Sábado, 20 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Neoliberalismo na Educação Brasileira’, por Edgar Talevi

2021-10-20 às 12:44

Neoliberalismo na Educação Brasileira

O neoliberalismo, modelo capitalista que fecundou a partir das décadas de 80 e 90, alterou o cenário político e social dos países em desenvolvimento. No Brasil, o consenso de Washington pôs em xeque a prática pedagógica e concentrou sob o capitalismo e a iniciativa privada as tão importantes políticas de valorização/desvalorização dos profissionais da educação.

Sob esta ótica, a educação brasileira sofreu seu flagelo de descentralização do público mediante concessões à iniciativa privada, bem como perdeu o poderio central nas discussões de vanguarda de construção de conhecimentos para as especulações do mercado e seus investidores.

Deste modo, evidencia-se, na política educacional brasileira, um cenário de privatização do saber, à medida que o mercado extrai das escolas sua mão de obra barata e consegue alcançar o controle das ações políticas de Estado no que respeita à educação. Para Saviani (1991), é fato que a política pública educacional brasileira, a partir da década de 90, rendeu-se à iniciativa privada, focando a descentralização do pedagógico teórico e metodológico das mãos do poder público e passou a ser dirigido pelas especulações advindas do terceiro setor.

Para Galvão (1997) o neoliberalismo na educação brasileira se tornou realidade na década de 90 e trouxe consigo a premissa do desmonte do que é público, a saber, a carreira dos profissionais do magistério na educação básica pública brasileira e a condução do currículo escolar a uma condição de subserviência ao setor privado.

Batista (1995) ressalta que a visão neoliberal na educação brasileira alcançou notoriedade com as políticas de construção de currículo adaptado aos desejos do mercado, projetando, de igual modo, a educação a um patamar de qualificação de mão de obra mera e simplesmente. Isso posto, percebe-se que a construção de conhecimento perdeu espaço vital no desenvolvimento dos pilares do sistema educacional e a noção de cidadania foi ultrapassada pela desvalorização das escolas como promotoras de inclusão social.

Para Favoreto (2008), a luta de classes nunca foi tão necessária para a carreira docente e a construção de um novo patamar educacional no Brasil. A consciência cidadão, para a autora, deverá suprir a lacuna do reformismo neoliberal para que haja maior determinação na aplicação dos conceitos de formação de sujeitos livres através da educação, ´por meio das escolas públicas.

A este respeito, Trópia (2006) enfatiza que as classes trabalhadoras em educação precisam estar atentas aos achaques do sistema político opressor neoliberal para que possa ressignificar o processo educativo dentro do ponto de vista da construção de conhecimentos, não apenas da transmissão de dados e aferição de índices.

Neste ínterim, no que respeita aos índices da educação, percebe-se que o IDEB – Índice de desenvolvimento da educação básica – caminha lado a lado com o sistema neoliberal, haja vista sua metodologia de avanço mediante números e não percepção do processo evolutivo educativo contínuo como um todo. Isso é fruto de um sistema de especulação mercadológico que extrai da educação o que necessita para sua sobrevivência e reitera a mecanização e o tecnicismo da educação.

Entender o sistema educacional e as implicações neoliberais que vigoram neste é imprescindível para a projeção de uma sociedade mais politizada, inclusiva e voltada aos valores humanos.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.