O mais extraordinário personagem da história da humanidade. Dividiu o nosso calendário em dois: antes e depois de seu nascimento. Devotado por bilhões de pessoas em todo o mundo. Afinal, quem foi Jesus Cristo? Trata-se de um personagem mítico, criado por foça de uma incipiente religião oriunda do judaísmo ou temos, de fato, uma pessoa histórica, cuja narrativa é dada a conhecer pelos 4 evangelhos canônicos?
Estamos falando de uma força que sobrevive há cerca de 2 milênios. Mas, pouco se sabe, do ponto de vista científico, sobre sua vida. Teólogos e Historiadores que concordam com a possibilidade de sua existência, põem-na entre os anos 4 e 6 a.C. Não obstante, as fontes mais fidedignas que temos a respeito da pessoa de Jesus são os evangelhos que compõem a Bíblia Sagrada.
Notemos, no entanto, que os relatos sobre a vida de Jesus, obtidos nos evangelhos, não procuram estabelecer provas sobre sua existência, pois são símbolos de fé e contam com a tradição oral dos cristãos primitivos, que não tinham dúvidas em relação à historicidade da vida do Messias.
Mas, com o avanço da ciência e novas descobertas arqueológicas, a figura histórica de Cristo segue sendo explorada por pensadores das duas esferas, tanto cética quanto crédula.
Se ousarmos promover uma linha do tempo na história, veremos que a discussão em torno da existência de Jesus, como pessoa, não encontrou obstáculos. Somente em 1778, com a publicação de sete fragmentos de Hermann Samuel Reimarus, cujas notas foram postumamente publicadas por Gotthold Lessing, é que encontramos um questionamento mais concreto sobre o tema. Entretanto, é no século XIX que o debate ganhou notoriedade na academia, sobretudo com a publicação da obra “A Busca do Jesus Histórico”, de Albert Schweitzer, em 1906, notável pensador, que receberia o Nobel da Paz, em 1952.
O tema está longe de ser uma unanimidade, mesmo em se tratando de países com tradição cristã, tais como a Inglaterra, em que, segundo pesquisa encomendada pela Igreja da Inglaterra e a Aliança Evangélica, mostrou que 40% dos ingleses acredita que Jesus Cristo é mito, ou seja, não passa de uma história de ficção.
Em busca de uma reflexão histórico-teológica sobre o tema, sigamos as pistas de especialistas dos dois segmentos, a saber, céticos e crédulos, para que construamos nosso entendimento dentro da razoabilidade de foro íntimo de cada indivíduo.
Segundo o pesquisador americano Joseph Atwill, Jesus não passa de um mito. O personagem, para o pensador, tem suas palavras e ações compondo uma gama de elaborada narrativa inventada por aristocratas romanos, com o objetivo de pacificar os judeus – um povo envolvido em sucessivas rebeliões contra o império.
No entanto, ressaltemos que, historiadores das mais prestigiadas universidades do mundo afirmam que restam poucas dúvidas sobre a existência de Jesus ter sido real e histórica. Ao menos essa é a visão do professor do Instituto de História da UFRJ e autor dos livros “Jesus Histórico – Uma Brevíssima Introdução”, e “Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos”, André Chevitarese.
Segundo o debate histórico acadêmico, uma contundente e forte argumentação em favor da literalidade da vida de Jesus é a existência da múltipla confirmação, em que autores diferentes, que jamais se conheceram, afirmam fatos semelhantes sobre o personagem, em diferentes épocas. De igual modo, dificilmente pessoas estudiosas do primeiro século, tendo Paulo (Saulo de Tarso) como uma delas, conhecedor da cultura helenista, Teólogo e Talmidim (aluno destaque da escola teológica da época), com cidadania romana, teriam dado a vida por uma crença totalmente mítica ou lendária.
Outra fonte de confiabilidade é Flávio Josefo, um historiador judeu que, em sua tentativa de escrever a história do povo judeu, desde o Gênesis até sua época, citou Jesus como pessoa histórica. Mais historiadores, no século seguinte a Josefo, citaram Jesus e seus seguidores como personagens reais.
Entrementes, ainda há pensadores que insistem em implicar uma mítica à história de Jesus. Dentre esses destaca-se o historiador e ativista ateu americano David Fitzgerald, em sua obra “Nailed” (um trocadilho com as palavras em inglês para “pregado” e “resolvido”).
Para o supracitado autor, em sua obra miticista, Jesus não foi uma pessoa real, mas apenas uma figura mítica. Contra a tese de Fitzgerald, no entanto, existe a contraposição, a antítese Mito e Místico. Para Fitzgerald, Jesus é um Mito, uma figura lendária, fruto da imaginação, inventividade e ficção religiosa de época. Mas, para eminentes teólogos, como Bultmann e Bornkamm, que pregavam abertamente não ser preciso do Jesus da história, porque o importante é o Jesus da fé, não há nenhuma dificuldade em crer na literalidade da existência de Jesus.
O ser Mito é, também, desconstruído por Leonardo Boff e Sobrinho, que assumem o conhecimento de Jesus por sua práxis de amor fiel até a morte. Ademais, comungam do mesmo pensamento os célebres teólogos González, Faus e Schillebeeckx.
Mais um esforço no sentido de evidenciar a literalidade da vida de Jesus é vista em John Meier, teólogo católico, professor de Novo Testamento na Catholic University of America, de Washington. Em seus estudos, existe um apanhado histórico amplo que evidencia a literalidade da narrativa bíblica que se apresenta com robusta prova da irretratável existência de Jesus.
Destarte, o professor do IFMG, especialista em História da Arte, Alex Fernandes Bohrer, em sua obra “Jesus – Um Breve Roteiro Histórico para Curiosos”, reforça a tese de que existe, nos evangelhos canônicos, um cabedal significativo em informações potencialmente valiosas para os historiadores que, mesmo “escandalosas” para a época, estão presentes nos relatos evangelísticos, o que assegura a veracidade da “propaganda cristã” acima de qualquer suspeita.
“A fé não está em conflito com a erudição e muito menos é irreal e suspeita”, afirma o brilhante James Dunn, autor de “Redescubrir a Jesús de Nazaret: lo que la investigación sobre el Jesús histórico há olvidado.
James Dunn é considerado uma das maiores autoridades mundiais em Paulo de Tarso e um dos maiores eruditos em Novo Testamento.
Segundo Dunn, os céticos autores que o antecederam, erraram em suas premissas básicas ao permitirem a si mesmos equivocidades quanto ao ponto de início de suas investigações, contemplando dados importantes em uma perspectiva errada. Seriam eles: a fé (por meio dela é que possuímos os evangelhos, ou seja, através da vida de “crença” dos discípulos). Ninguém promoveria um personagem, ou morreria por ele sendo este uma ficção.
O segundo equívoco, para Dunn, foi a “crença” de que, com a imprensa, de Gutenberg, a valorização dos fatos se deu cabalmente pelos meios escritos, desprezando as tradições orais, antes nunca contestadas.
Por fim, James Dunn assegura que o outro erro foi o de promover a figura de Jesus diferente de seu universo contextual, em que simplesmente ele não seria um judeu, fruto de sua época. Isso evocou a necessidade de se travar uma disputa quase judicial na esfera teológica para que se comprovasse a história de um homem que viveu seu tempo, contudo sendo vanguarda para o mundo vindouro.
Jean-Paul Durand, doutor em direito Canônico, diz, em sua obra “Instituições Religiosas”, que “A comunidade eclesial não é presidida, nem animada, nem construída por ela própria, mas por esse Jesus que aparece em sua universalidade: é chamado de Deus, Filho de Deus”.
Independentemente da posição concebida por uma pessoa, um indivíduo ou uma alma a respeito da pessoa de Jesus – se para uns, apenas Jesus, mas para outros, o Cristo -, dificilmente será possível aniquilar as provas de sua existência literal/real neste mundo. É notória e farta a coleção de provas a favor de sua vida na Terra. Se Ele continua Vivo, dependerá de um ato de fé individual.
Invoquemos, para dar expressões finais a este artigo, as Palavras mais que sábias das Escrituras Sagradas, no Salmo 116:2: “Os homens passam, mas a verdade do Senhor dura para sempre”.