Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Vá Tomar Banho!’, por Edgar Talevi

2022-04-06 às 10:51

Não, prezados leitores, não é aos senhores a quem envio um recado. Fidedignamente ao texto e contexto asseguro que nem se trata de mensagem alguma a não ser uma conhecida expressão popular que, de tão usada, sequer imaginamos sua origem. Sendo assim, vamos a ela!

O sentido mais usual é o imperativo de se parar de incomodar, ir embora, deixar de ser inoportuno. E tudo isso vem da Inglaterra. Pronunciada como ofensa no Brasil, pode estar vinculada à higiene como virtude. Lembremos de que, na concepção popular, “sujo” é um dos nomes do “diabo”. Deste modo, pecados devem ser vistos como sujeira.

Se ousarmos aprofundar na história, o banho já fora considerado deveras importante há muito tempo, remontando à época do Rei Inglês Henrique IV (1367-1413), que criou a Ordem do Banho. Mas, se alguém nos mandar “tomar banho”, podemos nos defender com outra famosa expressão do senso comum: “Vá plantar Batatas!” O significado da frase se assemelha ao da lavagem que retira nossas sujidades, porém é de origem diferente, a saber, Portugal.

Em Portugal, país outrora em tempos de colonizadores, voltado às navegações e à pesca, a agricultura, conquanto menos “espetacular” em relação às expedições marítimas, era menos prestigiada pela população em geral.

Algumas culturas, em especial a da batata, sofria ainda mais com o desdém. Sendo assim, a frase crava uma espécie de xingamento. No entanto, como tudo sofre reviravoltas nesta vida, segundo o poeta, folclorista e político lusitano Teófilo Braga (1843-1924), em sua obra “O povo Português”, com a decadência das pequenas indústrias, que levou muitos trabalhadores a ficarem desempregados, de repente, estes foram aconselhados a plantar batatas.

Em se falando de desemprego, nossa frágil economia, sôfrega pela catástrofe da COVID-19, tem deixado muita gente “Com as Barbas de molho”. Opa! Mais uma para nossa coleção de achados populares!
Deixar as Barbas de molho remete-nos à Europa, em que o significado mais provável é o de precaver-se contra um perigo ou, simplesmente, acautelar-se.

Na antiguidade, a barba representava honra e poder. Caso alguém tivesse sua barba cortada por outra pessoa, seria um ato de extrema humilhação. Um provérbio espanhol diz que “quando você vir as barbas de seu vizinho pegar fogo, ponha as suas de molho”. Simples assim!

Não poderíamos encerrar esta crônica sem uma famosa e muito usada frase em nosso dia a dia. E ela é extremamente comum no mundo futebolístico. Ao menos para quem aprecia um jogo com características técnicas desiguais entre os times: “Deu Zebra!”

O sentido é de fácil entendimento: dar resultado anormal, inesperado. A origem é bem brasileira também. Durante os 44 anos em que trabalhou como técnico de futebol, Gentil Cardoso (1906-1970) inventou a expressão deste parágrafo. Mas, seu uso teve início em 1964, antes de uma partida da Portuguesa do RJ. O técnico Gentil, por sua vez, disse: “Acho que vai dar Zebra!” A inspiração, segundo relatos, surgiu pelo fato de que no jogo do bicho não existe o animal Zebra, portanto o resultado seria impossível.

Dito e feito! A Portuguesa venceu a partida histórica por 2 a 1 e ajudou a cristalizar na mente de todos nós a famosa frase.

Fiquemos com a ousada e criativa frase, inventiva e nada comum, de Carlos Eduardo Balcarse: “O Senso Comum, Comumente Mente!”

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.