“Sem Tolerância para os intolerantes!”
Mamãe, falei besteira! Não, não é uma frase vinda de uma criança, mas caberia muito bem na fala de um parlamentar, mais especificamente o Deputado Estadual de São Paulo, Arthur do Val (PODEMOS).
Segundo áudios que circulam nas redes sociais desde sexta-feira (04) e teriam sido enviados para integrantes do MBL, existem declarações machistas e misóginas, em que o suposto protagonista seria o supracitado parlamentar. Os aúdios revelam, em determinados trechos, as seguintes falas: “São fáceis (Ucranianas), porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’. É inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’ em São Paulo você dá bom dia e ela ia cuspir na sua cara e aqui são super simpáticas”.
Tais declarações, atribuídas ao Deputado Estadual Arthur do Val, teriam sido feitas durante uma viagem à Ucrânia a fim de enviar doações para refugiados Ucranianos após a invasão Russa ao país.
Consequência da repercussão dos áudios é a representação de 15 Deputados Estaduais contra “Mamãe Falei”, protocolada na ALESP, no domingo (06). No documento há o pedido de perda do mandato do parlamentar por quebra do decoro parlamentar.
Episódios como esse, em que o mundo assiste, perplexo, a uma guerra incauta e insana contra um povo, uma cultura e uma nação fomenta ainda mais os discursos de ódio presentes na sociedade e o sentimento de ranço à política. Lembremos de que o Movimento ao qual Arthur do Val fez parte, o MBL (Movimento Brasil Livre), teve destaque na organização das passeatas pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2015-2016.
Por ocasião do surgimento das movimentações de organizações político-funcionais antipetistas, que lideravam discursos de Direita, vários líderes se erigiram aos parlamentos Municipais, Estaduais e Federal. O apoio ao Presidente Bolsonaro floresceu naturalmente nas eleições Federais passadas. Hoje, no entanto, com o rompimento do MBL com Bolsonaro e apoio ao presidenciável Sérgio Moro, uma nova perspectiva se percebe no horizonte: a falta de perspectiva.
Um movimento que não liberta o Brasil das velhas tralhas da misoginia e sexismo – ao nos pautarmos pela fala de “Mamão Falei” -, mas que vê, além disso, outra liderança de seu nicho, o Deputado Federal Kim Kataguiri, sendo severamente criticado por falas que causaram estranheza na comunidade judaica, inclina-se a uma crise de identidade. Afinal, a militância do MBL é de Direita ou extrema-direita? Trata-se de um movimento partidarista ou socialmente organizado em que seus membros têm total liberdade de crítica e voz. Aliás, à qual voz é dada razão frente a tantas polêmicas?
Perguntemos ainda: O Movimento é para um Brasil livre? Se for, por que apoiou Jair Bolsonaro, que cedeu homenagem ao conhecido “Ustra”, famoso por métodos de inquisição não convencionais? E, agora, ao apoiar Moro, teria condições de impetrar orientação política ao deparar com tantos acintes à democracia e à retórica do politicamente correto, fruto de membros de seu estafe?
Notemos que a propaganda partidária e política de 2022 está longe de possuir o mesmo enredo de 2015. A pauta é outra. A agenda prioritária é diversa e plural. O ex-apoiado, atual Presidente Bolsonaro, não perfez o perfil engendrado pelo MBL. Pelo contrário, assumiu postura do “politicamente incomum”.
Tenho a certeza de que a seara para o renascimento de qualquer movimento está aberta, pois democrática e plural, mas jamais deveremos aceitar, ou simplesmente tolerar os intolerantes.
Investigue-se, permitindo o direito ao contraditório e à ampla defesa, mas que se puna, se culpado for, quem atentar contra a honradez de uma pessoa e de um povo. Que o lugar de fala de cada indivíduo, como diria a exímia filósofa Djamila Ribeiro, seja respeitado. Isso aqui, no Brasil, ou em qualquer viagem “humanitária”, em que se desrespeite os Direitos Humanos.
Para registro: A Deputada Federal Renata Abreu, Presidente do PODEMOS, classificou o episódio envolvendo o Deputado Estadual Arthur do Val como “Lamentável e inaceitável”.
Destarte, iniciando “este novo parágrafo”, pela surpreendente revelação que ele nos traz, o Presidente Jair Messias Bolsonaro, comumente associado a polêmicos discursos nada convencionais, chamou a fala de “Mamãe Falei” de “Asquerosa”. Vejamos, portanto, a força e robustez com que os áudios reverberam pelo Brasil.
Os tempos, de fato, são difíceis e inóspitos, mas a dignidade da pessoa humana é inegociável. Jamais aceitemos a expressão “mi-mi-mi” como desculpa para arroubos de retórica. A dor de quem sofre deve ser respeitada e a ética do outro levada a sério.
Entrementes, tenhamos a firme convicção de que não somos nada em nós mesmos se não estivermos em construção pelo outro. A solidariedade do conhecimento e da moldura de cada indivíduo é fruto da responsabilidade coletiva e da ética nas relações interpessoais. Deste modo, o respeito à dignidade está baseado na fala e na práxis, em que a partilha de nossos ideais se fazem presentes.
Cito, como epílogo, uma célebre frase de Franz Kafka: “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”.