Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Os Fins justificam os Meios!’, por Edgar Talevi

2022-03-28 às 11:07

Os Fins justificam os Meios!

 

Em política, tudo pode. Afinal, “Os fins justificam os Meios!” A semelhança do momento atual brasileiro não é mera coincidência com o dito popular acima. Aliás, sempre ouvimos a frase acima, atônitos, sem que percebamos seus reais intuitos.

O linguista Ferdinand de Saussure, em “Curso de Linguística Geral”, assegura: “É impossível que o som, elemento material, pertença por si à própria língua. Ele não é, para ela, mais que uma coisa secundária”. Deste modo, para o autor, ao repetirmos exaustivamente determinadas palavras ou, em um aspecto mais amplo, uma frase, perdemos o sentido da literalidade de tais elementos. Daí não conseguirmos refletir mais e melhor sobre alguns conceitos.

Porém, podemos, ainda, determinar a origem de muitas expressões populares usadas em nosso dia a dia. Comecemos, portanto, com a que dá o título a esta crônica. A frase é atribuída ao escritor italiano Nicolau Maquiavel, famoso por atacar a classe governante em suas obras, ganhando notoriedade por “O Príncipe”, publicada postumamente, em 1532. O significado da frase é: se a causa for boa, mesmo sendo ilícitos os meios, há quem arrisque os bons costumes e a ética para executar seus planos.

Vamos adiante, mesmo que “Aos Trancos e Barrancos”. Esta frase é famosa quando o assunto são dificuldades, não é mesmo? Pois bem! A origem dela vem de Portugal e o significado é de algo que segue adiante, mas com muita dificuldade. Tranco é o salto que o cavalo dá, mas também equivale a um golpe repentino. No Brasil, barranco é a ribanceira de um rio que tem margem íngreme.

Confessemos: todas são frases do “Arco da Velha!” A expressão em questão aqui é, deveras, antiga, e remonta, em seu significado, a algo fantástico, mirabolante, antigo e mágico. Ela tem sua origem na Europa.

De acordo com o linguista Flávio Di Giorgio, da PUC-SP, ela é uma referência à faixa multicolorida que surgiu no céu logo após o dilúvio bíblico. Já para o professor de literatura brasileira, Deonísio da Silva, da Universidade Federal de São Carlos, a expressão nasceu a partir das ilustrações medievais que mostravam velhas senhoras, talvez bruxas, sentadas sobre o arco-íris. Seja qual for a origem correta, certamente não deixaremos que a frase desapareça!

Manter uma expressão sempre à vista parece uma aliança que representa uma união, um enlace. Aqui surge a famosa “Até que a morte os separe!” A expressão é usada para designar os laços que unem homem e mulher no casamento, e que este deve durar até a morte.

A origem mais aceita é do Oriente Médio. A história da frase está relacionada às cerimônias de casamentos, principalmente dos ritos cristãos, que concebem os laços do matrimônio como indissolúveis.

Tudo isso nos leva a crer que, por meio de aliança perpétua, feita e selada pelo matrimônio, nenhum “Arranca Rabo” poderia desfazer tal união! Bem, ao menos em tese. Mas, e quanto a essa expressão, citada neste parágrafo? Vamos a ela: sua origem é brasileira e significa uma discussão, uma briga que envolve muitas pessoas, ou seja, generalizada.

Antigamente, em batalhas diversas, arrancar o rabo do cavalo do inimigo era uma façanha extraordinária. O costume surgiu em Portugal, de onde veio para o Brasil e virou prática de cangaceiros, aplicado aos cavalos e, de igual modo, ao gado das fazendas inimigas, em forma de humilhação contra os proprietários.

Mas, cuidado, prezados leitores, pois “As paredes têm Ouvidos!” Isso mesmo! É assim que nos referimos para alertar alguém sobre o que vai ser dito, para que não haja comprometimento. A origem da frase é francesa. Vamos à história: uma mulher, Catherine de Médicis (1519-1589), levou a um dos piores massacres da história da França. Esta senhora controlava tudo que era dito no palácio.

Com tal propósito de poderio desvairado, chegou até mesmo a fazer furos disfarçados entre molduras de quadros, nas paredes e nos tetos do castelo para poder escutar melhor o que era dito e o que poderia ser conspirado contra seu reino. O comportamento de Catherine gerou a expressão usada até os dias atuais.

Valho-me, senhores leitores, da premiação mais importante do cinema mundial, que foi conferida ontem, domingo, 27/03, pela Academia, para entendermos a origem da palavra Oscar.

O termo surgiu espontaneamente por uma secretária da Academia, chamada Margaret Herrick, que, ao ver a estatueta, teria exclamado: “Parece meu tio Oscar!” Alguns historiadores tentaram checar a veracidade dessa lenda e descobriram que Herrick não tinha um tio, mas um primo com esse nome. Seja o que for, ela eternizou o tão conhecido e renomado Oscar ao mundo do cinema.

Vem do filósofo Jean-Paul Sartre a frase que encerra nossa jornada de hoje: “O desejo exprime-se por uma carícia, tal como o pensamento pela linguagem”

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.