“Narguile” faz mal à Língua Portuguesa!
Não é só questão de saúde pública, mas de prosódia: Narguile faz mal à Língua Portuguesa! Mas, por quê? Embora amplamente “usado” – inalado e falado – como paroxítono, o vocábulo é oxítono, por isso a pronúncia adequada é Narguilé, com acento agudo na última sílaba.
É comum encontrarmos diversas palavras com deslocamento, na pronúncia, da sílaba tônica, e a isso chamamos de silabada. Portanto, não vitimemos o Narguilé, mas, cuidado: embora a gramática não faça mal a ninguém, o prejuízo do narguilé à saúde poderá ser inevitável!
Sigamos com outros exemplos: aqui a contrariedade será pujante, mas vamos lá! Catéter não existe! Isso mesmo! O correto é Cateter, pois é mais um caso de vocábulo oxítono.
A extensão do problema da pronúncia desconhece limite. Vejamos: Qual é o nome da qualidade de quem é discreto? Seria “discreção”, conforme apresenta o adjetivo? A resposta é Não! A forma adequada é “discrição”. Sendo assim, quem é discreto age com discrição. Simples assim!
Vamos mais: “asterístico” é outra forma estranha à norma culta, tendo como correto o termo “asterisco”. E, para quem acha este tema supérfluo, cuidado! Há muita gente que o entende “supérfulo” – com deslocamento da vogal de modo irregular.
Além disso, temos o famoso “beneficiente”, palavra que “quer” denotar altruísmo – mas de boas intenções não se compõe a Língua Portuguesa – portanto, usemos “beneficente”, pois a causa é nobre!
Notável mesmo é a ousadia de quem quebra “récorde”. Explico: na forma inglesa – “record” – estaria correta a pronúncia, mas aportuguesada, digamos “recorde”, como paroxítono.
E a quem tanto milita em favor de nosso idioma, poderíamos premiar com um “Nobel” – nunca “Nóbel”, pois se trata de oxítono também.
Falar com correção não é “privilégio” de quem decora dicionário, mas daquele que pratica a leitura e é bom ouvinte nas aulas de Gramática! Notem, prezados leitores, que usei o termo “privilégio”, pois seria totalmente inadequado se grafasse “previlégio”
Ah! Poderia alguém “reivindicar” o direito à cidadania brasileira para escapar às normas de nosso idioma. Entretanto, pensemos bem: “reivindicar”, tudo bem, mas “reinvindicar”, jamais! Cuidemos da consoante “v” que não deve surgir em meio a essa palavra de ordem!
Tudo isso esquenta os ânimos de quem admira a Língua Portuguesa! Afinal, criamos um “clima” de muita aprendizagem. Quem sabe, também, seja a hora de verificar como está o “clima” em nossa cidade! Para tanto, vejamos o que dizem os “meteorologistas”. Se “der praia”, falaremos assim como escrevi. Caso o clima não esteja bom, surgiria um desprevenido “metereologistas”. Aí, o melhor seria ficar em casa, não é mesmo?
Fica, certamente, a pergunta: A quem devemos recorrer quando houver necessidade de consultar a correta grafia de uma palavra? É bem simples: existe, no site da ABL (Academia Brasileira de Letras), o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), com uma gama de 382.000 entradas, ou seja, “quase” a totalidade de vocábulos de nosso idioma. Ele é o documento oficial de nossa Língua Portuguesa. Para qualquer dúvida em relação à escrita e, consequentemente, pronúncia, o VOLP apontará a forma correta dos vocábulos e tem o mister de ser a palavra final quanto ao assunto.
Outra dica: na dúvida, VOLP! Porém, que isso não seja nenhum “impecilho” para aprendermos mais; afinal, o correto, segundo o VOLP, é “empecilho”.
Nada melhor para meditar, ao fim de tantas dicas, que alguns versos de Walcyr Carrasco:
Tem gente
que diz as piores coisas
com os melhores sorrisos.