Terça-feira, 08 de Outubro de 2024

Coluna Draft: ‘Quais os maiores filmes de todos os tempos?’, por Edgar Talevi

2021-12-27 às 10:30

Quais os maiores filmes de todos os tempos?

As telonas têm o poder de encantar pessoas e divulgar a arte como manifestação cultural da sociedade. Ao ser exibido, um filme será, inexoravelmente, peça fundamental na construção da identidade dos povos. A essa associação da ficção com a vida chamamos de Sétima Arte.

Voltemos um pouco no tempo, assim como nos enredos das narrativas do cinema, para entendermos o surgimento da expressão “Sétima Arte”. Em “O manifesto das Sete Artes”, Ricciotto Canudo, em 1923, “estabeleceu”, não sem contraditórios, as 7 artes clássicas. Embora muito discutido, o documento lançou as bases do pensamento moderno a respeito do cinema e da fenomenologia deste na sociedade.

Contestado ou não, o documento chega até nós com o protagonismo de ter pensado nas artes clássicas de forma organizada e, não obstante, permanece inamovível do uso popular de que consta a classificação do cinema, como a Sétima Arte da lista.

É fato que o cinema é uma aventura pelo mundo da ficção que imita a vida – ou a vida imita a ficção -?, por isso paixões são desenvolvidas quando o assunto se volta às grandes criações cinematográficas ao longo do tempo. Pensar e organizar uma lista dos 10 maiores filmes de todos os tempos é tarefa ousada, nada fácil, mas proponho-me, como ávido cinéfilo e estudante/leitor de ficção, a pautar uma reflexão.

O termo “maiores” parece mais adequado que “melhores”, pois evita detalhamentos técnicos que devem ser discutidos em âmbito acadêmico. Certamente muitos clássicos, alguns premiados, ficaram de fora deste artigo. Seria necessária uma lista de dezenas de títulos para contemplar a todos. Outros, de igual modo, contestados, estão incluídos. Mas vale a pena – com a devida vênia dos exímios doutos em representação – “tietar” os preferidos deste colunista e ressignificar as escolhas a partir de parâmetros de foro estético e social de época. Seguirei uma sequência aleatória, sem nenhuma pretensão de qualificar um ou outro filme pela ordem que daqui consta.

O primeiro filme, imprescindível à construção de conhecimento social e fruto de um trabalho artístico notável é, nada menos, que “Central do Brasil”, de 1998. Estrelado por Fernanda Montenegro (indicada ao Oscar de melhor atriz) e Vinícius de Oliveira, a produção foi indicada ao prêmio Oscar de melhor filme estrangeiro. Além das indicações ao prêmio máximo do cinema mundial, vieram o Urso de Ouro, de melhor filme, e o Urso de Prata, de melhor atriz a Fernanda Montenegro. Segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema, o filme está entre os maiores brasileiros de todos os tempos.

Próximo da lista, chegamos a um clássico do romance: “E o Vento Levou”, de 1939. Estrelado por Clark Gable, Vivien Leigh e Olivia de Havilland, a produção arrebata corações ao longo das décadas, firmando-se entre os maiores romances de todos os tempos. A obra foi selecionada pela Biblioteca do Congresso Americano para ser preservada no National Film Registry (NFR). Além disso, o filme quebrou paradigma ao celebrar o primeiro prêmio Oscar a uma atriz negra, Hattie McDaniel.

É notório que a produção passou, em 2020, por revisão devido às colocações racistas e um posicionamento incondizente com a situação dos EUA pós-guerra civil. Estabeleça-se sempre que, não importa a época em que se construa uma narrativa de ficção, os valores humanos devem ser prerrogativas inegociáveis, e o racismo é, além de crime, um pecado contra o próprio ser humano e Seu Criador.

Entretanto, como pretendemos aqui uma reflexão artística, não podemos desmerecer a envergadura de uma obra vencedora de 10 Oscars (plural de um estrangeirismo, tal como se forma no original) e incluída em quase a unanimidade das listas de críticos em todos os tempos.

Como terceiro filme, encontramos “O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Coppola, de 1972, tendo como principais nomes Marlon Brando e Al Pacino, em seu elenco. Além de premiado, o título marcou época, tendo sido uma das melhores representações de um ator na história do cinema, com Marlon Brando, na personagem de Vito Corleone. Este, talvez seja, o maior filme de máfia de todos os tempos.

O encantamento continua com o quarto filme: “A lista de Schindler”, de 1993, dirigido e produzido por Steven Spielberg. Baseado no romance de Thomas Keneally, o filme reacende a imprescindível discussão em torno das atrocidades da Segunda Guerra Mundial e dos regimes totalitários. O filme carrega 7 estatuetas do Oscar.

Reservado ao quinto lugar e na mesma linha temática do anterior, temos o italiano “A Vida é Bela”, de 1997, dirigido e estrelado por Roberto Benigni. Vencedor da estatueta de melhor filme estrangeiro no prêmio Oscar, a produção erupta a discussão a respeito do valor da vida e da família. Inevitável não se apaixonar pelo enredo apresentado por Benigni.

Em sexto lugar aparece um título aclamado pela crítica, com uma performance fotográfica genial e posto à vitrine por uma plataforma de streaming. Estamos falando de “Roma”, de 2018. Descrita como “dolorosamente bela” e “atraente”, foi escolhida pelo National Board of Review como um dos dez melhores filmes do ano. Venceu em três categorias no Oscar, incluindo a de melhor filme estrangeiro.

Sétimo lugar, nada menos que um das mais disruptivas produções de nosso tempo, “Matrix”, de 1999, abrilhantando os gêneros de ação e ficção científica. Keanu Reeves, Laurence Fishburne e Carrie-Anne Moss protagonizam o célebre filme que promoveu inúmeros debates a respeito da existência ou não de uma “Matrix” no mundo “real”. Um futuro distópico, em uma realidade simulada desenvolvem o enredo do filme que marcou época na categoria de efeitos visuais no cinema. O efeito “bullet time”, no qual a percepção aumentada de certos personagens é representada é um conceito perfeitamente adaptado às cenas desta super produção, além de inúmeras ideias filosóficas e religiosas que ascendem durante a trama.

Não percamos a conta: oitavo filme – “Spotlight: Segredos Revelados”, de 2015. Vencedor de 2 Oscars – Melhor filme e Melhor Roteiro adaptado – o filme desponta como uma das mais inteligentes adaptações de roteiro de todos os tempos. Não bastasse a relevância social do conteúdo da obra, o trabalho de direção impetrou uma salutar reflexão sobre a perspectiva do alcance da religião e da sociedade.

Nono filme: este, provavelmente, tenha as maiores contradições entre todos os supracitados: “007 – Sem tempo para Morrer”. Além da qualidade artística da obra, inapelavelmente há uma quebra de paradigma neste que é um clássico do cinema, possuindo dezenas de títulos anteriores, com vários protagonistas. O fim da misoginia da personagem vivida por Daniel Craig, com revelações robustas quanto à própria personagem deste, humanizando-a como nunca em um filme da franquia torna o título uma importante produção, digna de ser listada entre as maiores.

Chegamos ao décimo filme, do qual sou réu confesso quanto à admiração pelo autor, um dos maiores criadores do gênero fantasia de todos os tempos: John Ronald Reuel Tolkien. Escritor, professor e filólogo, Tolkien entregou ao universo da ficção uma obra-prima: “O Senhor dos Anéis”. A trilogia foi trabalhada no cinema nas locações formidáveis da Nova Zelândia, desde 2001, tendo faturado mais de 3 bilhões de dólares. Mas, em especial, o terceiro filme da trilogia: “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, fez o que parecia improvável a muitas trilogias – ampliou a qualidade artística. Fechando com notório brilhantismo a trilogia, “O Retorno do Rei” conquistou 11 Oscars e proporcionou uma das mais fantásticas cenas de ação da história do cinema, com a guerra final constante da trama. Perder o fôlego é um sintoma possível a quem assiste ao derradeiro filme adaptado da obra de Tolkien.

Tenho a certeza, prezados leitores, de que muitos filmes deveriam estar em uma lista como esta. O espaço, no entanto, permanece aberto e nossas impressões podem e devem mudar ao longo dos anos, pois somos sempre um eterno vir a ser, como diria Jean-Paul Sartre.

Encerro com as sábias palavras de Raul Seixas: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.