Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘O homem insone!’, por Edgar Talevi

2022-07-06 às 10:56

Fluoxetina, buspirona, escitalopram, divalproato de sódio, quetiapina, risperidona, paroxetina, duloxetina, trazodona, clonazepam, diazepam, mirtazapina, clorpromazina, fluvoxamina, melatonina, zolpidem. Isso é o resumo de minha jornada até aqui, aos 40 anos.

Pensará o leitor: qual a medida da ‘loucura’ deste colunista ao revelar seu tratamento ao longo de anos? Ou, ainda, seria necessário se expor em tal medida? A resposta é tão certa como é incerta a vida, mas deixar de falar sobre mim, em um momento de crise mundial de transtornos mentais, seria perder a oportunidade de ajudar alguém que tenha ou esteja passando por problemas semelhantes.

Aos 15 anos experimentei um mal chamado atualmente por “transtorno de ansiedade de doença”, ou, a famosa hipocondria. Tal problema se apoderou de mim a ponto de me causar depressão. A vida perdeu a razão.

Tratamento? Havia. Sempre há. Mas escondi o quanto pude e busquei ajuda espiritual. Mas, isso existe? Sim. Neste texto explicitarei tal contexto.

Anos mais tarde, como professor, vivenciei novamente o mesmo problema. Só que agora com novas nuances. A face do mal estava mais obscura, com sintomas invadindo todo meu corpo, indo além da mente. Cheguei a parar, em dado dia, o carro em meio à rua, puxar o freio de mão e esperar pelo desmaio. Estava posta à prova uma nova fase de sobrevivência a mim. Sobrevivi!

Mas, como o título sugere, perceberá o prezado leitor, que escrevo, neste momento, pela madrugada. São quase 2 horas da manhã. Tomei minha dose de quetiapina, clorpromazina e, inovando, 10 gotas de melatonina. Tudo isso sob orientação médica, devidamente prescrito e indicado. Mas, como pode notar o exímio leitor, ainda não dormi. Tentei, é certo, mas busquei refúgio nas palavras da Draft, minha companheira desde agosto de 2021.

Meu diagnóstico segue com Transtorno Borderline, TOC e Transtorno Afetivo Bipolar. Nada disso parece ter cura, mas tem tratamento. Convivo bem comigo mesmo. Os outros é que sofrem. Mas sigo em busca de minha estabilização a cada tentativa terapêutica nova.

Destarte, afinal, por que tamanho desabafo em plena quarta-feira, meio-de-semana? Minha preocupação se espargiu e vai em busca de levar consolo e paz a alguém que sofre e pensa que não existe tratamento para tamanhos problemas. Na verdade, quanto mais se espera para buscar ajuda, maiores serão as cicatrizes.

Uma obra que li e indico, da autora, psiquiatra, Ana Beatriz Barbosa Silva: “Mentes depressivas”, narra com clareza o caminho do entendimento das fases depressivas, bem como aponta diversas formas de se buscar ajuda e se tratar.

Auxílio profissional imediato é o modo mais correto e adequado a se procurar. O psiquiatra e o psicólogo devem ser os profissionais consultados em primeira mão quando sintomas de insônia, tristeza persistente e sem causa, ansiedade generalizada, medo excessivo e injustificável da morte e de doenças, perda do sentido da vida aparecem. Tudo isso poderá levar a sérias consequências se não tratado. Ajuda profissional é o conselho mais útil que posso dar a você que lê este texto.

Ademais, como disse acima, existe uma dimensão espiritual que a própria ciência admite: a autora supracitada, Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra, cita, no capítulo 11 de sua obra, a dimensão espiritual de que todos dispõem. E esse tratamento é gratuito.

Segundo a psiquiatra, “espiritualidade é uma luz poderosa e transformadora, capaz de gerar significado e valor para a vida humana”.

O ditado de que o vazio que existe dentro do ser humano só poderá ser preenchido por Deus é verdadeiro. Com essas palavras, estimulo a que todos busquem sua espiritualidade na maior dimensão possível. No entanto, o tratamento medicamentoso e a ajuda profissional médica é a primeira escolha e a terapia indispensável a quem sofre.

Preconceitos diversos sobre saúde mental são aferidos em uma modernidade líquida, como pensaria Zygmunt Bauman. Parece que tratar câncer, diabetes, anemia e tantas outras enfermidades sérias é mais importante que cuidar da mente. Esse engano leva muitas pessoas ao suicídio. Precisamos falar sobre isso e alertar sobre os riscos de uma vida sedentária de amigos e de Deus.

A busca pela saúde mental começa por uma casa a que possamos chamar de lar, em que os pais instiguem seus filhos a não serem oportunistas à luz do mercado, em busca meramente de resultados na escola, mas percebam neles a importância da construção de valores de um perene processo civilizatório.

Um lar também é fruto de uniões entre cônjuges que olhem um para o outro com o mesmo romance de quando eram namorados. O namoro, na verdade, nunca acaba. Se acabou, é porque não foi tratado, não teve suas alianças polidas ao longo do tempo.

Um boa-noite sôfrego de um filho deve ser sinal de alerta aos pais, em tempos de tanta tecnologia e virtualidade, em que mal conversamos à mesa, presos aos aparelhos móveis celulares.

Beijos não são contratos, como diria Shakespeare, mas selam amorosamente casamentos à luz do mais fraterno amor. Beijos são sinônimo de que o casamento ainda se encontra na fase gostosa, charmosa e envolvente do namoro.

Sei que escrevi demais, prezado leitor, mas muitos podem estar esperando por alguma palavra que venha de alguém que vivenciou suas agruras. Esta pessoa sou eu. Estou curado? Não! Mas estou sendo muito bem tratado profissionalmente e espiritualmente. Sobre este último ponto, a parte espiritual, foi ela quem me curou quando adolescente, aos 15 anos, sem que tivesse conhecimento das fundamentais terapias que hoje estão ao nosso dispor.

Reconheço em Deus a parte basilar de minha história. Mas, asseguro, nada sugere, substitui ou diminui a relevância do tratamento com especialista médico, que é, conforme afirmei, a primeira opção terapêutica. Buscar ajuda profissional é o mais assertivo a se fazer. Isso sem preconceito, afinal, ser feliz custa bem menos do que pensamos.

A quem sofre, meu testemunho! A quem superou, minha confraria!

O epílogo de hoje segue a linha terapêutica sob dois pontos, a saber, a primeira linha, a profissional, e a segunda, mas não menos importante, a espiritual:

“Os cientistas de hoje pensam profundamente ao invés de claramente. Você tem que ser são para pensar claramente, mas pode pensar profundamente e ser insano”. (Nikola Tesla)

“Vinde a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Jesus Cristo, em Mateus 11:28).

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.