Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Coluna Draft: ‘The Best: Guns N’ Roses!’, por Edgar Talevi

2022-05-11 às 11:02

“Welcome to the Jungle” – Bem-vindo à Selva é uma metáfora vanguardista do obscurantismo político e social dos tempos atuais. Lançada no álbum “Appetite for Destruction”, de 1987, a canção empodera sentimentos e situações inusitadas que movimentam Rock e Hard Rock, com tom e refrão melódicos, riff´s marcantes e um tom de agressividade, como crítica artístico-musical.

Relatando a dificuldade de viver em uma grande metrópole, a viagem pela “Selva”, proposta pela música, reflete o individualismo e chega a usar a expressão “cada um por si”, como análise de como é/seria/será sobreviver. Além disso, capitalismo exacerbado e exaltação ao dinheiro dão a tônica à divertida trajetória musical da letra.

Guns N’ Roses, uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos, americana, de Los Angeles, mas democrática e mundialmente aceita, nasceu aos 1986, com Axl rose, Slash, Izzy Stradlin, Duff Mckagan e Steven Adler. Seu álbum de estreia alcançou o número 1 na Billboard 200, um ano após seu lançamento, com o poder de seus melhores singles, tais como “Paradise City” e “Sweet Child o’ Mine”.

Não satisfeita com o sucesso de singles que encantaram gerações e excederam todos os limites de sucesso, em seu sexto álbum, “Chinese Democracy”, a banda perscrutou a crítica social e política condizente com um movimento de Rock industrializado, sem perder a dialética de seu estilo, não obstante, mesclando arte, Rock e categorização estética como modelo de desenvolvimento mais intelectualizado que “lembra” o psicodélico “Pink Floyd”, com as devidas proporções técnicas musicais e extemporâneas.

A arte da capa do álbum é uma fotografia sépia de uma bicicleta com uma grande cesta de vime apoiada contra uma parede. Três estrelas comunistas vermelhas estão acima das letras “GNR”, na lateral, com o nome da banda e o título do álbum. Nada mais sugestivo, “agressivo” artisticamente falando, e naturalmente composto para persuadir, promover e, quem sabe, dissimular a fim de tornar palatável uma desfibrilamento musical no gigante asiático.

Destarte, “Chinese” não foi o único intento mais politizado da coletânea da banda de Axl e sua Guns N’ Roses. “Use Your Illusion” promoveu frenesi, e foi lançado em duas versões simultâneas, em 1991, com a força imposta pelas letras extravagantes.

O trabalho foi lançado à meia-noite, abrindo a madrugada com altas vendagens, principalmente pelo público jovem. Quem poderia subsistir à melodia de “November Rain?” Quem nunca imaginou a cena de uma balada épica, de um romance às avessas e tornado real, talvez utópico, mas fortemente ligado à alma mais sonhática de todas com o solo de Slash? A música já encanta aos primeiros toques no piano produzidos por Axl.

Não chore! Trata-se de um imperativo e indica uma desordem, e “Don’t Cry” evidencia isso com uma destreza imorredoura na sonorização quase simbolista de suas notas nostálgicas.

Se é certo que hoje a humanidade não vive no paraíso, não é por falta de tentativas de acerto. Assim nos diz a letra da música “Paradise City”, em um pedido iminente de socorro, suplicando pelo paraíso, pela grama verde, pelos amores, pelo lar. Haveria esse lugar aqui, nesta Terra? A música nos deixou esse legado e permite uma viagem pela imaginação.

Com a robustez ácida da criticidade contra as vicissitudes da vida contemporânea, “Mr. Brownstone” apresenta a falta de empatia pela vida e pelo tempo. Seria uma perda de tempo ou a falta deste? Só um pouco de Paciência, pediu Axl e sua Guns N’ Roses, em “Patience”. Diz a letra que lágrima fora derramada. Um roqueiro a sentir trêmulos suspiros poéticos? Condiz sim com a aura escatológica de Axl e sua Guns, desde que esta assume o posto de visionária na ênfase do lirismo dentro do Rock, Hard Rock e tantas etiquetas quantas ousarmos atribuirmos a ela.

A letra de “Patience” segue declamando que “você acalmou minha mente, não há dúvida, você está em meu coração”. Isso desperta um mundo em que a horizontalidade musical vai além de classificações genéricas, desvirtuadas, desvairadas que “posers” procuram para mesclar desentendimentos com preferências pessoais. “Guns” vive em eterno dilema com a alma do humano, e esta, em eterno enlace com “Roses”

Sem ter planos e esquemas, apenas viver a vida. Esta é a mensagem que passa a letra de “Since I Don’t Have You” – Desde que não tenha você! Segue a linha da razão/emoção/metáfora/vida/nostalgia/arte (…) “E não tenho desejos amorosos, e não tenho horas felizes, eu não tenho nada, desde que não tenho você!

Temo pelo dia em que a poética do espaço da música for tomada por arroubos rítmicos insofismáveis e superficiais, verticalmente erigidos pela insígnia de um falso protesto de classe em que arte se mistura a nenhuma razão, sem nenhuma técnica, sem nenhum paladar estético. Mas, até que isso chegue ao derradeiro cenário apocalíptico, ouçamos, em alta sonorização: “SINCE I HAVE YOU, GUNS N’ ROSES!”

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.