Quinta-feira, 19 de Setembro de 2024

Coluna Draft: ‘Qual a origem do seu sobrenome?’, por Edgar Talevi

2024-09-11 às 10:24

De onde viemos? Para onde iremos? Perguntas que nos inquietam e suscitam teorias diversas que fomentam a especulação filosófica e existencial do ser humano. Entretanto, uma coisa é certa: todos carregamos por escrito muito de nossas origens. Talvez não tão filosóficas, mas certamente um registro formidável de nossos antepassados.

No cabedal de sobrenomes constantes de nosso país, um dos mais conhecidos é “Oliveira”. Pois bem, há várias origens prováveis para ele. No entanto, a questão geográfica, que faz referência à árvore da azeitona, é plenamente plausível. Esse é o terceiro sobrenome mais comum do Brasil.

Outro sobrenome muito usual no Brasil é “Rodrigues”. Ele ocupa a quinta posição dos mais usados em nosso território geográfico e significa, literalmente, “Filho de Rodrigo”. Isso se deve ao sufixo “es”. A origem, não obstante, é espanhola, tendo o “ez” no final do sobrenome muito frequentemente usado em países de colonização espanhola.

Sigamos nossa jornada histórica pelo sobrenome “Pereira”. Ocupando a oitava posição entre os mais comuns no Brasil, Pereira remonta ao português Rodrigo Gonçalves de Pereira, que prestou serviços a dom Henrique de Borgonha e recebeu como pagamento as propriedades de Palmeira e Pereira.

“Rocha”, por sua vez, aparece em vigésimo segundo no ranking dos mais comuns do Brasil. Sem ter uma origem documentada, é provável que ele tenha vindo de Monseur de la Roche, um francês que migrou para Portugal, por volta de 1248. Mas há quem considere que a origem remonta a pessoas que nasceram em locais rochosos, possuindo, neste caso, uma raiz geográfica.

E quem tem por sobrenome “Ribeiro”, encontrará na língua latina sua origem. A palavra é oriunda do latim “ripariu”, que significa “rio pequeno”. O sobrenome Ribeiro aparece no registro de Dom Ramiro, último regente do reino de Leão, sendo um dos primeiros a adotar o sobrenome Ribeiro em Portugal.

Não nos esqueçamos de outro famoso sobrenome no Brasil, a saber, “Ramos”. Dentre algumas teorias, a de maior consenso é que o sobrenome possua origem religiosa, como referência ao Domingo de Ramos, data em que se celebra o dia em que Jesus entrou em Jerusalém.

De igual modo, o sobrenome “Reis” é facilmente encontrado no Brasil. Sua origem é portuguesa e expressa a devoção religiosa do povo cristão. Existem em Portugal e no Brasil famílias “dos Santos Reis”. Mas, escrito isoladamente, “Reis” é o quadragésimo sobrenome mais comum do Brasil e muito encontrado no Rio de Janeiro.

No mar alto dos sobrenomes usados no Brasil, haverá sempre uma história que nos liga a curiosidades, sejam geográficas, religiosas ou históricas. Somos todos filhos de uma humanidade que desenvolve sua identidade a partir da linguagem, e isso nos leva a eternizar nossa efêmera passagem por aqui.

Chamo à baila o pensamento de um dos maiores linguistas de todos os tempos, Ferdinand de Saussure: “Sem a linguagem, o pensamento é uma nebulosa vaga, inexplorada”.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.