O caminho da desconstrução do desvario dos achaques às instituições erigidas sob a égide da Constituição e insígnia da democracia é o bom senso, e este passa pelo conjunto de forças que se unem pela contrariedade da desrazão e do retrocesso conservador.
Retrógrada, a extrema direita incita à monocracia e totalitarismo, em que o Monarca, em figura Messiânica, nada afável ao contexto humanista, arroga o poder a si, de modo a pôr em xeque os institutos consolidados pelo desenvolvimento do conceito Republicano, tais como o sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, conforme reza a Carta Magna da República. E isso através de eleições periódicas.
O negacionismo arraigado pelos discursos arrogantes, soberbos, difusos e párias que se mantêm à revelia dos fatos nos levam a crer que uma transformação – não mera mudança – mas uma alteração de configuração política é imprescindível, vital ao modus operandi do poder Palaciano de Brasília pós-ditadura militar.
Por ocasião de sua participação por videoconferência em um seminário sobre o Brasil, promovido pela Universidade Hertie School, de Berlim, na Alemanha, o Ministro do STF, Luís Roberto Barroso, afirmou, neste domingo (24), que as Forças Armadas “estão sendo orientadas para atacar o processo eleitoral brasileiro e tentar desacreditá-lo.” Ele apontou, no entanto, o comportamento exemplar das Forças Armadas brasileiras desde a redemocratização do país. Barroso não citou quem estaria orientando as Forças Armadas contra o processo eleitoral.
Neste contexto, se não houver garantia de que as eleições serão livres, de fato, todo o sistema democrático estará sob risco de ruptura, o que levará ao esfacelamento das liberdades individuais, coletivas e, deste modo, desconstruindo anos de um processo de reestruturação da jovem democracia brasileira.
Maus exemplos no trato educacional, com o sucateamento das Universidades, a ciência sob desconfiança, pesquisa e extensão universitária sem investimento necessário, interferência autocrática contra o sistema judiciário, tal como a cessão da “Graça”, “Perdão” Presidencial a Daniel Silveira, deputado aliado da Corte, condenado por 10 votos a 1, em plenário do STF, além da já conhecida ineficiência na gestão da crise sanitária no país propiciam um cenário apocalíptico pelo qual monstros se tornam deuses. Contra isso, a luta no voto a voto até outubro se torna ímpar para a redenção de uma pátria que ainda está aprendendo os primeiros passos da liberdade
A chapa Lula-Alckmin desconstrói biografias que, antes, conflitavam em embates nada amistosos. Mas, nada obsta a que se unam a bem de um patrimônio maior, material, imaterial e, forçosamente, proponham aliança programática a bem do Estado Nacional. Se outrora digladiavam pelo espaço de poder, hoje levantam bandeira de uma força que necessita convergir em torno de um ideal de nação.
O inimigo agora é outro e muito mais poderoso. Não se trata de mera ideologia, mas manutenção da democracia contra o poder da derrocada da esperança e da razão. A grandeza de espírito na relevância e superação de entraves ideológicos é a prova de que se pode transigir para o resgate do bem comum.
Se Lula e Alckmin conseguem ler pela mesma lente neste momento é exatamente porque as forças que imperam na cena política de nossa República apontam para um maniqueísmo contra o qual somente o niilismo teria força para prevalecer e proceder em uma esfera de diálogo em que prevaleçam os interesses do coletivo, acima de enredos pessoais e jactâncias.
Uma sonhada terceira via ainda não se viabilizou, tampouco se acredita ser possível, dado o curto tempo para as definições das eleições e pelo momento revelado pelas pesquisas de intenção de voto. Será o despertamento do voto útil a flâmula da independência do Brasil em 2022.
Em clima árido, nunca se notabilizaram tantas cenas de violência contra jornalistas como em tempos atuais, bem como jamais se “honrou”, laureou a tortura, por meio de elogios a conhecidos nomes, como o do Coronel Carlos Brilhante Ustra, como em tempos hodiernos. O extremismo está ganhando território, e somente uma união nacional poderá fazer valer a vontade popular por meio da conquista da democracia nas urnas eletrônicas.
O povo brasileiro está sendo conclamado a pensar, como nunca fora antes, em seu legado às próximas gerações. Legado este referente à oposição ao desmatamento da Amazônia, ao ataque inaudito aos povos indígenas, à leniência com a inflação, ao desemprego, aos arrochos salariais, à perda do poder de compra, à falta de crédito, ao processo de privatização crescente e acéfalo, à privatização dos direitos humanos a atores políticos institucionalizados por poderes monocráticos, ao negacionismo, à anticiência, aos louvores ao armamento da população, à censura ao bel-prazer de grupos temáticos minoritários etc. etc. etc.
Em tempo, para que não se diga que não falei das flores – parafraseando Geraldo Vandré -: Viva a França! Emmanuel Macron está reeleito, o primeiro a conseguir um segundo mandato após a era Jacques Chirac. Não que Macron seja o exemplo maior de um mundo progressista, mas implicou uma derrota à extrema direita de Marine Le Pen. A Revolução Francesa ainda lega a seu povo a Liberdade, Igualdade e Fraternidade!
Por aqui, que se possa fazer valer, ao menos em tese, o valor da ciência, apregoado pelo positivismo da frase “Ordem e Progresso.”
Sábio mesmo foi Mário Quintana que, em seu tempo, mas muito além de sua época, afirmou em versos simples e provocativos:
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!