Quinta-feira, 10 de Outubro de 2024

Coluna Draft: ‘Cuidado com mau-caráter!’, por Edgar Talevi

2022-01-31 às 10:51

Cuidado com mau-caráter!

Existem pessoas com problemas variados. Mas nada supera aquelas com ranço à Língua Portuguesa! Isso me faz lembrar das regrinhas que versam sobre a pluralização de adjetivos, por exemplo. E, observemos, que são muitas as complexidades. Vejamos uma delas: Cuidado com mau-caráter no plural! O correto é: “Maus-caracteres”. Nada de escrever “Maus-caráters”!!!

Outra singularidade encontramos na formação do vocábulo “Bicampeão”. Não falta mau uso, da seguinte forma: “Bi-campeão”. O termo, portanto, não deve ser grafado com hífen.

Quantas peculiaridades de nosso abastado idioma! Mas, vamos mais: quando o assunto for referente “a lucro”, primeiramente não se usa acento diacrítico grave indicativo de crase por ser vocábulo masculino. Além do mais, cuidado ao lançar mão dos termos “mas” e “mais”, pois não são sinônimos. “Mas” é conjunção adversativa, indicando contrariedade: “Ele é rico, mas arrogante”. “Mais”, por sua vez, via de regra, aparece como advérbio (classe aspectual invariável – valha-nos, professor Luiz Carlos Travaglia): “Talita é a menina mais bonita da turma”.

Mas (conjunção adversativa), voltemos à pauta! Quando nos referirmos a lucro, todo cuidado é pouco, pois haverá ajustes necessários. Sendo assim, prefiramos: “O lucro caiu 20%”. Jamais: “O lucro caiu em 20%”!

Sigamos em nossa imersão gramatical. Sempre que “dispusermos” de tempo, leiamos mais. Opa! Notemos: o correto é “dispusermos”, não “dispormos”. Simples, mas não simplista!

Para os notívagos, como este colunista, as palavras tornam-se tangíveis à “meia-noite”! Isso mesmo: com hífen! Já para os que preferem a luz do dia, podem ajustar seus horários para o “meio-dia e meia”, grafando “meia”, sinônimo de metade de hora, no feminino.

Haja paciência para robustas regras! Dentre elas, talvez, uma pergunta salte aos olhos: “Onde fica a biblioteca”? A resposta, certamente, virá, pois o advérbio “onde” foi usado adequadamente. Jamais se use “Aonde fica a biblioteca”, pois não implica movimento.

A “viagem” pelo país da gramática é prazerosa e eu a faço “há” 16 anos! Notemos que, ao me referir ao tempo decorrido, optei pelo verbo haver – há -. Não obstante, a palavra “viagem”, substantivo, também encontra guarida, na grafia, com “G”, ao oposto do verbo “viajar”, com “J”.

Fato é que, para tantas vicissitudes, poderíamos fazer um anexo. Mas, esperem um pouco! Qual a forma correta? Anexo, anexa ou em anexo? A resposta é: todas as assertivas estão corretas, a depender da concordância a que nos propomos: “Segue anexa a carta”; “Segue anexo o documento”; “Seguem em anexo os papéis”.

UAU! Não deixemos nossas digressões nos roubarem a atenção! Confesso haver multifacetadas regras que nos incitam a estudar mais e mais. Deixo a todas e todos mais uma dica: “Para mais informações, acompanhem nossa singela coluna semanal”! Notem: “Mais informações, nunca “maiores” informações”.

Bem-vindos e bem-vindas ao universo da Língua Portuguesa! “Bem-vindos(as), com hífen, sempre!

Nossa crônica encerra as supracitadas lições com versos precisos e preciosos de Israel Saraiva: “Escrevo errado para você entender o que é certo”.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.