Sábado, 20 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘“Narguile” faz mal à Língua Portuguesa!’, por Edgar Talevi

2021-11-10 às 10:30

“Narguile” faz mal à Língua Portuguesa!

Não é só questão de saúde pública, mas de prosódia: Narguile faz mal à Língua Portuguesa! Mas, por quê? Embora amplamente “usado” – inalado e falado – como paroxítono, o vocábulo é oxítono, por isso a pronúncia adequada é Nargui, com acento agudo na última sílaba.

É comum encontrarmos diversas palavras com deslocamento, na pronúncia, da sílaba tônica, e a isso chamamos de silabada. Portanto, não vitimemos o Narguilé, mas, cuidado: embora a gramática não faça mal a ninguém, o prejuízo do narguilé à saúde poderá ser inevitável!

Sigamos com outros exemplos: aqui a contrariedade será pujante, mas vamos lá! Cater não existe! Isso mesmo! O correto é Cateter, pois é mais um caso de vocábulo oxítono.

A extensão do problema da pronúncia desconhece limite. Vejamos: Qual é o nome da qualidade de quem é discreto? Seria “discreção”, conforme apresenta o adjetivo? A resposta é Não! A forma adequada é “discrição”. Sendo assim, quem é discreto age com discrição. Simples assim!

Vamos mais: “asterístico” é outra forma estranha à norma culta, tendo como correto o termo “asterisco”. E, para quem acha este tema supérfluo, cuidado! Há muita gente que o entende “supérfulo” – com deslocamento da vogal de modo irregular.

Além disso, temos o famoso “beneficiente”, palavra que “quer” denotar altruísmo – mas de boas intenções não se compõe a Língua Portuguesa – portanto, usemos “beneficente”, pois a causa é nobre!

Notável mesmo é a ousadia de quem quebra “corde”. Explico: na forma inglesa – “record” – estaria correta a pronúncia, mas aportuguesada, digamos “recorde”, como paroxítono.

E a quem tanto milita em favor de nosso idioma, poderíamos premiar com um “Nobel” – nunca “bel”, pois se trata de oxítono também.

Falar com correção não é “privilégio” de quem decora dicionário, mas daquele que pratica a leitura e é bom ouvinte nas aulas de Gramática! Notem, prezados leitores, que usei o termo “privilégio”, pois seria totalmente inadequado se grafasse “previlégio

Ah! Poderia alguém “reivindicar” o direito à cidadania brasileira para escapar às normas de nosso idioma. Entretanto, pensemos bem: “reivindicar”, tudo bem, mas “reinvindicar”, jamais! Cuidemos da consoante “v” que não deve surgir em meio a essa palavra de ordem!

Tudo isso esquenta os ânimos de quem admira a Língua Portuguesa! Afinal, criamos um “clima” de muita aprendizagem. Quem sabe, também, seja a hora de verificar como está o “clima” em nossa cidade! Para tanto, vejamos o que dizem os “meteorologistas”. Se “der praia”, falaremos assim como escrevi. Caso o clima não esteja bom, surgiria um desprevenido “metereologistas”. Aí, o melhor seria ficar em casa, não é mesmo?

Fica, certamente, a pergunta: A quem devemos recorrer quando houver necessidade de consultar a correta grafia de uma palavra? É bem simples: existe, no site da ABL (Academia Brasileira de Letras), o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), com uma gama de 382.000 entradas, ou seja, “quase” a totalidade de vocábulos de nosso idioma. Ele é o documento oficial de nossa Língua Portuguesa. Para qualquer dúvida em relação à escrita e, consequentemente, pronúncia, o VOLP apontará a forma correta dos vocábulos e tem o mister de ser a palavra final quanto ao assunto.

Outra dica: na dúvida, VOLP! Porém, que isso não seja nenhum “impecilho” para aprendermos mais; afinal, o correto, segundo o VOLP, é “empecilho”.

Nada melhor para meditar, ao fim de tantas dicas, que alguns versos de Walcyr Carrasco:

Tem gente

que diz as piores coisas

com os melhores sorrisos.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.