, posso dizer que tal produção escrita não é uma “gororoba”. Mais uma para nossa coleção! “Gororoba” pode significar comida mal feita, mas, ao mesmo tempo, como metáfora, um texto mal produzido. Por que não?

Antes que pensemos que, por não dominarmos a gramática normativa da Língua Portuguesa – este colunista está entre os que permanecem aprendendo e jamais saberá o bastante -, somos “mequetrefes” (indivíduo sem importância). Tomemos por base a vivacidade do idioma, pois este sempre está sendo construído no dia a dia, na fala gostosa de nossa gente. Portanto, nada de desespero! Somos todos fluentes em Português, devendo apenas acrescentar à escrita mais qualidade sempre que possível.

O ávido leitor deve estar pensando no título desta crônica e aguardando o porquê do vocábulo “balacobaco”. É simples! O termo diz respeito a uma festa ou beleza excepcional. Nosso Português nos saúda com gratas expressões, que enriquecem nosso vocabulário, daí ser passível de comemoração!

Mas, para quem não entendeu “bulhufas” – coisa alguma, nada -, digo que estamos juntos nessa! É para isso que servem os curiosos, como eu, que não desistem de chafurdar nos dicionários da vida e nas gramáticas do acaso.

Grita-nos aos ouvidos a frase do saudoso gênio da poesia, Renato Russo, com quem terminamos este texto aprendendo mais um pouquinho sobre nosso Português: “Eu canto em Português errado; acho que o imperfeito não participa do passado”.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.