Quarta-feira, 24 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘BolsoLula – um Brasil em disputa!’, por Edgar Talevi

2021-12-08 às 10:51

2022 nem nasceu e já aparenta senilidade. Isso porque as peças do xadrez político se movimentam desde 2018, como se houvesse um terceiro turno eleitoral ao Planalto. Teremos as eleições mais importantes de nossa incipiente redemocratização.

O PT, principal força de “esquerda” política em Brasília, deu início às tratativas para seleção das produtoras que farão os programas de campanha do ex-presidente Lula nas rádios e TV, em 2022. Incluídas no pacote da convocação às interessadas, o partido solicita propostas que possam dar contorno de marca visual, linguagem, formato e ideias dentre outros detalhes que são capazes de convencer os eleitores no minimundo dos dias que antecedem a eleição. Tudo isso para garantir volume de propostas, com alcance ideológico, popular e capaz de garantir ao ex-presidente o tão sonhado retorno ao Executivo Nacional.

Entretanto, um trecho do texto publicado pelo partido chama a atenção ao pedir que as pretendentes direcionem o olhar sobre o segmento do eleitorado que votou em Lula, mas em 2018 foi com Bolsonaro, porém cogita retornar às origens petistas.

A isso dá-se o nome de “BolsoLula”. O fenômeno é possível graças, em parte, à consolidação da “personalidade” – personagem -, protagonismo que assume a figura de um “salvador” da pátria em tempos de enigmas conjunturais políticos e desconfigurações econômicas no campo macroestrutural.

O Brasil acostumou-se a escalar determinados “Messias” em tempos de desalento social e político. Assim foi em 2002, com Lula, e em 2018, com Bolsonaro. Se a isso podemos chamar de cultura política tipicamente brasileira ou simplesmente alternância de paradigma ideológico, não sabemos. Certo é que a polarização evidente no cenário atual manifesta, mais uma vez, o desejo de perpetuar o sistema dualista – bipolar – eleitoral que vigora há décadas no país.

Para se ter uma ideia do vaivém eleitoral, uma pesquisa do Ipec, em junho deste ano, apontou que 25% dos brasileiros que votaram em Bolsonaro em 2018 dizem ter certeza de que votariam em Lula em 2022.

Segundo o supracitado instituto de pesquisa, a maior parte dos brasileiros que votou em Bolsonaro e agora pretende apoiar Lula é do sexo masculino (53%); tendo cursado até o ensino médio (36%); morando na região Sudeste (44%); católica (50%); com renda de até um salário mínimo (41%).

Mas, afinal, quais seriam os motivos que levaram o eleitor, outrora “lulista”, a ter votado em Bolsonaro em 2018? Segundo alguns especialistas, 3 eixos temáticos promoveram a mudança:

  1. O sentimento da anti-política: o fenômeno dos “outsiders” – candidatos sem ligação anterior a pleitos eleitorais – com o discurso fortemente alinhado contra a corrupção, como se esta fosse um mecanismo de governo de candidaturas de carreira, o que, obviamente, beira o absurdo;
  2. A indigesta e ineficiente gestão macroeconômica de Dilma, com leniência com a inflação e desempenho pífio do PIB, seguido, principalmente, pelos índices crescentes de desemprego;
  3. O desejo de uma política mais robusta na área de segurança pública.

Tais eixos movimentaram o discurso das candidaturas mais conservadoras, de modo a ocupar o espaço do campo progressista. Infelizmente, muitos candidatos “outsiders” que foram eleitos lançaram mão da radicalização, com arroubos de retórica para hegemonizar seus nichos eleitorais, descambando à extrema-direita, com o negacionismo e as vicissitudes vistas hoje.

No entanto, com o infortúnio da Pandemia da COVID-19, com milhares de vidas perdidas, o retorno do descontrole da inflação, que corrói os salários, o desemprego a índices alarmantes e a ineficiência da gestão na segurança pública parece ter arrefecido o movimento anti-política. Teremos, ao que tudo indica, um reencontro com a “velha” política pragmática, mas histórica, em nosso país. O próprio Presidente, eleito como “o novo” – mesmo há anos no Congresso Nacional como Deputado Federal -, com o discurso que vociferava a corrupção, com uma agenda de pautas comportamentais conservadoras, comprometendo-se a ir de encontro ao toma-lá-dá-cá, estendeu a mão ao PL e debandou para o Centrão, expondo-se a um fisiologismo em nada diverso daquele praticado por seus antecessores. Isso desmotivou parte de seu eleitorado que, agora, vislumbra o retorno ao voto “garantista” no plano social, tendo em Lula o representante de maior afinidade.

2022 parece eternizar 2018. Os atores estão prontos para entrar em cena e fazer andar as peças do tabuleiro eleitoral. Resta-nos saber se teremos mais do mesmo ou seremos capazes de promover alguma mudança de postura identitária nos postulantes ao Planalto. O futuro está em jogo, e, mais do que nunca, é imprescindível o fortalecimento da democracia e a composição de uma estrutura de governo que represente menos o sistema e mais os seus mantenedores fiéis, os eleitores.

as opiniões expressadas por nossos colunistas não refletem, necessariamente,
o posicionamento do portal D’Ponta News.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.