Sábado, 04 de Maio de 2024

Coluna Draft: ‘É tudo uma “cuestão” de Língua!’, por Edgar Talevi

2024-04-23 às 10:00

É tudo uma “cuestão” de Língua!

 

Sôfregos, insistimos em pronunciar mais e mais palavras, em uma busca incansável pela natureza da forma quando encontra o conteúdo. Assim, podemos dizer que, absortos por inúmeras regras gramaticais, celebramos, cada vez que acertamos uma pronúncia, a beleza e o encanto do idioma mais arrebatador do mundo, nossa Língua Portuguesa!

Sim! Digo nossa, porque a Língua é do povo, constituindo seu maior patrimônio – ou seria o inverso? – coisas da Língua e da língua. Causas, causos e casos em que uma simples letra MAIÚSCULA ou minúscula parece resolver.

Para tantos enredos prosódicos, inspiremo-nos em algumas palavrinhas que suscitam dúvidas quanto à pronúncia. Não que a comunicação seja prejudicada quando as intempéries e peripécias normativas do idioma não são atendidas, mas vale a pena conhecer a norma para que não sejamos pegos embebidos de informalidade no momento em que nos dispusermos a propalar um elóquio, na exegética exposição da linguagem.

Se não, vejamos alguns exemplos. A questão toda poderá ser resumida a evitarmos a pronúncia de um inexistente ditongo “EU” na palavra “questão”. Tremeu, tremeu, enfim caiu o trema, portanto não existe possibilidade de haver uma “cuestão” mal resolvida. Nunca houve!

Digamos que, para isso, muitos gramáticos nos forneceram subsídios importantes para análise de nosso idioma. Opa! Não ficará incólume essa palavrinha! De modo adequado, evitemos pronunciar subsídio com som de “Z”: “subzídio”. O correto a ser dito é “subcídio”.

A luta não para por aqui. Outro vocábulo com potencial devastador é inexorável. Isso porque há quem pronuncie “ineczorável”. Mas, Ismael de Lima Coutinho, Sérgio Zan, Celso Cunha, Evanildo Bechara dentre tantos eminentes conhecedores de nosso vernáculo preferem dizer “inexorável”, com som de “Z”.

Sigamos com as particularidades de nosso Português. Evitemos, a todo custo, “pertubar”. Sequer deveríamos PERTURBAR, mas, indubitavelmente, seria a melhor pronúncia. Sei que estamos entretidos em um círculo vicioso que, por vezes, torna-se iminentemente exaurível. Observemos, deste modo, que jamais deveremos usar “entertido” ou, até mesmo, “ciclo vicioso”. Valha-nos, Róbison Benedito Chagas, célebre haicaísta.

Não posso segurar a ansiedade, neste exato momento em que trilhamos o caminho da gramática, de lembrar de que, neste sábado, haverá clássico Paulista na Copinha de Juniores do futebol nacional. Nada menos que Palmeiras e São Paulo. E, vejamos, salta aos olhos a palavra “Juniores”, pois é a forma adequada. Evitemos dizer ou grafar “Júniors”.

Sigamos: o tempo do “Aerosol” acabou. Mas, a natureza não está a salvo, pois permanecemos com o uso indiscriminado do “Aerossol”. Porém, a diferença na escrita e pronúncia é, alvissareiramente, uma forma de apaziguar o tema, haja vista “Aerossol” ser a única forma gramaticalmente aceita, mesmo que politicamente incorreta.

Tudo isso parece uma enorme espinha de peixe na garganta de quem vive da escrita e do enunciado oral do idioma. Entretanto, há que se considerar positivo o fato de que, ao menos, não escrevemos mais “espinha” de peixe!

Chegamos ao ponto em que este cronista se despede de seu universo diegético. Todas as lições são gratuitas. Isso mesmo: gratuitas, não “gratuítas”. Não há – nunca houve – acento diacrítico no “I”.

Sirvamo-nos dos versos de Mário Quintana, a fim de que comecemos bem o fim de semana: “Ser poeta não é uma maneira de escrever. É uma maneira de ser. O leitor de poesia é também um poeta”.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.