Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Coluna Draft: ‘Cadeiras se viram para o talento!’, por Edgar Talevi

2022-05-16 às 10:57

O que é Arte? Existe alguma definição lógica, palpável capaz de compreender, apreender seu significado, ou, melhor, sua amplitude? Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores gênios de nossa poética, em seus versos de “Memória”, disse: “(…) Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.”

Por certo, estamos filosofando sobre uma das grandiosidades da arquitetura humana, das invenções mais sagradas do transcendente, da engenharia mais moderna e, não obstante, mais antiga, paradoxalmente, do ser humano.

Entretanto, ao olharmos brevemente pelas frestas do tempo – sim, frestas, porque as épocas são, preponderantemente, marcadas por obscurantismo -, poderemos suscitar uma nueza límpida em nossas almas, advindas do que nos é mais precioso: a existência.

Se traçarmos uma linha do tempo da arte que chegou até nossa terra, o Brasil, observaremos relances artísticos remontando ao Trovadorismo. E, aí, as cantigas acompanhadas por instrumentos musicais, em uma clara herança da poesia lírica, seria a resposta do que é arte.

Chegando ao Classicismo, poderíamos classificar a arte como o homem ao centro, o racionalismo, tudo isso expresso em poemas épicos, tais como “Os Lusíadas”, de Camões. Entrementes, passeando pelo Quinhentismo, veríamos definições menos românticas e com valorização de informações – valha-nos, Caminha.

O Barroco – Ah, o Barroco -, em suas dualidades, conflitos, oposições, figuras de linguagem. Seria a arte um embate permanente dentro da alma humana? Saberiam nos dizer Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira?

Arcadismo. O termo parece menos conhecido, mas é fruto de um esforço para um retorno ao olhar para a natureza. Habitamos um insano mundo em busca de lucidez somente encontrada no bucolismo.
Romantismo e suas gerações. Mal do século. Pessimismo. Ultrarromantismo. Condoreirismo. A vida só vale pelo encantamento do que é fugaz. E o que nos pertence, afinal?
Realismo. Escola Machadiana. Crítica ao comportamento social. Análise psicológica (se isto fosse a tônica atual, poucos sobreviveriam).

Naturalismo e os demais ismos, tais como Parnasianismo e sua arte pela arte. Simbolismo, em que o mundo virou uma metáfora do viver. Expectamos espiritualidade sem envolvimentos maiores, além do que já temos e somos. Seríamos espirituais, de fato?

Pré-modernismo – um breve anúncio – do que seria a grande escola Modernista. O rompimento surge (sempre houve, mas mascarado, dissimulado), em que sonham poetas com a liberdade.

Pós-modernismo. Se alguém ousar descrever ou classificar como escola ou movimento, favor completar o que ninguém ainda pôde fazê-lo, pois nada que seja “Pós” tem completude em um tempo líquido e efêmero.

Mas, afinal, se em todos os sentidos e movimentos ainda não completamos o que o ser humano procura, posso afirmar, como espectador da vida, que não sabemos do que necessitamos. Somos alma em construção – diria Jean-Paul Sartre -, mas de que é feita nossa alma?

Quero propor um caminho a que grandes pensadores chegaram ao contemplar a alma humana e deparar com a desrazão da existência. Friedrich Nietzsche assegura que “Sem a música, a vida seria um erro.”
De modo semelhante, Arthur Schopenhauer afirma: “A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.”

Qualquer semelhança com o dia de ontem, 15 de maio de 2022, não é mera coincidência. Vivemos tempos de muitas intempéries, mas, ao mesmo tempo, aquela fresta de luz a que me referi no início deste artigo, existe e deu provas disso neste domingo.

O chão de nossa terra, a cidade de Ponta Grossa, em seus quase 200 anos, no seio de nosso estado, o Paraná, demonstrou a força do talento e da arte com novos significados ao apresentar a todo o país – ao mundo –, crianças, adolescentes, que deram voz – literalmente – ao sonho de uma vida menos distópica e mais feliz.

E lá estava uma das vozes mais lindas do já afamado programa “The Voice Kids”, Giovanna Barbiero. Giovanna menina. Giovanna moça. Giovanna criança. Giovanna adolescente. Giovanna que cantou aos 12, mas já comemora seus 13 anos.

Misturadas à voz dela, diversas crianças com exímio talento e que provam que a arte imita a vida. Ou seria o contrário? Do modo como considerarmos, a vida foi cantada nos versos de um palco sob os ouvidos treinados e atentos de Carlinhos Brown, Maiara e Maraísa e Michel Teló.

As cadeiras, no formato do programa, são o degrau entre uma realização e uma continuidade, pois desistir jamais fará parte de quem encanta quando canta.

Mas, para Giovanna… aquela menina-moça-criança, cheia de arte, sutileza, simpatia e tão humilde para com todos – este colunista é seu fã e a conhece -, teve, nada menos, que Carlinhos Brown, exímio percussionista, representante da genialidade do Nordeste, além de uma das maiores duplas sertanejas de todos os tempos, Maiara e Maraísa, virando a cadeira para o talento e a arte de Giovanna Barbiero.

É difícil explicar o sentimento que desperta no público quando uma promessa-realidade da música canta aos ouvidos técnicos de jurados tão eminentes e cativa por seu talento. Mas torna-se fácil perceber que o caminho para “Gio” está apenas começando.

Assim, nosso chão Ponta-grossense está muito bem representado. Deste modo, a arte, talvez inexplicável até aqui, mas provada ao sabor do intangível da musicalidade de Giovanna, esteja a mostrar que um mundo melhor é possível,

Giovanna menina, Ponta-grossense, artista, cantora, encantadora. Parabéns! E a nós, fiquemos com a frase de Aldous Huxley, escritor e filósofo inglês: “Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música.”

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.