Em nossa democracia ainda infante, a maturidade plena da cidadania chega por meio do desenvolvimento da informação, da apuração dos fatos e da construção de conhecimentos que promovem na sociedade a dialética do plural. Esse é o nicho do qual faz parte o jornalista, que colabora (do latim “colaborare” – ajudar, trabalhar junto) de um ideal de mundo equânimo, comedido e sensato.
Da notícia in loco, dos fatos inamovíveis, às vezes pouco palatáveis, mas sempre verdades objetivas e honestas, até mesmo alcançando as burlescas pantomimas da classe política, o jornalista redesenha, sem nunca desconfigurar, a realidade diante do ávido leitor/espectador/ouvinte.
Faça-se jus e obtenha-se mérito à classe que tanto se mostra perseguida em tempos de contumaz perseguição ideológica e aparelhamento estatal de personagens risíveis, porém poderosas, que ferem a democracia com retóricas pejorativas e radicalizam discursos que causam torpor e estranheza no dia a dia dos meandros da sorrateira arte de desdizer o óbvio.
Para que tenhamos a noção da execração a que estão submetidos os profissionais da comunicação, em 2020, em pleno ano de Pandemia, em que o mundo mais precisou de informação livre, o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), evidenciou um crescimento vertiginoso de violência contra a categoria desses profissionais, na casa dos 105%, com Jair Bolsonaro liderando ataques. Para a FENAJ, o aumento da violência está associada à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República e ao crescimento do bolsonarismo.
Sozinho, ainda segundo a FENAJ, Jair Bolsonaro respondeu por 175 registros de violência contra a categoria (40% dos 428 casos registrados). Isso, em pleno regime “democrático” por que passa o Brasil, em um momento de necessidade rigorosa de informação e instrução à população.
No ano passado, os achaques à categoria dos jornalistas, segundo Relatório da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, teve novo aumento, desta vez de 21%. Somente em 2021, foram registrados 145 casos de violência contra esses profissionais em todo o Brasil. A ofensa mais comum, ainda segundo o Relatório, foi a agressão física, responsável por 89 vítimas.
De acordo com o Presidente da Abert, Flávio Lara Resende: “A liberdade de imprensa não aceita retrocessos. O direito constitucional da sociedade brasileira de ser informada sobre fatos que impactam o seu cotidiano somente será garantido com uma imprensa livre.”
A liberdade de imprensa precisa da garantia da imprensa livre de discursos de ódio, bem como da estabilidade do projeto democrático, sem que haja cerceamento do direito de informar, opinar e exercer seu mister.
A figura do jornalista é peça basilar no tabuleiro do Estado Democrático de Direito, em que não se admite censura, nem atos ideológicos persecutórios. Ganha-se toda uma sociedade com o livre-arbítrio de um jornalismo sério, sem amarras e veiculado com a responsabilidade de que lhe é pertinente, em um país multifacetado e diversificado como o Brasil.
Segue sendo, segundo se pode inferir da hermenêutica da Carta Magna da República, o leitor/espectador/ouvinte o único censor da informação, dando a esta o devido apreço e atenção, com pleno direito ao contraditório, sem que, para tanto, outros interesses de poder interfiram no trabalho e ofício do jornalismo em sua integral e íntegra missão de promover a verdade e o conhecimento.
Se reconhecemos datas tão notórias, tais como 2 de setembro de 1945; 31 de março de 1964; 20 de julho de 1969; 15 de março de 1985 e, não menos importante, 2 de outubro de 2022, aplaudamos ao jornalismo que, por eficiência e honrada responsabilidade, legou-nos a memória que se perenizou na história.
Juahrez Alves dá-nos o epílogo deste flerte com o protagonismo do jornalismo em dias tão calamitosos como os nossos: “A imprensa é a voz dos oprimidos e o terror dos malfeitores!”