Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Coluna Draft: ‘Bíblia Sagrada: uma Vida de Liberdade ou Prisão?’, por Edgar Talevi

2022-06-27 às 11:00

A liberdade é uma das insígnias mais preponderantes da humanidade. Por ela se vive ou morre. Mártires da liberdade engrossam a fila de lutas e esbravejam séculos após sua morte. Mas, afinal, experienciar a vida em conformidade com as Sagradas Escrituras da cultura judaico-cristã, torna-nos mais livres ou presos?

Thomas Hobbes, filósofo inglês que viveu entre os séculos XVI e XVII, escreveu uma ilustre frase sobre o a liberdade: “Liberdade significa, em sentido próprio, a ausência de oposição!” Ao analisarmos Hobbes, inexoravelmente seremos levados a crer que uma vida vivida pelos ensinamentos bíblicos é totalmente regrada, portanto de ilusória liberdade, mas, isso não passa de superficial análise e de um sofisma deveras supérfluo.

Busquemos, dentro de nossas 4 paredes territoriais, o Brasil, mais exemplos de liberdade para que avancemos ao tema. “Liberdade ainda que tardia” é a tradução mais comumente usada dada ao dístico em latim que estampa a propositura dos inconfidentes para marcar a bandeira da república que idealizaram, na capitania de Minas Gerais. Deste pedido de liberdade tivemos um mártir: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que estaria, segundo ele, disposto a dar 10 vidas pela Liberdade.

O sonho da Independência, que completará 200 anos agora, em 2022, nada mais foi que um brado por liberdade em nossa incipiente nação. Em 13 de maio de 1888 foi engendrada uma das leis mais importantes da nação, qual seja, a Abolição da Escravatura. Voltamos a ser mais livres. A posteriori, a República fora, em tempos mais recentes, em 1889, um clamor pela liberdade dentro dos entes da federação.

Depois surgiram diversas lutas internas, mas em 1988, com a Constituição Cidadã, o indivíduo ganha, legitimamente, seu direito de ir e vir, sua liberdade de expressão e condição de pertencimento a um regime que prega o Estado Democrático de Direito.

Mas, e quanto à Bíblia Sagrada? Quem busca seus valores ético-morais, dela serve-se de liberdade ou prisão?

Deixemos que ela mesma explique a si própria. O homem foi dotado de liberdade plena ao ser criado, segundo a narrativa do Gênesis, com Adão e Eva. Livre-arbítrio foi concedido a ambos para que desfrutassem totalmente das belezas naturais de um paraíso sobre o qual Deus os pôs.

Segundo o Eminente Teólogo Louis Berkhof, o homem foi criado por Deus conforme uma tipologia divina, em que se prevê corpo e alma em sua constituição, em uma unicidade dicotomista. Para o supracitado teólogo reformador, o homem possui características que lembram a Deus e o põe em verossimilhança com o Criador.

Ainda de acordo com o Berkhof, Deus se revelou, não somente como um Soberano e Legislador absoluto, mas também como Pai amoroso, que busca o bem-estar e a felicidade da sua criatura independente.

O Teólogo Millard J. Erickson enfatiza que o homem ocupa um espaço singular na criação de todas as coisas pelo fato de ter sido criado à imagem de seu Criador. O aspecto relacional entre Deus e o homem é fundamental na análise contextual do emblema da liberdade, pois Deus deu ao homem poder de decidir sobre tomar do fruto proibido ou preservar para sempre sua condição de superioridade em relação aos agora teologicamente concebidos como homens caídos.

No livro do Deuteronômio, componente do Pentateuco, um dos 5 livros atribuídos, segundo a tradição judaica, a Moisés, Deus propôs, não impondo, dois caminhos ao homem, a saber, a bênção e a maldição: “Eis que, hoje, eu ponho diante de vós a bênção e a maldição (…). Deus deixou a decisão às mãos do ser humano e o aconselhou a que escolhesse o caminho correto, a bênção.

O Novo testamento, no exemplo de Cristo, em um Messias que viera para  servir, e não ser servido, a despeito do episódio em que este lavou os pés aos discípulos, conforme narrativa do evangelho de João, capítulo 13, exemplifica o quão doce é a liberdade que Cristo propusera ao homem.

Jesus, o Messias Cristão, entregou a seus discípulos a liberdade de poder servi-lo ou não, escolhendo entre permanecer com Ele ou abandoná-lo, conforme narra o evangelho de João, no capítulo 6, versículo 66 em diante.

Por ocasião do duro discurso de Cristo, vários discípulos que seguiam a Jesus promoveram uma verdadeira onde de retirada, mas os que permaneceram, fizeram-no por saber que com Cristo haveria liberdade e amor. Nas Palavras dos próprios discípulos: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna (…)!” As palavras foram ditas por Pedro, de um conhecido temperamento sanguíneo, que mais tarde negaria ao seu Senhor, mas choraria copiosamente, arrependido.

Jesus, o Cristo, jamais prendeu seus discípulos, a não ser pelo amor e exemplo de vida ilibada e proba, com que manifestou o Pai ao mundo. Em João 10:10, Cristo ainda enfatiza que veio ao mundo para que todos tenham vida e a tenham em abundância. E isso só poderia ser fruto de liberdade, não execração desta.

O mesmo Cristo ainda se encarregou de apresentar a si mesmo como caminho de descanso às almas carentes de refrigério em tempos de obscurantismo na vida terrena, conforme Mateus 11:28: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei!” Qual caminho seria mais prazeroso que descansar aos ombros de seu Senhor?

Outra passagem bíblica de elementar relevância no papel das liberdades da humanidade é a apregoada na segunda carta aos Coríntios, 3:17: “(…) Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade!” A passagem representa a mudança de paradigma da lei mosaica para a graça, em que todos os cristãos são chamados ao arrependimento e à liberdade pela graça.

Não faltam argumentos que compõem a Bíblia Bagrada em favor de uma liberdade vivida, experienciada e palatável aos que nela creem. O exemplo Messiânico, de alguém divino que se humaniza para nos dar a vida eterna é o fator de grande fortuna para as almas aflitas que deste mundo colhem dissabor.

A liberdade é valor incondicional e inerente à vida humana, quer individual, quer em sociedade. O amor é o flagelo mais suave e doce que pelo qual pode provar dessa liberdade o ser humano. Vivamos o hoje, pensando que muitos morreram para que tivéssemos a liberdade de escolha que hoje temos, dentre os quais, o maior exemplo deles, Cristo, o Salvador.

“A vida só se compreende mediante um retorno ao passado, mas só se vive para diante” (Soren Kierkegarrd).

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.