Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Bem-vinda, Língua Portuguesa!’, por Edgar Talevi

2021-10-13 às 11:30

Bem-vinda, Língua Portuguesa!

Nada melhor que saudar nossa dileta Língua Portuguesa com um adjetivo cordial. E isso está presente na frase que dá título à presente crônica. Notemos, no entanto, que o termo “bem-vinda” tem hífen, tal como constante do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, pois o sentido equivale a “bem recebida”, portanto, grafado corretamente.

Outro detalhe explícito-implícito no título deste texto é a separação do adjetivo de saudação – “bem-vinda” – do vocativo – termo de chamamento – “Língua Portuguesa”, por meio de vírgula. Essa é a regra gramatical para esses tais casos: sempre separar o vocativo dos demais termos da oração por vírgula. Ex. “Olá, prezados leitores”. Fácil, não é mesmo?

Ah, sim, diria o mais curioso dos estudantes! Concordo em gênero, número e grau com a interjeição! Mas, por quê? Simples: a frase “Ah, sim” é uma exclamação positiva e deve ser escrita com vírgula entre os termos. O problema é quando o “internetês”, neologismo usado modernamente para se referir à linguagem utilizada na internet, toma conta do discurso e, alguns, lançam mão do termo “Assim”, no sentido de “Ah, sim”, em concordância com algum enunciado anterior. Assim não dá!

Destaco que devemos valorizar nossa Língua Pátria cassando os equívocos. Notemos que, neste parágrafo, usei o verbo cassar, com “ss”. Qual seria a diferença para “caçar”? É bem simples: Caçar significa procurar: “A polícia caçou o criminoso”. Entretanto “cassar” é revogar: “A justiça cassou a liminar”.

Pensemos que é fundamental estudarmos as normas de nossa querida Língua Portuguesa a fim de escrevermos melhor. Aqui faço uma pausa para analisar a frase supracitada. Usei, no início deste período, o termo “a fim”, separado, pelo fato de que a expressão equivale a “para”, demonstrando finalidade. Caso fosse o caso de evidenciar semelhança, poderia usar “afim”: “Eles têm teorias afins”.

Para que entendamos bem as ditosas normas gramaticais da Língua Portuguesa, seria interessante sentarmos à mesa e estudarmos com afinco. Opa! Novamente interpelo! Sentar à mesa não tem o mesmo sentido de sentar na mesa, pois seria mal educado de minha parte fazê-lo, não acham?

Sendo assim, sentemos à mesa para jantar, mas não na mesa, pois aí teria o sentido de ficar em cima do utensílio. Segue o mesmo exemplo a frase: “Sentaram ao piano para tocar”. Caso semelhante podemos encontrar em: “Estou ao celular”. Percebamos que “estar ao celular” é a forma adequada. Se dissermos “Estou no celular”, o sentido seria de “estar dentro”, uma impossibilidade física!

Neste contexto, é preferível estudarmos a gramática a apenas lermos bons livros sem nos preocuparmos com as tantas regras de nosso idioma? Eu digo que as duas coisas estão corretas. Leiamos bons livros, mas aprendamos com os Mestres da Literatura, como Miguel Sanches Neto, Róbison Benedito Chagas, Dione Navarro, Francielly da Rosa, Paulo Leminski e tantos outros gênios da arte da escrita.

Ah, sim! Não posso esquecer de uma última observação: quando usarmos o termo “preferir’, deveremos dispensar um intensificador, tal como “mais”. Deste modo, seria incorreto dizer-escrever: “É mais preferível ler a estudar”. Continuemos com o adjetivo preferível sem intensificá-lo, pois ele, por si só, indica opção por uma coisa em detrimento de outra e pede somente a preposição “a”.

Vale, para meditarmos, a frase de outro exuberante escritor de nosso idioma, Fernando Pessoa: “Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo”.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.