Sábado, 27 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘O maior Palavrão da Língua Portuguesa’, por Edgar Talevi

2024-03-18 às 10:00
Foto: Reprodução/Freepik

O maior Palavrão da Língua Portuguesa

Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico

Não é um xingamento! O título desta crônica é a maior palavra da Língua Portuguesa registrada em dicionário. São, nada menos, que 46 letras, compondo um termo que, segundo o dicionário Houaiss, descreve o indivíduo que possui doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas.

E lembrar de quando o famoso “inconstitucionalissimamente” era o TOP entre as maiores “grandezas” de nosso idioma! Mas tudo mudou com a chegada de novos termos, muitos advindos da literatura médica.

Porém, não nos admiremos muito! Existem, em outros idiomas, inúmeras palavras que nos deixam com inveja. Um exemplo é um vocábulo ainda não dicionarizado, oriundo da literatura médica, que possui exageradas 189.819 letras. É isso mesmo! São quase 200 mil letras! “Methionylthreonylthreonylglutaminy (…) até o infinito! Só para se ter uma ideia do tamanho da palavra, são necessárias cerca de 3,5 horas para pronunciar a palavrinha. Haja paciência!

Exemplos de “overdose” de letras estão presentes em diversos idiomas, tais como Inglês, Alemão, Dinamarquês, Espanhol, Francês, Grego, Holandês, Húngaro, Italiano, Sueco e por aí vai.

Mas, afinal, nosso pequeno gigante Pneumoultra (…) está entre as mariores palavras do mundo? A resposta é Não! Isso porque o Português é uma língua flexiva (também chamada fusional), ou seja, nossos limites, em especial no uso cotidiano do idioma, são bem curtos. Temos a ditosa mania de encurtar as palavras. Basta observar a evolução do termo Vossa Mercê, que se tornou Vossa Mercê, depois veio a ser Vosmecê e, por último, Você. Isso sem considerar o “cê”, de muitas glosas gostosas do dia a dia. Aqui também não está incluída a abreviação “vc”, do “internetês”, idioma quase paralelo.

Ao se perceber a extensão morfológica da Língua Portuguesa, tomamos conhecimento do potencial de criação de novas palavras, seja por composição ou derivação. Grande parte das novas excentricidades vernáculas se dá na medicina e na química. E pensar que linguagem e ciências naturais, exatas, biológicas e da saúde não necessariamente eram interligadas no passado! Admirável mundo sintático-semântico novo!

É certo que dificilmente usaremos essas vultosas palavras, mas sempre é bom lembrar que somos herdeiros natos delas, pois, como usuários do Português, ajudamos a criar novos vocábulos todos os dias, na maior parte por neologismos e gírias. Acudam os dicionários que correm atrás de tantas invenções!

Tudo isso demonstra a riqueza que impera em nosso Português, principalmente se o experienciarmos pela literatura de nossos grandes Mestres. Ouso, no entanto, com a devida vênia dos amantes da ficção nacional, adicionar à lista seleta de grandes nomes da literatura um extraordinário autor norte-americano, Sidney Sheldon, cujos livros se tornaram best-sellers. Indico, especialmente, duas obras magníficas, a saber, “Manhã, Tarde e Noite” e “A Fênix”, grandes sucessos e com roteiros perfeitamente trabalhados e envolventes.

No entanto, fiquemos com o sabor de nosso amado Português, sem desconstitucionalizá-lo com “invasores” estrangeiros. Para tanto, sem anticonstitucionalizar ainda mais nosso idioma, valhamo-nos do que ele tem de melhor – nós, os falantes!

E, por falar nisso, cuidado com a “hipopotomonstrosesquipedaliofobia” – medo de se pronunciar palavras grandes ou complicadas!

Para não deixar de fora nossa robusta literatura, convido Clarice Lispector para encerrar esta crônica: “A Língua Portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa do superficialismo”.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.