Passadas as eleições, chega de mistério! É hora de contar toda a verdade, e ela começa pela exclamação: ‘Em quem eu votei!’
Sim, a exclamação é pertinente, pois quem vota, vota em algum candidato, JAMAIS “PARA” algum candidato. Portanto, digamos e escrevamos sempre: ‘votei em fulano’, nunca: ‘votei para fulano’, pois votar “para” alguém, em Língua Portuguesa, equivale a votar em lugar de alguém, portanto configurando crime eleitoral!
Sigamos nossa aventura pelo país das desmitologizações linguísticas. Quando falamos em eleições, já que é o clima ainda de nossa nação, estamos nos referindo, primacialmente, à Constituição, e a ela devemos obediência.
Combinemos o seguinte, então: ‘obedeçamos à Constituição em todos os seus versos’. Notem, prezados leitores, que lancei mão da crase antes do termo ‘Constituição’, e isso é devido ao fato de que o verbo ‘obedecer’ é transitivo indireto. Trocando em miúdos: o verbo ‘obedecer’ rege a preposição ‘a’ após ele. Sendo assim, quem obedece, obedece “A” alguém ou “A” algum mandamento.
O mesmo fato ocorre com o verbo desobedecer. Assim, temos: ‘quem desobedece, desobedece “A” alguém ou “A” algum mandamento. Ex. ‘Desobedecemos à ordem expressa da direção’. Simples, não é mesmo?
Outra curiosidade se dá com o verbo ‘assistir’. Quando usado no sentido de ‘ver’, ele é indireto, portanto exige preposição “A” após. Ex. Assistimos ao filme; assisti à novela.
No entanto, se o sentido atribuído ao verbo assistir for o de ajudar, auxiliar, ele será transitivo direto, ou seja, sem preposição. Ex. O médico assistiu o doente.
Semelhantemente temos outro verbo muito comum no dia a dia da escrita e da fala: ‘aspirar’. Quando a intenção do verbo for de ‘inalar’, será direto, sem preposição: ‘Aspiramos o odor das flores campesinas’. Se, no entanto, o sentido for de ‘almejar’, ‘pretender’, devemos usá-lo com preposição: Aspiramos a um cargo superior em nosso emprego.
Mas bom mesmo é fugir um pouco do entorno das eleições para poder falar de Linguagem e suas vicissitudes, concordam?
Encerro nossa crônica desta quarta-feira com a sabedoria de João Guimarães Rosa, o tapeceiro linguístico de nosso idioma. Aprendamos e reflitamos com ele:
“Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor (…)”