Sábado, 20 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Sai Moro, entra Patati Patatá!’, por Edgar Talevi

2022-04-04 às 10:51

O sonho de Sérgio acabou! Moro não morará no Alvorada, tampouco despachará no Planalto! Ao menos é o que garante nota assinada por Bivar, ACM Neto e Rueda, lideranças do União Brasil, novo partido a que se filiou o ex-juiz e, agora, ex-presidenciável Sérgio Moro, no último 31 de março.

Fora da disputa no tabuleiro eleitoral majoritário nacional deste ano, Sérgio Moro poderá até disputar vaga na Câmara dos Deputados, se quiser, mas dificilmente construirá base partidária para uma continuidade na Terceira Via à Presidência da República.

Segundo nota da alta cúpula do União Brasil, Moro terá como objetivo a construção de um projeto político-partidário no Estado de São Paulo. Isso arrefece temporariamente os entusiastas da candidatura do ex-juiz ao Planalto.

A semana final de março agitou os bastidores da política nacional, principalmente no respeitante aos prováveis postulantes ao Planalto. Doria, vencedor das prévias tucanas, ameaçou, em clara bravata, desistir da disputa à Presidência da República. Nada que durasse muito tempo. Talvez por medo da inquietação causada pelo suposto contragolpe emanado por Eduardo Leite, perdedor das prévias do mesmo ninho tucano, que renunciou ao mandato de governador do RS para disputar algo diferente/maior em sua trajetória política.

Agora, uma desfiliação/filiação de última hora de Sérgio Moro desmonta vários cenários postos na estrutura da tão movimentada Terceira Via. Permanece em pé o insistente, resiliente ou teimoso Ciro Gomes (PDT), que não abandona o barco, por enquanto.

Mas, e quanto às reais chances da Terceira Via? Terá mais ou menos força com um candidato a menos na disputa? Esta questão, além de procurar resposta a si mesma, levanta outra polêmica: qual nome terá o apoio de Moro na eleição deste ano?

Com o esfacelamento da hipotética ex-candidatura de Moro, sobram votos em potencial para que Doria assuma a posição da Direita no enfrentamento à polarização Lula-Bolsonaro. Se conseguir construir uma imagem fortalecida junto ao eleitorado que planeja evitar o maniqueísmo posto por dois extremos, Doria precisa mostrar-se viável e crescer nas próximas pesquisas de intenção de voto, com plano de construir um governo popular e menos elitista, em que os mais vulneráveis enxerguem uma possibilidade de saírem da invisibilidade social e terem acesso à comida de qualidade, mais barata e a crédito com juros reduzidos, políticas bem-sucedidas que permitiram o crescimento de uma nova classe média no Brasil.

Moro, neste ínterim, perde o timing do debate político em um momento em que a política retorna ao centro do espectro. Dificilmente o país retrocederá ao ponto em que a antipolítica dominou o cenário, como em 2018, pois os agentes políticos de carreira experimentaram seu próprio veneno e, certamente, não reproduzirão novas oportunidades de janelas de aventuras para outsiders em um futuro próximo.

Entrementes, também não é possível vislumbrar qual candidato teria maior propensão de conquistar apoio de Sérgio Moro já no primeiro turno, ou quais posicionamentos fariam com que este se manifestasse a favor de alguém. De igual modo, é assaz oportuno entender que Moro não contagia um eleitorado mais militante, nem empolga nas atuais pesquisas de intenção de voto. Crer em seu apoio como alavanca eleitoral seria uma aposta em um voo com asas curtas.

Não obstante, em se consolidando o cenário das pesquisas mais recentes, o voto útil poderá ser o caminho de milhões de brasileiros que queiram fugir da Esquerda ou Direita, ou, simplesmente, não acreditam na viabilidade da Terceira Via. Seria o pragmático pensamento de “não perder o voto” um instrumento usado por muitos, infelizmente, mas que tem potencial de embaralhar alguns nichos eleitorais.

Decidir de antemão por Lula ou Bolsonaro, na perspectiva de que ambos estarão garantidos no segundo turno, poderá tornar a eleição presidencial deste ano em um plebiscito, com características da política do “eles contra nós”, que divide e acirra os ânimos no eleitorado nacional.

Mas, se algo se pode conceber das movimentações pluripartidárias dos últimos dias é que a pista da Terceira Via permanece longe de estar pavimentada. Muita água vai rolar por baixo e, com poder de erosão, por cima desta ponte.

Sobra aos abandonados, a exemplo do PODEMOS, ex-partido de Moro, o anúncio feito por sua Presidente Nacional, Renata Abreu, na sexta-feira 01/04, a respeito da filiação do célebre empresário Rinaldi Faria, criador e dono dos personagens infantis Patati Patatá. Quem sabe a força da ficção seja pertinente a um mundo ávido por certezas que, de tão técnicas e insensíveis, tornam-se intangíveis aos eleitores do mundo real.

Valha-nos Voltaire, em seus ensinamentos sempre oportunos: “A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano”.

as opiniões expressadas por nossos colunistas não refletem, necessariamente,
o posicionamento do portal D’Ponta News.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.